{"title":"Textos e Debates n°25","authors":"Revista Completa","doi":"10.18227/2217-1448TED.V2I24.3454","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Esta coletânea de textos, agrupados na forma de Dossiê Ditadura Militar e Amazônia, tem o propósito de contribuir para ampliar o conhecimento acerca das ações e dos impactos da Ditadura civil militar no Brasil, com foco na região Amazônica. Num contexto de cinquenta anos do início desse processo, nosso entendimento é que lançar luzes sobre esses tempos sombrios e tenebrosos é fundamental para a criação de uma consciência social que possa se constituir numa resistência tenaz a toda e qualquer forma de cerceamento da liberdade, não apenas no Brasil, mas no mundo. \nOs textos aqui apresentados resultam da produção teórica de pesquisadores de diversas partes do país. Refletem, assim, estudos feitos sob diferentes óticas a respeito do regime militar no Brasil. Decerto que buscamos dar ênfase na discussão, que ainda carece de aprofundamento, da ditadura militar na Amazônia. E com essa intenção contamos aqui com a valiosa contribuição de pesquisadores como Jaci Vieira, Karl Arenz, Manuela Cordeiro, Elisangela Martins, Rodrigo Chagas, Manoel Lobo, Nélvio Santos e Patrícia Mechi. \nAmpliando o debate para além da Amazônia temos artigos que retratam a relação e impactos da ditadura militar na arte, na mídia e na militância política de esquerda. Com efeito, os artigos de Fabio Ribeiro, Carla de Monteiro Souza e Cesar Figueiredo são importantes contribuições para entender as temáticas acima referidas. \nNum primeiro bloco de artigos, que retratam a presença e as ações dos militares na Amazônia, Jaci Vieira e Karl Arenz, ao analisarem o período de ditadura militar e as políticas econômicas para a região, mostram a violência praticada contra as populações indígenas, particularmente no estado de Roraima, e o envolvimento da Igreja Católica com os povos indígenas na luta pela demarcação de suas terras. \nA professora Elisangela Martins, por sua vez, analisa matérias do jornal Boa Vista, mostrando que o modo de abordar determinadas notícias teve impacto na constituição de uma memória sobre a ditadura civil militar em Roraima. \nAinda no contexto de Roraima, Manoel Lobo traz uma reflexão sobre o processo de formação e organização dos grupos políticos do estado no período entre 1943 e o final da década de 1980, com a transformação do território em estado. Apresenta-nos um cenário em que, no contexto em que os grupos construíram suas bases de sustentação, o clientelismo foi reforçado por elementos como nepotismo, corrupção e impunidade. \nA professora Manuela Cordeiro nos apresenta importante estudo sobre projetos de assentamentos dirigidos, criados durante o governo militar na região Amazônica. Negando a ideia de “vazio demográfico” propagada pelo governo, e apresentando as formas especificas de organização do espaço, mostra o papel do Estado traçando diretrizes não apenas no processo de ocupação, mas também na forma de organização dos projetos de assentamento. \nRodrigo Chagas nos ajuda a compreender as articulações históricas entre o projeto de Brasil da ditadura militar e a região amazônica. Para isso faz importante revisão bibliográfica dos estudos do sociólogo Otávio Ianni sobre a ditadura militar e o processo de “desenvolvimento capitalista” na região amazônica. \nNélvio Santos estuda as relações entre o regime militar brasileiro, a Escola Superior de Guerra e a geopolítica na Amazônia. Para o autor, as medidas adotadas pelo regime militar brasileiro na Amazônia tem origem nas teorias geopolíticas centradas nos pensadores da Escola Superior de Guerra. \nJá saindo da Amazônia, mas em seu entorno, Patrícia Mechi trata da repressão e da resistência camponesa à ditadura civil militar na região do Tocantins no contexto da pavimentação da rodovia Belém – Brasília e da construção da ponte sobre o rio Tocantins. Para a autora, tais políticas podem ser denominadas de “modernização excludente” e foram empreendidas gerando diversos conflitos na região de Porto Nacional e seu entorno, com amplo favorecimento dos latifundiários. \nNum segundo bloco de artigos, contamos com a contribuição de pesquisadores que nos apresentam elementos para pensar a arte, a mídia e a militância de esquerda no contexto de regime militar. \nAssim, Fabio Ribeiro nos apresenta o artista plástico Gontran Guanaes Netto e a forma como o exílio imposto pela ditadura impactou sua arte. No exílio, o artista buscou produzir uma arte desvinculada dos interesses mercadológicos, projetando-a como instrumento de luta política. \nAinda falando em instrumento de luta política, César Figueiredo discute o papel do Partido Comunista Brasileiro – PCB – na luta pela redemocratização do Brasil. Reflete como a clandestinidade, imposta pela ditadura militar ao Partido, significou o aumento da fragilidade e, consequentemente a baixa expressividade política do Partido ao fim da ditadura. \nNo contraponto das lutas dos partidos de esquerda encontramos a ação da mídia no país, fortalecendo o regime militar e manipulando a opinião pública. Assim, o artigo de Carla de Souza discute e nos faz refletir sobre a relação entre a mídia e a ditadura. Em seu artigo, a pesquisadora enfatiza o papel da televisão, com foco no Programa Amaral Neto, o repórter, exibido pela TV Globo entre 1968 e 1983. \nO presente Dossiê representa, por fim, um esforço da Revista Textos & Debates, junto com os pesquisadores acima nomeados, em apresentar as muitas questões que envolvem a ditadura militar no Brasil, e tem o sentido claro de tornar público os muitos problemas e conflitos, bem como as muitas dores motivadas por perseguições, torturas e assassinatos ao longo dos vinte anos de regime ditatorial em nosso país.","PeriodicalId":344650,"journal":{"name":"Textos e Debates","volume":"7 12","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2016-04-28","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Textos e Debates","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.18227/2217-1448TED.V2I24.3454","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
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Abstract
Esta coletânea de textos, agrupados na forma de Dossiê Ditadura Militar e Amazônia, tem o propósito de contribuir para ampliar o conhecimento acerca das ações e dos impactos da Ditadura civil militar no Brasil, com foco na região Amazônica. Num contexto de cinquenta anos do início desse processo, nosso entendimento é que lançar luzes sobre esses tempos sombrios e tenebrosos é fundamental para a criação de uma consciência social que possa se constituir numa resistência tenaz a toda e qualquer forma de cerceamento da liberdade, não apenas no Brasil, mas no mundo.
Os textos aqui apresentados resultam da produção teórica de pesquisadores de diversas partes do país. Refletem, assim, estudos feitos sob diferentes óticas a respeito do regime militar no Brasil. Decerto que buscamos dar ênfase na discussão, que ainda carece de aprofundamento, da ditadura militar na Amazônia. E com essa intenção contamos aqui com a valiosa contribuição de pesquisadores como Jaci Vieira, Karl Arenz, Manuela Cordeiro, Elisangela Martins, Rodrigo Chagas, Manoel Lobo, Nélvio Santos e Patrícia Mechi.
Ampliando o debate para além da Amazônia temos artigos que retratam a relação e impactos da ditadura militar na arte, na mídia e na militância política de esquerda. Com efeito, os artigos de Fabio Ribeiro, Carla de Monteiro Souza e Cesar Figueiredo são importantes contribuições para entender as temáticas acima referidas.
Num primeiro bloco de artigos, que retratam a presença e as ações dos militares na Amazônia, Jaci Vieira e Karl Arenz, ao analisarem o período de ditadura militar e as políticas econômicas para a região, mostram a violência praticada contra as populações indígenas, particularmente no estado de Roraima, e o envolvimento da Igreja Católica com os povos indígenas na luta pela demarcação de suas terras.
A professora Elisangela Martins, por sua vez, analisa matérias do jornal Boa Vista, mostrando que o modo de abordar determinadas notícias teve impacto na constituição de uma memória sobre a ditadura civil militar em Roraima.
Ainda no contexto de Roraima, Manoel Lobo traz uma reflexão sobre o processo de formação e organização dos grupos políticos do estado no período entre 1943 e o final da década de 1980, com a transformação do território em estado. Apresenta-nos um cenário em que, no contexto em que os grupos construíram suas bases de sustentação, o clientelismo foi reforçado por elementos como nepotismo, corrupção e impunidade.
A professora Manuela Cordeiro nos apresenta importante estudo sobre projetos de assentamentos dirigidos, criados durante o governo militar na região Amazônica. Negando a ideia de “vazio demográfico” propagada pelo governo, e apresentando as formas especificas de organização do espaço, mostra o papel do Estado traçando diretrizes não apenas no processo de ocupação, mas também na forma de organização dos projetos de assentamento.
Rodrigo Chagas nos ajuda a compreender as articulações históricas entre o projeto de Brasil da ditadura militar e a região amazônica. Para isso faz importante revisão bibliográfica dos estudos do sociólogo Otávio Ianni sobre a ditadura militar e o processo de “desenvolvimento capitalista” na região amazônica.
Nélvio Santos estuda as relações entre o regime militar brasileiro, a Escola Superior de Guerra e a geopolítica na Amazônia. Para o autor, as medidas adotadas pelo regime militar brasileiro na Amazônia tem origem nas teorias geopolíticas centradas nos pensadores da Escola Superior de Guerra.
Já saindo da Amazônia, mas em seu entorno, Patrícia Mechi trata da repressão e da resistência camponesa à ditadura civil militar na região do Tocantins no contexto da pavimentação da rodovia Belém – Brasília e da construção da ponte sobre o rio Tocantins. Para a autora, tais políticas podem ser denominadas de “modernização excludente” e foram empreendidas gerando diversos conflitos na região de Porto Nacional e seu entorno, com amplo favorecimento dos latifundiários.
Num segundo bloco de artigos, contamos com a contribuição de pesquisadores que nos apresentam elementos para pensar a arte, a mídia e a militância de esquerda no contexto de regime militar.
Assim, Fabio Ribeiro nos apresenta o artista plástico Gontran Guanaes Netto e a forma como o exílio imposto pela ditadura impactou sua arte. No exílio, o artista buscou produzir uma arte desvinculada dos interesses mercadológicos, projetando-a como instrumento de luta política.
Ainda falando em instrumento de luta política, César Figueiredo discute o papel do Partido Comunista Brasileiro – PCB – na luta pela redemocratização do Brasil. Reflete como a clandestinidade, imposta pela ditadura militar ao Partido, significou o aumento da fragilidade e, consequentemente a baixa expressividade política do Partido ao fim da ditadura.
No contraponto das lutas dos partidos de esquerda encontramos a ação da mídia no país, fortalecendo o regime militar e manipulando a opinião pública. Assim, o artigo de Carla de Souza discute e nos faz refletir sobre a relação entre a mídia e a ditadura. Em seu artigo, a pesquisadora enfatiza o papel da televisão, com foco no Programa Amaral Neto, o repórter, exibido pela TV Globo entre 1968 e 1983.
O presente Dossiê representa, por fim, um esforço da Revista Textos & Debates, junto com os pesquisadores acima nomeados, em apresentar as muitas questões que envolvem a ditadura militar no Brasil, e tem o sentido claro de tornar público os muitos problemas e conflitos, bem como as muitas dores motivadas por perseguições, torturas e assassinatos ao longo dos vinte anos de regime ditatorial em nosso país.