Envelhecimento da Força Laboral e Declínio Cognitivo: o que podem os serviços de Saúde Ocupacional fazer? Proposta de Rastreio

Diana Costa
{"title":"Envelhecimento da Força Laboral e Declínio Cognitivo: o que podem os serviços de Saúde Ocupacional fazer? Proposta de Rastreio","authors":"Diana Costa","doi":"10.31252/rpso.09.07.2022","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"INTRODUÇÃO A demência é uma síndrome, conhecidamente de natureza crónica e progressiva, causada por uma variedade de fatores que afetam a memória, pensamento, comportamento e a capacidade em realizar atividades quotidianas, sendo definida por sintomas como declínio da função cerebral devido a alterações físicas no cérebro, podendo condicionar funções corporais. Representa uma constelação de condições, umas mais modificáveis que outras, sendo a doença de Alzheimer (DA) a mais prevalente, com 50-70% dos casos(1). De acordo com a história natural da DA, à semelhança de outras, poderá evoluir de acordo com uma sequência de eventos, permitindo o diagnóstico precoce e/ou medidas para atenuar o problema(2, 3): Estadio Normal; Estadio Pré-Clínico (sem sinais/sintomas óbvios, mas passível de ser detetado com biomarcadores, embora continue em debate quais os mais adequados, incluindo neuroimagem)(4-6); Défice cognitivo ligeiro; Doença de Alzheimer (DA?). Estima-se, mundialmente, uma prevalência de 57 milhões de casos de demência (um novo caso a cada 3.2 segundos) e prevê-se que atinja os 153 milhões em 2050, em adultos com mais de 40 anos(7). Num estudo do JAMA, percebeu-se que no caso do espectro da DA, 18% dos adultos assintomáticos com 50 anos apresentavam já anormalidades de placas amiloides(8). Cerca de 10 a 20 % das pessoas com demências de início precoce ou declínio cognitivo leve têm menos de 65 anos(9). Estima-se também que 10 a 15% dos indivíduos com declínio cognitivo ligeiro avancem para demência a cada ano e que menos de um em cada cinco esteja familiarizado com a definição de declínio cognitivo, assumindo mais de 55% como um “sintoma normal do envelhecimento”(10). Em Portugal, a prevalência encontrada de declínio cognitivo é de 12.3% e de demência 2.7% entre os 55 e os 79 anos de idade(11). Segundo o Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, em Portugal a maioria dos casos deve-se a demência vascular (DV), provavelmente pela elevada prevalência de hipertensão arterial (HTA) e doença cardiovascular (DCV), fatores de risco modificáveis. Os resultados desse estudo mostram que cerca de 4.5% dos indivíduos com mais de 55 anos apresentam pelo menos défice cognitivo ligeiro(12). O comprometimento cognitivo é assim uma realidade que provavelmente se tornará cada vez mais comum à medida que a força de trabalho envelhece(13): considerando a tendência continuada para o envelhecimento da população em Portugal, o futuro poderá nortear-se num aumento progressivo nos casos. Embora o início precoce da DA seja raro, alterações cognitivas leves podem iniciar a partir dos 30 ou 40 anos. No entanto, podem existir muitas razões secundárias para declínio cognitivo para além da neurodegeneração, que devem ser abordadas para diagnóstico diferencial(11). Estas podem incluir ansiedade, stress, depressão, infeções, distúrbios na tiróide, défices nutricionais, efeitos colaterais de medicamentos, ou outras razões médicas(14), algumas sugestões no Quadro 1 (Anexo). Sintomas subtis incluem esquecimentos ou aumento de tempo necessário para processar novas informações. Na maioria dos casos, poucos superiores hierárquicos ou colegas de trabalho se apercebem, assumindo como características pessoais, cansaço ou envelhecimento. Com o tempo, no entanto, à medida que as alterações se aprofundam ou as condições médicas se desenvolvem, alguns trabalhadores podem apresentar alterações mais detetáveis: esquecer-se de reuniões agendadas, ter dificuldades com a solução de problemas ou não conseguir alternar entre tarefas, demonstrando inclusive maior agressividade e/ou frustração. Um declínio nas habilidades cognitivas pode ter consequências particularmente graves quando os trabalhadores desempenham funções que exigem protocolos de segurança ou de resposta rápida. Do mesmo modo, executivos que recebem responsabilidades na tomada de decisão podem revelar um fraco julgamento como resultado da capacidade reduzida, colocando a organização em risco (financeiro, e não só). Não existe uma definição aceite universalmente para trabalhadores mais velhos, no entanto, algumas organizações como a Comissão Europeia, o Eurostat e a Organização Internacional do Trabalho, caraterizam-nos como estando inseridos na categoria de idades entre os 55 e os 64 anos(15). Neste contexto, a assistência terá de envolver uma articulação a todos os níveis de cuidados de saúde, iniciando nos Serviços de Saúde Ocupacional, uma vez que são estes que possuem uma abordagem privilegiada de assistência ao Adulto (se esse for o paradigma adotado pelo empregador e pelos profissionais da Saúde Ocupacional), que passa a maior parte da sua vida no trabalho. Numa altura de “aging workforce”, de aumento da idade média da reforma, de aumento da esperança média de vida, estarão os Serviços de Saúde Ocupacional (SSO) preparados para detetar precocemente um declínio cognitivo? Os SSO desempenham um papel fundamental na implementação de melhores práticas para um ambiente de trabalho compatível com um envelhecimento saudável(16). De facto, devemos valorizar os trabalhadores mais velhos, uma vez que são um trunfo para as organizações: muitas vezes, possuem mais experiência, conhecimentos e competências do que os trabalhadores mais jovens; são frequentemente mais fiáveis e empenhados, e a sua taxa de rotatividade e de absentismo (a curto prazo) é muitas vezes inferior(13). As pesquisas mostram que existem múltiplos fatores de risco modificáveis ​​que influenciam a probabilidade de declínio cognitivo: significando que podemos moldar a Saúde à medida que envelhecemos e, como profissionais de saúde, devemos ser proactivos, detetando precocemente os motivos que levam a declínio, de forma a frená-lo.","PeriodicalId":114994,"journal":{"name":"Revista Portuguesa de Saúde Ocupacional","volume":"2011 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2022-12-31","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Revista Portuguesa de Saúde Ocupacional","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.31252/rpso.09.07.2022","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
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Abstract

INTRODUÇÃO A demência é uma síndrome, conhecidamente de natureza crónica e progressiva, causada por uma variedade de fatores que afetam a memória, pensamento, comportamento e a capacidade em realizar atividades quotidianas, sendo definida por sintomas como declínio da função cerebral devido a alterações físicas no cérebro, podendo condicionar funções corporais. Representa uma constelação de condições, umas mais modificáveis que outras, sendo a doença de Alzheimer (DA) a mais prevalente, com 50-70% dos casos(1). De acordo com a história natural da DA, à semelhança de outras, poderá evoluir de acordo com uma sequência de eventos, permitindo o diagnóstico precoce e/ou medidas para atenuar o problema(2, 3): Estadio Normal; Estadio Pré-Clínico (sem sinais/sintomas óbvios, mas passível de ser detetado com biomarcadores, embora continue em debate quais os mais adequados, incluindo neuroimagem)(4-6); Défice cognitivo ligeiro; Doença de Alzheimer (DA?). Estima-se, mundialmente, uma prevalência de 57 milhões de casos de demência (um novo caso a cada 3.2 segundos) e prevê-se que atinja os 153 milhões em 2050, em adultos com mais de 40 anos(7). Num estudo do JAMA, percebeu-se que no caso do espectro da DA, 18% dos adultos assintomáticos com 50 anos apresentavam já anormalidades de placas amiloides(8). Cerca de 10 a 20 % das pessoas com demências de início precoce ou declínio cognitivo leve têm menos de 65 anos(9). Estima-se também que 10 a 15% dos indivíduos com declínio cognitivo ligeiro avancem para demência a cada ano e que menos de um em cada cinco esteja familiarizado com a definição de declínio cognitivo, assumindo mais de 55% como um “sintoma normal do envelhecimento”(10). Em Portugal, a prevalência encontrada de declínio cognitivo é de 12.3% e de demência 2.7% entre os 55 e os 79 anos de idade(11). Segundo o Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, em Portugal a maioria dos casos deve-se a demência vascular (DV), provavelmente pela elevada prevalência de hipertensão arterial (HTA) e doença cardiovascular (DCV), fatores de risco modificáveis. Os resultados desse estudo mostram que cerca de 4.5% dos indivíduos com mais de 55 anos apresentam pelo menos défice cognitivo ligeiro(12). O comprometimento cognitivo é assim uma realidade que provavelmente se tornará cada vez mais comum à medida que a força de trabalho envelhece(13): considerando a tendência continuada para o envelhecimento da população em Portugal, o futuro poderá nortear-se num aumento progressivo nos casos. Embora o início precoce da DA seja raro, alterações cognitivas leves podem iniciar a partir dos 30 ou 40 anos. No entanto, podem existir muitas razões secundárias para declínio cognitivo para além da neurodegeneração, que devem ser abordadas para diagnóstico diferencial(11). Estas podem incluir ansiedade, stress, depressão, infeções, distúrbios na tiróide, défices nutricionais, efeitos colaterais de medicamentos, ou outras razões médicas(14), algumas sugestões no Quadro 1 (Anexo). Sintomas subtis incluem esquecimentos ou aumento de tempo necessário para processar novas informações. Na maioria dos casos, poucos superiores hierárquicos ou colegas de trabalho se apercebem, assumindo como características pessoais, cansaço ou envelhecimento. Com o tempo, no entanto, à medida que as alterações se aprofundam ou as condições médicas se desenvolvem, alguns trabalhadores podem apresentar alterações mais detetáveis: esquecer-se de reuniões agendadas, ter dificuldades com a solução de problemas ou não conseguir alternar entre tarefas, demonstrando inclusive maior agressividade e/ou frustração. Um declínio nas habilidades cognitivas pode ter consequências particularmente graves quando os trabalhadores desempenham funções que exigem protocolos de segurança ou de resposta rápida. Do mesmo modo, executivos que recebem responsabilidades na tomada de decisão podem revelar um fraco julgamento como resultado da capacidade reduzida, colocando a organização em risco (financeiro, e não só). Não existe uma definição aceite universalmente para trabalhadores mais velhos, no entanto, algumas organizações como a Comissão Europeia, o Eurostat e a Organização Internacional do Trabalho, caraterizam-nos como estando inseridos na categoria de idades entre os 55 e os 64 anos(15). Neste contexto, a assistência terá de envolver uma articulação a todos os níveis de cuidados de saúde, iniciando nos Serviços de Saúde Ocupacional, uma vez que são estes que possuem uma abordagem privilegiada de assistência ao Adulto (se esse for o paradigma adotado pelo empregador e pelos profissionais da Saúde Ocupacional), que passa a maior parte da sua vida no trabalho. Numa altura de “aging workforce”, de aumento da idade média da reforma, de aumento da esperança média de vida, estarão os Serviços de Saúde Ocupacional (SSO) preparados para detetar precocemente um declínio cognitivo? Os SSO desempenham um papel fundamental na implementação de melhores práticas para um ambiente de trabalho compatível com um envelhecimento saudável(16). De facto, devemos valorizar os trabalhadores mais velhos, uma vez que são um trunfo para as organizações: muitas vezes, possuem mais experiência, conhecimentos e competências do que os trabalhadores mais jovens; são frequentemente mais fiáveis e empenhados, e a sua taxa de rotatividade e de absentismo (a curto prazo) é muitas vezes inferior(13). As pesquisas mostram que existem múltiplos fatores de risco modificáveis ​​que influenciam a probabilidade de declínio cognitivo: significando que podemos moldar a Saúde à medida que envelhecemos e, como profissionais de saúde, devemos ser proactivos, detetando precocemente os motivos que levam a declínio, de forma a frená-lo.
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