Fernanda Aparecida dos Santos Carregari, José Eustáquio Romão
{"title":"LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação em educação","authors":"Fernanda Aparecida dos Santos Carregari, José Eustáquio Romão","doi":"10.5585/48.2024.25572","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Cipriano Luckesi é filósofo, professor aposentado, pesquisador e conferencista na área educacional. Com uma vasta experiência na docência e na pesquisa científica, o professor é conhecido como uma das maiores referências no campo da avaliação educacional no Brasil. Cipriano é autor de diversos livros, artigos e reportagens que abordam esta temática, que ele investiga sob variados focos, além de participar de múltiplos eventos pedagógicos sobre o tema, desde 1973.\nObteve o título de Doutor em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em 1992, apresentando uma carreira conceituada, que tem proporcionado impactos significativos no contexto educacional, influenciando práticas e discussões sobre ensino e avaliação da aprendizagem.\nFoi no curso de filosofia, em 1968, que Cipriano Luckesi teve seu primeiro contato com a temática da avaliação, ao cursar a disciplina curricular “Complementos Pedagógicos”, ministrada pelo padre Godeardo Baquera, na faculdade Nossa Senhora Medianeira, em São Paulo. O modo como o padre conduzia as aulas contagiava o interesse de todos os estudantes da turma, deixando uma marca profunda em Luckesi, que, no memorial dele, para a tese de doutorado, expressa profundo agradecimento pela rica imersão no tema em questão.\nEm 1972, ingressou no Instituto de Rádio Difusão Educativa da Bahia, desenvolvendo serviços técnicos especializados em avaliação, trabalhando diretamente com produção, quantificação e qualificação de testes, durante quatro anos. Devido às suas atribuições inerentes ao cargo, nesse período, começou a refletir, pesquisar e discutir sobre as questões filosóficas, políticas e sociológicas de avaliação. Somente em 1978, após 10 anos de muitos estudos e pesquisas sobre a temática, Luckesi publicou o seu primeiro artigo sobre avaliação, intitulado “Avaliação educacional: pressuposto conceituais”, na revista Tecnologia Educacional, que o tornou mais conhecido na área educacional e, mais especificamente, no campo de avaliação. \nEm 1984, o autor organizou e reuniu escritos de sua autoria, editando um material mais denso sobre a temática da educação superior, no livro intitulado Fazer universidade: uma proposta metodológica, que foi publicado pela Editora Cortez. Esta obra, progressivamente, passou a ser uma das referências para os estudiosos de metodologia do trabalho científico no território nacional. Cabe enfatizar que a ligação de Luckesi com a referida Editora foi sendo firmada ao longo de vários anos, consolidando a divulgação de seu pensamento, em obras mais focalizadas na avaliação educacional. \nCom mais de cento e quarenta trabalhos, o autor tem uma plataforma digital com conteúdo relacionado à avaliação educacional. O blog oferece, aos leitores, artigos e postagens em ordem cronológica, todas especificadas na aba direita da plataforma. Educadores ou interessados podem investigar sobre os temas preferidos do autor – Filosofia da Educação, Metodologia da pesquisa e Avaliação – mergulhando em títulos diversificados. Com mais de duzentas e noventa mil visualizações, o autor estabelece uma forte conexão com os leitores, criando uma comunidade em torno dos conteúdos compartilhados, tendo como premissas seus estudos e pesquisas sobre as temáticas mencionadas.\nO livro Avaliação em educação: questões epistemológicas e práticas (2018) busca auxiliar estudantes, professores e gestores a compreender o ato de avaliar, de modo a orientar as respectivas deliberações nos processos de tomada de decisão.\nCom uma linguagem acessível, o autor descreve avaliação, classificando concepções a respeito do tema, que visam corroborar a construção de uma prática avaliativa consciente, no âmbito educacional, de forma que ela seja identificada como aliada do professor no desenvolvimento dos processos de ensino de seus estudantes.\nPode-se constatar, a cada página da obra, a preocupação, na escrita do autor, em definir, com exatidão, o ato de avaliar no campo da educação. É importante ressaltar que a obra é fruto da celebração dos cinquenta anos de dedicação de Luckesi aos estudos acadêmicos, prioritariamente, voltados para essa temática, buscando conciliar os dois caminhos que sempre trilhou no campo da Filosofia e no da avaliação. Consegue, nesta e em outras obras, fazer uma síntese fundante das considerações ontológico-epistemológicas sobre o ato de avaliar.\nA obra é composta por duzentos e vinte páginas e dividida em nove capítulos, envolvendo o leitor em uma reflexão epistemológica profunda sobre a natureza da avaliação educacional e, histórico-sociologicamente, sobre sua função transformadora no processo de aprendizagem.\nO capítulo inicial trata, do ato de avaliar como ação inerente ao ser humano. Ele se desdobra em quatro subtítulos que configuram, detalhadamente, a temática, a partir de uma abordagem ontológico-epistemológica. Ao longo do capítulo é notório o cuidado e a responsabilidade filosófica com a descrição e a análise do ato de avaliar, destacando-se seu caráter investigativo, de modo a revelar a natureza objetiva e a historicidade do fenômeno avaliado.\nO autor embasa sua teoria descrevendo, minuciosa e insistentemente, a prática de investigação avaliativa, destacando os passos sequenciais que subsidiam a definição de avaliação educacional, bem como os procedimentos metodológicos necessários para garantir evidências confiáveis, distanciando-se do senso comum. Ademais, ressalta que, epistemologicamente, o ato de avaliar se encerra no momento mesmo da avaliação, ou seja, o ato de avaliar simplesmente revela a objetividade da realidade investigada, podendo, ou não subsidiar o processo de tomada de decisões do educador, ou do gestor, na área de educação. Segundo Luckesi, a maneira como ambos aplicarão os resultados da investigação mencionada, que não faz mais parte da avaliação, mas, da gestão, é que define os tipos de concepções:\nFato que conduz a estar epistemologicamente ciente de que o ato de avaliar, em si, como investigação da qualidade da realidade, se encerra com a “revelação de sua qualidade” ... o que implica que a “tomada de decisão” pertence ao âmbito da gestão da ação e não de sua avaliação (LUCKESI, 2018, p. 27).\nConcomitantemente, com explicação ontológico-epistemológica, Luckesi ressalta a importância e a responsabilidade do ato avaliativo; em suma, destaca as implicações éticas que, independentemente da modalidade de avaliação – institucional ou de aprendizagem individual –, é necessário que seja observada com cuidado rigoroso, a fim de não produzir conclusões errôneas e injustas, prejudicando todo o processo educacional.\nO autor identifica três abordagens que, segundo ele, vão além do ato de avaliar: a probatória, a diagnóstica, e a seletiva. Essas abordagens são, detalhadamente, expostas, uma a uma, permitindo maior compreensão por parte do leitor. Para Luckesi, as três, na verdade, são duas, porque a probatória pode se combinar, ora com a diagnóstica, ora com a seletiva. As duas resultantes são, de fato, as mais frequentes na educação brasileira. Ele explicita as diferenças entre elas, afirmando:\nOs usos conjugados dos resultados da investigação avaliativa – diagnóstico/probatório e probatório/seletivo –, de fato redundam em dois usos que podem simplesmente ser denominados de diagnóstico e seletivo. O uso diagnóstico subsidia chegar ao padrão de qualidade desejado e o uso seletivo, inclui os objetos, pessoas, experiências, projetos que atingiram a qualidade estabelecida como ponto de corte e exclui objetos, pessoas, experiências, projetos que não atingiram o referido padrão de qualidade estabelecido. (LUCKESI, 2018, p. 65).\nNa sequência, dedica o capítulo à reconstituição histórica dos processos da avaliação da aprendizagem no Brasil.\nPor ordem cronológica, o capítulo primeiro aponta as concepções de educação e seus respectivos modelos avaliativos. Parte das propostas dos jesuítas e de Jan Comênio, com suas respectivas obras, a Ratio Studiorum e a Didática Magna, enfatizando as influências sobre o uso seletivo na avaliação da aprendizagem, enraizado, historicamente, nas escolas brasileiras, chegando aos dias de hoje.\nApresenta os problemas de avaliação educacional de forma didática, por meio de exemplos, fazendo um paralelo entre os dois tipos de avaliação predominantes que ocorrem nos ambientes escolares, lamentando que, ainda hoje, as escolas brasileiras utilizam a seletiva:\nDessa data para cá (1970), vimos assumindo a nova denominação para as duas possibilidades de uso dos resultados da avaliação da aprendizagem dos estudantes na escola, podendo significar, aqui e acolá, “uso diagnóstico”, mas, de modo predominante, significando “uso seletivo”, modalidade que vem ganhando corpo e atravessando épocas históricas, do século XVI para cá (id., ibid., p. 83-84).\nA fim de sustentar a afirmação, relata que, mesmo o professor que utiliza notas e pautas de observações para orientar a avaliação da aprendizagem ao longo do ano, isso não é levado em conta quando, no final dos ciclos, suas notas são atribuídas por meio de médias obtidas do somatório de todos os testes, provas ou tarefas, desconsiderando os conhecimentos anteriores ou posteriores aos instantes da avaliação formal:\nO uso seletivo dos resultados da avaliação exige que o estudante revele seu desempenho em sua aprendizagem de modo pontual, ou seja, só valem os conhecimentos e habilidades revelados de modo positivo, aqui e agora, no momento em que os testes e tarefas são realizados, não valem nem antes e nem depois desse momento (id., ibid., p. 84-85).\nAcreditando na contribuição da educação como um diferencial no combate à exclusão social, Cipriano aponta a necessidade de as práticas avaliativas serem de natureza diagnóstica, apenas para subsidiarem os docentes no replanejamento pedagógico, garantindo que todos os alunos possam aprender e se desenvolver. Com base nessa perspectiva, o livro vai discorrendo sobre a avaliação sob a ótica diagnóstica e inclusiva, a fim de contribuir para a democratização social.","PeriodicalId":42058,"journal":{"name":"Dialogia","volume":null,"pages":null},"PeriodicalIF":0.1000,"publicationDate":"2024-04-10","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Dialogia","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.5585/48.2024.25572","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"Q4","JCRName":"EDUCATION & EDUCATIONAL RESEARCH","Score":null,"Total":0}
引用次数: 0
Abstract
Cipriano Luckesi é filósofo, professor aposentado, pesquisador e conferencista na área educacional. Com uma vasta experiência na docência e na pesquisa científica, o professor é conhecido como uma das maiores referências no campo da avaliação educacional no Brasil. Cipriano é autor de diversos livros, artigos e reportagens que abordam esta temática, que ele investiga sob variados focos, além de participar de múltiplos eventos pedagógicos sobre o tema, desde 1973.
Obteve o título de Doutor em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em 1992, apresentando uma carreira conceituada, que tem proporcionado impactos significativos no contexto educacional, influenciando práticas e discussões sobre ensino e avaliação da aprendizagem.
Foi no curso de filosofia, em 1968, que Cipriano Luckesi teve seu primeiro contato com a temática da avaliação, ao cursar a disciplina curricular “Complementos Pedagógicos”, ministrada pelo padre Godeardo Baquera, na faculdade Nossa Senhora Medianeira, em São Paulo. O modo como o padre conduzia as aulas contagiava o interesse de todos os estudantes da turma, deixando uma marca profunda em Luckesi, que, no memorial dele, para a tese de doutorado, expressa profundo agradecimento pela rica imersão no tema em questão.
Em 1972, ingressou no Instituto de Rádio Difusão Educativa da Bahia, desenvolvendo serviços técnicos especializados em avaliação, trabalhando diretamente com produção, quantificação e qualificação de testes, durante quatro anos. Devido às suas atribuições inerentes ao cargo, nesse período, começou a refletir, pesquisar e discutir sobre as questões filosóficas, políticas e sociológicas de avaliação. Somente em 1978, após 10 anos de muitos estudos e pesquisas sobre a temática, Luckesi publicou o seu primeiro artigo sobre avaliação, intitulado “Avaliação educacional: pressuposto conceituais”, na revista Tecnologia Educacional, que o tornou mais conhecido na área educacional e, mais especificamente, no campo de avaliação.
Em 1984, o autor organizou e reuniu escritos de sua autoria, editando um material mais denso sobre a temática da educação superior, no livro intitulado Fazer universidade: uma proposta metodológica, que foi publicado pela Editora Cortez. Esta obra, progressivamente, passou a ser uma das referências para os estudiosos de metodologia do trabalho científico no território nacional. Cabe enfatizar que a ligação de Luckesi com a referida Editora foi sendo firmada ao longo de vários anos, consolidando a divulgação de seu pensamento, em obras mais focalizadas na avaliação educacional.
Com mais de cento e quarenta trabalhos, o autor tem uma plataforma digital com conteúdo relacionado à avaliação educacional. O blog oferece, aos leitores, artigos e postagens em ordem cronológica, todas especificadas na aba direita da plataforma. Educadores ou interessados podem investigar sobre os temas preferidos do autor – Filosofia da Educação, Metodologia da pesquisa e Avaliação – mergulhando em títulos diversificados. Com mais de duzentas e noventa mil visualizações, o autor estabelece uma forte conexão com os leitores, criando uma comunidade em torno dos conteúdos compartilhados, tendo como premissas seus estudos e pesquisas sobre as temáticas mencionadas.
O livro Avaliação em educação: questões epistemológicas e práticas (2018) busca auxiliar estudantes, professores e gestores a compreender o ato de avaliar, de modo a orientar as respectivas deliberações nos processos de tomada de decisão.
Com uma linguagem acessível, o autor descreve avaliação, classificando concepções a respeito do tema, que visam corroborar a construção de uma prática avaliativa consciente, no âmbito educacional, de forma que ela seja identificada como aliada do professor no desenvolvimento dos processos de ensino de seus estudantes.
Pode-se constatar, a cada página da obra, a preocupação, na escrita do autor, em definir, com exatidão, o ato de avaliar no campo da educação. É importante ressaltar que a obra é fruto da celebração dos cinquenta anos de dedicação de Luckesi aos estudos acadêmicos, prioritariamente, voltados para essa temática, buscando conciliar os dois caminhos que sempre trilhou no campo da Filosofia e no da avaliação. Consegue, nesta e em outras obras, fazer uma síntese fundante das considerações ontológico-epistemológicas sobre o ato de avaliar.
A obra é composta por duzentos e vinte páginas e dividida em nove capítulos, envolvendo o leitor em uma reflexão epistemológica profunda sobre a natureza da avaliação educacional e, histórico-sociologicamente, sobre sua função transformadora no processo de aprendizagem.
O capítulo inicial trata, do ato de avaliar como ação inerente ao ser humano. Ele se desdobra em quatro subtítulos que configuram, detalhadamente, a temática, a partir de uma abordagem ontológico-epistemológica. Ao longo do capítulo é notório o cuidado e a responsabilidade filosófica com a descrição e a análise do ato de avaliar, destacando-se seu caráter investigativo, de modo a revelar a natureza objetiva e a historicidade do fenômeno avaliado.
O autor embasa sua teoria descrevendo, minuciosa e insistentemente, a prática de investigação avaliativa, destacando os passos sequenciais que subsidiam a definição de avaliação educacional, bem como os procedimentos metodológicos necessários para garantir evidências confiáveis, distanciando-se do senso comum. Ademais, ressalta que, epistemologicamente, o ato de avaliar se encerra no momento mesmo da avaliação, ou seja, o ato de avaliar simplesmente revela a objetividade da realidade investigada, podendo, ou não subsidiar o processo de tomada de decisões do educador, ou do gestor, na área de educação. Segundo Luckesi, a maneira como ambos aplicarão os resultados da investigação mencionada, que não faz mais parte da avaliação, mas, da gestão, é que define os tipos de concepções:
Fato que conduz a estar epistemologicamente ciente de que o ato de avaliar, em si, como investigação da qualidade da realidade, se encerra com a “revelação de sua qualidade” ... o que implica que a “tomada de decisão” pertence ao âmbito da gestão da ação e não de sua avaliação (LUCKESI, 2018, p. 27).
Concomitantemente, com explicação ontológico-epistemológica, Luckesi ressalta a importância e a responsabilidade do ato avaliativo; em suma, destaca as implicações éticas que, independentemente da modalidade de avaliação – institucional ou de aprendizagem individual –, é necessário que seja observada com cuidado rigoroso, a fim de não produzir conclusões errôneas e injustas, prejudicando todo o processo educacional.
O autor identifica três abordagens que, segundo ele, vão além do ato de avaliar: a probatória, a diagnóstica, e a seletiva. Essas abordagens são, detalhadamente, expostas, uma a uma, permitindo maior compreensão por parte do leitor. Para Luckesi, as três, na verdade, são duas, porque a probatória pode se combinar, ora com a diagnóstica, ora com a seletiva. As duas resultantes são, de fato, as mais frequentes na educação brasileira. Ele explicita as diferenças entre elas, afirmando:
Os usos conjugados dos resultados da investigação avaliativa – diagnóstico/probatório e probatório/seletivo –, de fato redundam em dois usos que podem simplesmente ser denominados de diagnóstico e seletivo. O uso diagnóstico subsidia chegar ao padrão de qualidade desejado e o uso seletivo, inclui os objetos, pessoas, experiências, projetos que atingiram a qualidade estabelecida como ponto de corte e exclui objetos, pessoas, experiências, projetos que não atingiram o referido padrão de qualidade estabelecido. (LUCKESI, 2018, p. 65).
Na sequência, dedica o capítulo à reconstituição histórica dos processos da avaliação da aprendizagem no Brasil.
Por ordem cronológica, o capítulo primeiro aponta as concepções de educação e seus respectivos modelos avaliativos. Parte das propostas dos jesuítas e de Jan Comênio, com suas respectivas obras, a Ratio Studiorum e a Didática Magna, enfatizando as influências sobre o uso seletivo na avaliação da aprendizagem, enraizado, historicamente, nas escolas brasileiras, chegando aos dias de hoje.
Apresenta os problemas de avaliação educacional de forma didática, por meio de exemplos, fazendo um paralelo entre os dois tipos de avaliação predominantes que ocorrem nos ambientes escolares, lamentando que, ainda hoje, as escolas brasileiras utilizam a seletiva:
Dessa data para cá (1970), vimos assumindo a nova denominação para as duas possibilidades de uso dos resultados da avaliação da aprendizagem dos estudantes na escola, podendo significar, aqui e acolá, “uso diagnóstico”, mas, de modo predominante, significando “uso seletivo”, modalidade que vem ganhando corpo e atravessando épocas históricas, do século XVI para cá (id., ibid., p. 83-84).
A fim de sustentar a afirmação, relata que, mesmo o professor que utiliza notas e pautas de observações para orientar a avaliação da aprendizagem ao longo do ano, isso não é levado em conta quando, no final dos ciclos, suas notas são atribuídas por meio de médias obtidas do somatório de todos os testes, provas ou tarefas, desconsiderando os conhecimentos anteriores ou posteriores aos instantes da avaliação formal:
O uso seletivo dos resultados da avaliação exige que o estudante revele seu desempenho em sua aprendizagem de modo pontual, ou seja, só valem os conhecimentos e habilidades revelados de modo positivo, aqui e agora, no momento em que os testes e tarefas são realizados, não valem nem antes e nem depois desse momento (id., ibid., p. 84-85).
Acreditando na contribuição da educação como um diferencial no combate à exclusão social, Cipriano aponta a necessidade de as práticas avaliativas serem de natureza diagnóstica, apenas para subsidiarem os docentes no replanejamento pedagógico, garantindo que todos os alunos possam aprender e se desenvolver. Com base nessa perspectiva, o livro vai discorrendo sobre a avaliação sob a ótica diagnóstica e inclusiva, a fim de contribuir para a democratização social.