{"title":"Deus, Família, Punitivismo e Neoliberalismo","authors":"Wallace Da Silva Mello","doi":"10.36517/rcs.53.1.r01","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Este trabalho é uma resenha do livro \"O Novo Conservadorismo Brasileiro\", de Marina Basso Lacerda e publicado em 2019. Na obra, a autora faz uma análise quantitativa e qualitativa da atuação parlamentar dos deputados federais no 55º Legislativo, que começou em 2015 e terminou em 2018. O centro da argumentação da autora é investigar a hipótese da existência de uma aliança neoconservadora nos moldes do neoconservadorismo dos Estados Unidos da era Reagan. Portanto, ela se propõe a investigar a atuação parlamentar em temas como defesa da família tradicional e patriarcal, segurança pública e criminalidade, propostas neoliberais, questões de política externa e, sobretudo, temas de reprodução e sexualidade. Este último ponto seria o elemento distintivo da ação neoconservadora, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil. Marina Lacerda identifica um grupo de 50 deputados que são protagonistas nas questões familiares pró-tradicionais e também desempenham um papel ativo nas agendas punitivas, neoliberais e anticomunistas. De acordo com os testes estatísticos de frequências esperadas e frequências observadas (tabelas de convergência), foi possível verificar que as variáveis evangelismo, punitivismo, anticomunismo e neoliberalismo estão relacionadas. Em outras palavras, ser evangélico impacta positivamente a adesão a essas diretrizes. O trabalho busca demonstrar as conexões históricas entre evangelismo e conservadorismo nos Estados Unidos e também no Brasil, desde o contexto da Guerra Fria até a chegada do movimento evangélico por meio de rádios, \"televangelistas\", publicações de livros e a circulação de pastores e lideranças para formação. e para fins de capacitação. Os argumentos estudados no livro destacam a relação entre o neoliberalismo, a defesa do Estado Mínimo e a ênfase na família como ferramenta fundamental para a resolução dos problemas sociais. Nesse sentido, a diminuição das políticas sociais é contrastada com o aumento da importância da religião, da igreja e da família como instrumentos de solidariedade e enfrentamento das disfunções sociais. A ideologia privatista impacta de diferentes formas e aproxima as perspectivas neoliberais. Por fim, a autora consegue demonstrar o papel parlamentar da aliança neoconservadora brasileira, que se formou em um processo de médio prazo de resistência às transformações do status quo, especialmente a partir do enfrentamento das questões do aborto, dos direitos da comunidade LGBT e as questões de gênero. Ela recorre a um conjunto de discursos, entrevistas, propostas de lei, emendas constitucionais e até mesmo postagens em redes sociais para identificar a atuação dessa aliança neoconservadora. Além disso, a autora ainda analisa os discursos de Jair Bolsonaro enquanto deputado, um dos mais ativos na agenda neoconservadora, demonstrando que Bolsonaro não tinha esse perfil até 2011, quando inicia um processo de aproximação com a agenda neoconservadora. O texto é rico em detalhes e reconstrução histórica e sua leitura indispensável para a compreensão das transformações políticas contemporâneas no Brasil","PeriodicalId":53077,"journal":{"name":"Revista de Ciencias Sociais","volume":"1 1","pages":""},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2021-11-17","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Revista de Ciencias Sociais","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.36517/rcs.53.1.r01","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
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Abstract
Este trabalho é uma resenha do livro "O Novo Conservadorismo Brasileiro", de Marina Basso Lacerda e publicado em 2019. Na obra, a autora faz uma análise quantitativa e qualitativa da atuação parlamentar dos deputados federais no 55º Legislativo, que começou em 2015 e terminou em 2018. O centro da argumentação da autora é investigar a hipótese da existência de uma aliança neoconservadora nos moldes do neoconservadorismo dos Estados Unidos da era Reagan. Portanto, ela se propõe a investigar a atuação parlamentar em temas como defesa da família tradicional e patriarcal, segurança pública e criminalidade, propostas neoliberais, questões de política externa e, sobretudo, temas de reprodução e sexualidade. Este último ponto seria o elemento distintivo da ação neoconservadora, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil. Marina Lacerda identifica um grupo de 50 deputados que são protagonistas nas questões familiares pró-tradicionais e também desempenham um papel ativo nas agendas punitivas, neoliberais e anticomunistas. De acordo com os testes estatísticos de frequências esperadas e frequências observadas (tabelas de convergência), foi possível verificar que as variáveis evangelismo, punitivismo, anticomunismo e neoliberalismo estão relacionadas. Em outras palavras, ser evangélico impacta positivamente a adesão a essas diretrizes. O trabalho busca demonstrar as conexões históricas entre evangelismo e conservadorismo nos Estados Unidos e também no Brasil, desde o contexto da Guerra Fria até a chegada do movimento evangélico por meio de rádios, "televangelistas", publicações de livros e a circulação de pastores e lideranças para formação. e para fins de capacitação. Os argumentos estudados no livro destacam a relação entre o neoliberalismo, a defesa do Estado Mínimo e a ênfase na família como ferramenta fundamental para a resolução dos problemas sociais. Nesse sentido, a diminuição das políticas sociais é contrastada com o aumento da importância da religião, da igreja e da família como instrumentos de solidariedade e enfrentamento das disfunções sociais. A ideologia privatista impacta de diferentes formas e aproxima as perspectivas neoliberais. Por fim, a autora consegue demonstrar o papel parlamentar da aliança neoconservadora brasileira, que se formou em um processo de médio prazo de resistência às transformações do status quo, especialmente a partir do enfrentamento das questões do aborto, dos direitos da comunidade LGBT e as questões de gênero. Ela recorre a um conjunto de discursos, entrevistas, propostas de lei, emendas constitucionais e até mesmo postagens em redes sociais para identificar a atuação dessa aliança neoconservadora. Além disso, a autora ainda analisa os discursos de Jair Bolsonaro enquanto deputado, um dos mais ativos na agenda neoconservadora, demonstrando que Bolsonaro não tinha esse perfil até 2011, quando inicia um processo de aproximação com a agenda neoconservadora. O texto é rico em detalhes e reconstrução histórica e sua leitura indispensável para a compreensão das transformações políticas contemporâneas no Brasil