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Abstract
O numero de mulheres a viver a maternidade em contexto multicultural e migratorio e, atualmente, uma realidade com uma expressao reconhecida. Todavia, o conhecimento em torno da qualidade e da eficacia do acesso das imigrantes aos cuidados de saude, e ainda diminuto em Portugal (Fonseca et al., 2007).
Situado em pressupostos teoricos e epistemologicos criticos oferecidos pelo construcionismo social, o presente estudo, de natureza qualitativa, pretendeu analisar e caracterizar, atraves de entrevistas semiestruturadas, os discursos, percecoes e vivencias de dez mulheres brasileiras que estavam gravidas e/ou foram maes em Portugal acerca dos cuidados de saude materno-infantis recebidos no pais.
Como metodo de analise recorremos a analise tematica (Braun e Clarke, 2006) sendo esta complexificada com uma analise em profundidade auxiliada pela analise critica do discurso (Willig, 2003, 2008). Os resultados mostram que, apesar de gratuitos, os padroes de procura de servicos de saude para vigilância de gravidez sao tardios. Para isso contribuem as experiencias vivenciadas nos diversos contextos sociais (e.g., discriminacao) bem como os multiplos e diferenciados obstaculos que encontram (e.g., economicos, burocraticas) quando acedem ou tentam aceder aos servicos. Embora a maioria faca uma apreciacao positiva dos cuidados recebidos, algumas queixam-se da interpretabilidade da lei e sua usurpacao por parte de quem as recebe nos servicos, bem como alertam para a insensibilidade demonstrada pelas/os profissionais face a diversidade cultural e a constante discriminacao preconizada. Face as dificuldades sentidas e aos discursos com os quais vao contactando, estas mulheres vao alimentando uma nocao de si como pessoas com menos direitos, o que as leva conformarem-se com as praticas ocidentais de cuidado e a silenciar-se face as praticas discriminatorias a que sao sujeitas. As estrategias individuais utilizadas parecem nao constituir qualquer tipo de ameaca ao grupo hegemonico, contribuindo para a manutencao do status quo e da desigualdade (Topa et al., 2013).