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Crises sanitárias constituem momentos propícios para a experimentação de novas tecnologias de poder. Nesses contextos, velhas práticas de governo são colocadas em suspenso e, em caráter inicialmente emergencial e excepcional, novas táticas de controle e organização social são ensaiadas. O estudo desenvolvido neste artigo toma por base a análise empreendida por Foucault ao longo dos anos 1970, que distinguiu três ensaios nesse sentido, quais sejam, o modelo da lepra, da peste e da varíola, que estão associados a diferentes mecanismos de poder, de tipo soberano-legal, disciplinar e biopolítico ou securitário, respectivamente. Após uma apresentação da contribuição foucaultiana, o artigo procura traçar uma linha de atualização, dando prosseguimento ao projeto de uma analítica do poder. O foco é então direcionando para o novo modelo da COVID-19 que emerge no presente, marcado pela datificação da vida, pelo uso de big data, pela vigilância ubíqua e pelo governo algorítmico, no seio de um grande sonho tecnocrático, de uma sociedade digitalizada, controlada e gerida eficientemente.