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Em diálogo com a perspectiva de Ana Paula Arnaut (2018), para quem a produção literária ficcional portuguesa, a partir dos anos 2000, tem como característica a recorrência de práticas intertextuais e interartísticas, aliadas a representações de violência extrema e de personagens marcadas pelo que a autora considera desequilíbrios patológicos, percebe-se na narrativa de Paulo Rodrigues Ferreira, em Uso Errado da Vida, a constituição de um enredo imoderadamente intertextual e no qual as personagens revelam, a cada momento, mais e mais desajustes, no que se refere aos padrões convencionalmente estabelecidos. Nesse sentido, este artigo propõe uma análise acerca da representação do abjeto em Uso errado da Vida, especialmente a partir de Orestes, protagonista homônimo ao da tragédia Oresteia, de Ésquilo. Tomaremos como base teórica sobre o conceito de abjeto as proposições de Kristeva (1982).