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Além da literatura sobre siderurgia a carvão vegetal, se utilizou como fonte, os trabalhos de professores e alunos da Escola de Minas de Ouro Preto (EMOP), com destaque para os alunos da primeira turma (1876-1880), que receberam a incumbência do seu diretor e professor Claude-Henri Gorceix de realizarem trabalhos de campo em toda a área em que se distribuíam as fábricas de ferro e mestres de forja. São apresentados os processos de fabricação de ferro e do carvão vegetal no século XIX, os usos da Mata Atlântica e a mensuração dos impactos para a floresta devido às técnicas e processos produtivos. Os trabalhos dos alunos e professores da EMOP indicam a possibilidade de recuperação florestal após encerrar a produção carvoeira em uma determinada área, porém o uso agrícola dessa área para culturas de subsistência e sucessivas queimadas levavam ao predomínio de pastagens, impedindo o reflorestamento e, consequentemente, resultando no fechamento da fábrica de ferro ou na sua transferência para outra localidade de matas. No final do século XIX e primeiras décadas do XX, a demanda de carvão vegetal pela metalurgia do ferro levou a atividade carvoeira a buscar novas áreas de florestas na bacia do rio Piracicaba, afluente do Rio Doce. 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Minas do Ferro, Florestas e Rios: Impactos Ambientais da Metalurgia do Ferro no Brasil do Século XIX
No século XIX a metalurgia do ferro a carvão vegetal se expandiu no Brasil, mais precisamente na província de Minas Gerais, principalmente concentrada junto a centros urbanos consumidores e às fontes de matéria-prima (água, minério e matas). As fábricas de ferro a carvão vegetal se encontravam concentradas na encosta leste da serra do Espinhaço, entre Ouro Preto e Serro. Qual o impacto, no século XIX, da metalurgia do ferro a carvão vegetal para a zona de Mata Atlântica da Província de Minas Gerais, na qual ela se localizou? Além de discutir a metalurgia do ferro, este artigo apresenta uma estimativa da extração de madeira para produção de carvão vegetal e uma mensuração do desflorestamento. Além da literatura sobre siderurgia a carvão vegetal, se utilizou como fonte, os trabalhos de professores e alunos da Escola de Minas de Ouro Preto (EMOP), com destaque para os alunos da primeira turma (1876-1880), que receberam a incumbência do seu diretor e professor Claude-Henri Gorceix de realizarem trabalhos de campo em toda a área em que se distribuíam as fábricas de ferro e mestres de forja. São apresentados os processos de fabricação de ferro e do carvão vegetal no século XIX, os usos da Mata Atlântica e a mensuração dos impactos para a floresta devido às técnicas e processos produtivos. Os trabalhos dos alunos e professores da EMOP indicam a possibilidade de recuperação florestal após encerrar a produção carvoeira em uma determinada área, porém o uso agrícola dessa área para culturas de subsistência e sucessivas queimadas levavam ao predomínio de pastagens, impedindo o reflorestamento e, consequentemente, resultando no fechamento da fábrica de ferro ou na sua transferência para outra localidade de matas. No final do século XIX e primeiras décadas do XX, a demanda de carvão vegetal pela metalurgia do ferro levou a atividade carvoeira a buscar novas áreas de florestas na bacia do rio Piracicaba, afluente do Rio Doce. Esse processo se intensificou e se estendeu ao médio Rio Doce, a partir da ação do Governo de Minas para dotar o estado de um parque siderúrgico moderno a carvão vegetal, no decorrer da primeira metade do século XX.