A ANTROPÓLOGA E OS QUILOMBOLAS

A Profa Denise Pirani foi nossa colega de trabalho no Departamento de Ciências Sociais da PUC Minas por muitos anos e era daquelas pessoas que todos nós aprendemos a gostar no seu mau humor cortante, insubordinado e mordaz, inclusive com ela mesma. Sofisticada e, ao mesmo tempo, “pé duro”, ela se adaptou bem ao trabalho do Projeto de Extensão “Lições da Terra”, conquistando o carinho de colegas e estudantes, se inserindo nos mais engraçados “causos” nos sete anos em que participou ativamente tanto das atividades de formação acadêmica quanto nas de campo, de sistematização de informações e redação de artigos e peças técnicas. Infelizmente, ela nos deixou, de forma prematura, em dezembro de 2021, e todos nós consideramos que esse número da Revista “Em Sociedade”, dedicado aos povos e comunidades tradicionais, deveria incluir um artigo seu, pela sua contribuição como professora, pesquisadora e extensionista na PUC Minas. Na falta de um trabalho inédito sobre esta temática, resolvemos resgatar uma contribuição feita para os Relatórios Antropológicos das comunidades quilombolas de Baú e Ausente, localizadas próximas a Milho Verde, no município do Serro. Tais relatórios, elaborados para atender a uma parceria da Universidade com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), visavam a identificação e a delimitação de territórios quilombolas e contaram com a participação ativa da Profa Denise em cinco deles. Esses relatórios eram produzidos pela equipe do Projeto “Lições da Terra” a partir das contribuições que iam sendo elaboradas por cada membro, que eram costuradas em um todo lógico dentro dos seus objetivos gerais. Assim, parte da contribuição de nossa antropóloga foi incorporada ao RELATÓRIO ANTROPOLÓGICO DE CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICA, ECONÔMICA, AMBIENTAL E SOCIOCULTURAL DA COMUNIDADE QUILOMBOLA DO BAÚ - SERRO – MG, mas, por se tratar de produto técnico de circulação restrita, achamos, na presente publicação, uma ótima oportunidade para divulgar suas análises sobre a temática, ainda que seja um texto elaborado em 2015. A própria Denise já escreveu outros trabalhos técnicos e acadêmicos mais recentes, mas esse ainda guarda o frescor dos primeiros contatos com a temática e com a realidade das comunidades quilombolas do Serro. Esperamos, assim, não só homenageá-la pelo seu trabalho na PUC Minas, formando várias gerações de cientistas sociais, mas reconhecer a sua contribuição para a temática em questão, certos que sua memória como pessoa e profissional estará em nossos corações e mentes.