Caroline Rodrigues Cambeiro Gieler, Flavia Cunha dos Santos, Marcela Ignacchiti Lacerda Avila, Andréa Ribeiro Soares, Guilherme de Jesus, Nilson de Jesus
{"title":"Desfechos obstétricos e intercorrências clínicas em gestantes com anemia falciforme acompanhadas no pré-natal de um hospital universitário","authors":"Caroline Rodrigues Cambeiro Gieler, Flavia Cunha dos Santos, Marcela Ignacchiti Lacerda Avila, Andréa Ribeiro Soares, Guilherme de Jesus, Nilson de Jesus","doi":"10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1064","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Introdução: A anemia falciforme (AF) é uma doença hematológica que causa deformidade estrutural da hemoglobina. O curso da doença na gestação é imprevisível devido à alta variabilidade dos fenótipos clínicos da AF. Embora a maioria das gestações em mulheres com diagnóstico de anemia falciforme resulte em nascimentos de fetos saudáveis, essas gestações apresentam risco aumentado de complicações materno-fetais, além de maior chance de descompensação da doença subjacente. Objetivo: Avaliar os desfechos gestacionais em pacientes com doença falciforme (DF), analisando as potenciais variáveis associadas aos desfechos maternos, bem como aos desfechos fetais e neonatais. Métodos: Realizou-se análise transversal e retrospectiva de dados, por meio da revisão de prontuários físicos e eletrônicos. A população do estudo foi composta por pacientes com diagnóstico de DF acompanhadas no ambulatório de pré-natal de um hospital universitário no período de 1994 a 2020. Resultados: Analisaram-se 34 gestações em 29 pacientes portadoras de DF. A idade das pacientes no momento do parto variou de 17 a 32 anos, e cerca de metade das gestantes possuía o diagnóstico da doença há menos de 5 anos. O número de consultas pré-natal variou de 1 a 15. O diagnóstico da doença foi confirmado em 86% (25/29) das pacientes por meio de eletroforese de hemoglobina, sendo que a hemoglobinopatia do subtipo SS foi a mais comum, ocorrendo em 56% (14/25) dos casos. Das 34 gestações analisadas, 4 terminaram em aborto espontâneo e 2 gestantes faleceram. Cerca de um terço das gestantes (36,7%) apresentou crise falcêmica durante a gestação, e 46,7% tiveram a última crise há, pelo menos, um ano antes da gestação em estudo. Nove em trinta gestações (30%) desenvolveram pré-eclâmpsia (PE), sendo que uma delas evoluiu para eclâmpsia. Vinte por cento dos recém-nascidos nasceram pequenos para a idade gestacional, e 36,7% foram prematuros. Quase metade das pacientes foi internada devido a complicações da DF, e 40% necessitaram de hemotransfusões. Conclusão: As pacientes portadoras de DF apresentam altas taxas de complicações obstétricas e intercorrências clínicas durante a gestação, o que pode resultar em maiores índices de morbidade e mortalidade. O acompanhamento pré-natal em unidade especializada por uma equipe multidisciplinar, incluindo obstetrícia em conjunto com o Serviço de Hematologia, pode melhorar esses resultados.","PeriodicalId":84971,"journal":{"name":"Jornal brasileiro de ginecologia","volume":"26 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2023-01-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Jornal brasileiro de ginecologia","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1064","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
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Abstract
Introdução: A anemia falciforme (AF) é uma doença hematológica que causa deformidade estrutural da hemoglobina. O curso da doença na gestação é imprevisível devido à alta variabilidade dos fenótipos clínicos da AF. Embora a maioria das gestações em mulheres com diagnóstico de anemia falciforme resulte em nascimentos de fetos saudáveis, essas gestações apresentam risco aumentado de complicações materno-fetais, além de maior chance de descompensação da doença subjacente. Objetivo: Avaliar os desfechos gestacionais em pacientes com doença falciforme (DF), analisando as potenciais variáveis associadas aos desfechos maternos, bem como aos desfechos fetais e neonatais. Métodos: Realizou-se análise transversal e retrospectiva de dados, por meio da revisão de prontuários físicos e eletrônicos. A população do estudo foi composta por pacientes com diagnóstico de DF acompanhadas no ambulatório de pré-natal de um hospital universitário no período de 1994 a 2020. Resultados: Analisaram-se 34 gestações em 29 pacientes portadoras de DF. A idade das pacientes no momento do parto variou de 17 a 32 anos, e cerca de metade das gestantes possuía o diagnóstico da doença há menos de 5 anos. O número de consultas pré-natal variou de 1 a 15. O diagnóstico da doença foi confirmado em 86% (25/29) das pacientes por meio de eletroforese de hemoglobina, sendo que a hemoglobinopatia do subtipo SS foi a mais comum, ocorrendo em 56% (14/25) dos casos. Das 34 gestações analisadas, 4 terminaram em aborto espontâneo e 2 gestantes faleceram. Cerca de um terço das gestantes (36,7%) apresentou crise falcêmica durante a gestação, e 46,7% tiveram a última crise há, pelo menos, um ano antes da gestação em estudo. Nove em trinta gestações (30%) desenvolveram pré-eclâmpsia (PE), sendo que uma delas evoluiu para eclâmpsia. Vinte por cento dos recém-nascidos nasceram pequenos para a idade gestacional, e 36,7% foram prematuros. Quase metade das pacientes foi internada devido a complicações da DF, e 40% necessitaram de hemotransfusões. Conclusão: As pacientes portadoras de DF apresentam altas taxas de complicações obstétricas e intercorrências clínicas durante a gestação, o que pode resultar em maiores índices de morbidade e mortalidade. O acompanhamento pré-natal em unidade especializada por uma equipe multidisciplinar, incluindo obstetrícia em conjunto com o Serviço de Hematologia, pode melhorar esses resultados.