Luisa Guimarães Santos, Alexia de Avila Frayha, Ana Elisa Rodrigues Baião
{"title":"Via de parto no Brasil — desfechos maternos e perinatais, custos e autonomia da mulher","authors":"Luisa Guimarães Santos, Alexia de Avila Frayha, Ana Elisa Rodrigues Baião","doi":"10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1105","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Objetivo: O objetivo desta revisão foi analisar a literatura científica sobre a autonomia da mulher no processo de decisão da via de parto, a morbidade e mortalidade materna e perinatal, e os custos relacionados a cada via de parto. Fonte de dados: A busca foi realizada nas bases de dados National Library of Medicine (PubMed), Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Cochrane, no período de 1995 a 2022, utilizando-se os seguintes descritores: \"cesarean section and human rights\", \"cesarean section and informed consent\", \"cesarean rates\", \"cesarean costs\", \"reproductive rights\", \"early term\", \"infant cost\", \"cesarean costs for the public system\", \"late preterm infant cost\", \"maternal request for cesarean section\", \"cesarean section and choice\", \"cesarean section and medical choice\". Critérios de seleção: Foram selecionados 45 artigos considerados adequados para a revisão, conforme avaliação por dois especialistas. Os resultados referentes à decisão pela via de parto, desfechos maternos e perinatais, e custos hospitalares, extraídos dos artigos selecionados, foram tabulados para análise e síntese dos resultados desta revisão. Resultados: O modelo tecnocrático de assistência, caracterizado pela predominância da visão médica, intervenções excessivas e falta de envolvimento entre paciente e médico, ainda é prevalente no Brasil e em outros lugares do mundo. Isso é um fator importante nas altas taxas de cesariana, pois não favorece a escolha informada e o cuidado baseado em evidências científicas centrado na mulher. No setor privado, a cesariana predomina devido à falsa ideia de aumento da segurança, enquanto no setor público, a cesariana é apresentada como uma alternativa para evitar experiências negativas no parto. Quanto aos desfechos maternos e perinatais, a cesariana apresenta um maior risco de morte materna, infecção puerperal, parada cardíaca, hematoma da ferida, histerectomia, complicações anestésicas, tromboembolismo venoso, aumento do tempo de internação hospitalar e hemorragia grave. Além disso, a cada cesariana subsequente, o risco aumenta progressivamente, com maior incidência de acretismo placentário, placenta prévia, lesão intestinal e ureteral, e óbito fetal. Também são descritas complicações respiratórias devido ao nascimento no termo precoce e maior risco de desenvolvimento de doenças crônicas na idade adulta para o concepto. Por fim, as altas taxas de cesariana, principalmente quando realizadas sem indicação médica, resultam em um custo maior para o sistema de saúde, aproximadamente 30% a mais por gestante, sem considerar os possíveis gastos relacionados a complicações maternas e neonatais do procedimento. Conclusão: O modelo tecnocrático de assistência, a falta de orientação baseada em evidências durante o pré-natal e o acesso limitado a tecnologias que proporcionam uma experiência positiva de parto, especialmente a analgesia de parto, principalmente em maternidades públicas, afetam o exercício da autonomia da mulher na decisão da via de parto. As altas taxas de cesariana estão associadas ao aumento da morbimortalidade materna e neonatal e aos custos relacionados à assistência obstétrica.","PeriodicalId":84971,"journal":{"name":"Jornal brasileiro de ginecologia","volume":"1 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2023-01-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Jornal brasileiro de ginecologia","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1105","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
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Abstract
Objetivo: O objetivo desta revisão foi analisar a literatura científica sobre a autonomia da mulher no processo de decisão da via de parto, a morbidade e mortalidade materna e perinatal, e os custos relacionados a cada via de parto. Fonte de dados: A busca foi realizada nas bases de dados National Library of Medicine (PubMed), Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Cochrane, no período de 1995 a 2022, utilizando-se os seguintes descritores: "cesarean section and human rights", "cesarean section and informed consent", "cesarean rates", "cesarean costs", "reproductive rights", "early term", "infant cost", "cesarean costs for the public system", "late preterm infant cost", "maternal request for cesarean section", "cesarean section and choice", "cesarean section and medical choice". Critérios de seleção: Foram selecionados 45 artigos considerados adequados para a revisão, conforme avaliação por dois especialistas. Os resultados referentes à decisão pela via de parto, desfechos maternos e perinatais, e custos hospitalares, extraídos dos artigos selecionados, foram tabulados para análise e síntese dos resultados desta revisão. Resultados: O modelo tecnocrático de assistência, caracterizado pela predominância da visão médica, intervenções excessivas e falta de envolvimento entre paciente e médico, ainda é prevalente no Brasil e em outros lugares do mundo. Isso é um fator importante nas altas taxas de cesariana, pois não favorece a escolha informada e o cuidado baseado em evidências científicas centrado na mulher. No setor privado, a cesariana predomina devido à falsa ideia de aumento da segurança, enquanto no setor público, a cesariana é apresentada como uma alternativa para evitar experiências negativas no parto. Quanto aos desfechos maternos e perinatais, a cesariana apresenta um maior risco de morte materna, infecção puerperal, parada cardíaca, hematoma da ferida, histerectomia, complicações anestésicas, tromboembolismo venoso, aumento do tempo de internação hospitalar e hemorragia grave. Além disso, a cada cesariana subsequente, o risco aumenta progressivamente, com maior incidência de acretismo placentário, placenta prévia, lesão intestinal e ureteral, e óbito fetal. Também são descritas complicações respiratórias devido ao nascimento no termo precoce e maior risco de desenvolvimento de doenças crônicas na idade adulta para o concepto. Por fim, as altas taxas de cesariana, principalmente quando realizadas sem indicação médica, resultam em um custo maior para o sistema de saúde, aproximadamente 30% a mais por gestante, sem considerar os possíveis gastos relacionados a complicações maternas e neonatais do procedimento. Conclusão: O modelo tecnocrático de assistência, a falta de orientação baseada em evidências durante o pré-natal e o acesso limitado a tecnologias que proporcionam uma experiência positiva de parto, especialmente a analgesia de parto, principalmente em maternidades públicas, afetam o exercício da autonomia da mulher na decisão da via de parto. As altas taxas de cesariana estão associadas ao aumento da morbimortalidade materna e neonatal e aos custos relacionados à assistência obstétrica.