Eduardo Teixeira da Silva Ribeiro, Fernando Maia Peixoto Filho, Maria Eduarda Furtado Fernandes Terra
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Abstract
Introdução: A doença hemolítica perinatal (DHPN) foi possivelmente descrita pela primeira vez em 1609, quando uma parteira relatou um caso de parto gemelar em que um dos bebês nasceu hidrópico e morreu logo após o nascimento, enquanto o outro nasceu vivo, mas desenvolveu icterícia intensa e faleceu alguns dias depois. Essa associação é extremamente rara, com uma probabilidade estimada de ocorrência de 1 em 16.000 para esses dois eventos independentes ocorrerem juntos. Os avanços subsequentes na área se concentraram em gestações únicas complicadas pela DHPN, e há uma escassez de literatura sobre essa condição em gestações múltiplas. Objetivo: O objetivo deste estudo foi registrar e analisar casos de gestações gemelares complicadas pela DHPN acompanhadas em um ambulatório especializado do 1Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira. Além disso, realizou-se um levantamento de artigos publicados sobre a evolução de gestações gemelares complicadas pela DHPN e elaboradas hipóteses sobre o impacto da sobreposição dessas condições nos desfechos perinatais e na acurácia dos testes pré-natais realizados em fetos expostos à DHPN na mesma gestação. Material e métodos: Selecionaram-se 4 casos de DHPN em recém-nascidos de gestação gemelar dicoriônica diamniótica acompanhados no 1Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira entre 2006 e 2021. Os dados sobre a história materna, pré-natal, parto e recém-nascido foram coletados nos prontuários e avaliados para analisar os resultados perinatais desses bebês. Resultados: Observou-se discrepância na gravidade da anemia fetal entre os gêmeos nos casos descritos. Os mecanismos possivelmente envolvidos nesse processo são diversos e incluem a influência da incompatibilidade ABO entre a mãe e o feto na resposta imunológica materna aos antígenos eritrocitários fetais, diferenças nos haplótipos do sistema Rh e, consequentemente, na expressão do antígeno D nas hemácias fetais, diferenças na permeabilidade placentária e na capacidade de cada feto de responder à injúria causada pelos anticorpos maternos. Pesquisas em andamento estão investigando o papel de outras vias na atividade hemolítica dos anticorpos maternos contra o antígeno Rh(D), o que pode contribuir para um melhor entendimento dos diferentes graus de gravidade da doença em cada feto. Conclusão: Gestações gemelares apresentam um risco aumentado de prematuridade, restrição de crescimento intrauterino e anomalias genéticas, o que resulta em um impacto significativo na morbimortalidade neonatal. A aloimunização Rh(D) associada aumenta ainda mais os riscos perinatais. A avaliação do risco de anemia fetal moderada a grave por meio de métodos não invasivos e o tratamento correspondente são desafiadores, mas mostram-se promissores. No entanto, são necessários mais estudos para avaliar se a acurácia dos testes Doppler de velocidade de pico sistólico na artéria cerebral média (PSV-ACM) é semelhante entre fetos únicos e gemelares.