{"title":"Manejo de gestante com paraplegia espástica em membros inferiores secundária a tumor em coluna torácica e assistência ao parto vaginal: relato de caso","authors":"Isabela Carmona Castro Rodriguez, Gabriela Oliveira de Menezes, Aline Silva Izzo","doi":"10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1083","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Introdução: A deflagração do início das contrações uterinas provavelmente ocorre devido a alterações na expressão de proteínas que controlam a contratilidade, como o receptor de ocitocina, prostaglandina F e conexina 43. Essas alterações são iniciadas durante as últimas 6 a 8 semanas de gestação e se intensificam durante a fase ativa do parto. Isso leva ao aumento da irritabilidade e reatividade do útero aos estímulos que promovem as contrações. Portanto, as contrações uterinas são involuntárias e independentes do controle externo. Em relação à percepção sensitiva, é importante considerar a anatomia pélvica. As fibras sensitivas aferentes são responsáveis por perceber estímulos dolorosos resultantes das contrações uterinas. Essas fibras ascendem pelo plexo hipogástrico inferior e entram na medula entre T10-T12 e L1. Essa situação explica por que gestantes com paraplegia apresentam contrações miometriais normais, mas sem dor. Relato de caso: Uma primigesta de 22 anos relatou paresia no membro inferior esquerdo, evoluindo para paraplegia nos membros inferiores em um período de quinze dias. Procurou uma unidade de saúde para investigação. Inicialmente, foram realizados exames laboratoriais, que não apresentaram alterações, e uma ressonância magnética da coluna torácica foi solicitada, revelando uma massa intrarraquidiana extramedular de 2,25 × 3 × 1,5 cm, localizada em T2. Diagnosticou-se mielopatia compressiva. Após avaliação pela equipe de neurocirurgia, recomendou-se abordagem cirúrgica de urgência para descompressão medular. Com 35 semanas de idade gestacional (IG), a paciente foi submetida a uma laminectomia descompressiva em T2, com ressecção parcial do tumor, sob anestesia geral. A cirurgia foi realizada com a paciente em decúbito lateral esquerdo. A paciente teve uma evolução adequada no pós-operatório e permaneceu internada para tratamento fisioterapêutico. Com 37 semanas de IG, a paciente apresentou trabalho de parto espontâneo, sem percepção de contrações, e o parto pélvico vaginal foi identificado após a exteriorização dos membros inferiores do feto. O parto foi realizado sem complicações, e o recém-nascido teve uma evolução adequada. A paciente teve um puerpério fisiológico. Atualmente, a puérpera está sendo acompanhada em uma maternidade de alto risco por uma equipe multidisciplinar. Comentário: A gestação de alto risco representa um desafio para o obstetra, pois ele deve ser capaz de lidar com situações que não são comuns na gestação de risco habitual. O caso relatado acima destaca a importância do acesso aos diferentes serviços disponíveis no hospital para garantir a melhor assistência à paciente. Além disso, ressalta a importância do conhecimento sobre a fisiologia da gestação e do trabalho de parto. A capacitação adequada dos profissionais e o cuidado multidisciplinar são fundamentais para alcançar desfechos positivos durante a gestação, o parto e o puerpério.","PeriodicalId":84971,"journal":{"name":"Jornal brasileiro de ginecologia","volume":"132 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2023-01-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Jornal brasileiro de ginecologia","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1083","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
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Abstract
Introdução: A deflagração do início das contrações uterinas provavelmente ocorre devido a alterações na expressão de proteínas que controlam a contratilidade, como o receptor de ocitocina, prostaglandina F e conexina 43. Essas alterações são iniciadas durante as últimas 6 a 8 semanas de gestação e se intensificam durante a fase ativa do parto. Isso leva ao aumento da irritabilidade e reatividade do útero aos estímulos que promovem as contrações. Portanto, as contrações uterinas são involuntárias e independentes do controle externo. Em relação à percepção sensitiva, é importante considerar a anatomia pélvica. As fibras sensitivas aferentes são responsáveis por perceber estímulos dolorosos resultantes das contrações uterinas. Essas fibras ascendem pelo plexo hipogástrico inferior e entram na medula entre T10-T12 e L1. Essa situação explica por que gestantes com paraplegia apresentam contrações miometriais normais, mas sem dor. Relato de caso: Uma primigesta de 22 anos relatou paresia no membro inferior esquerdo, evoluindo para paraplegia nos membros inferiores em um período de quinze dias. Procurou uma unidade de saúde para investigação. Inicialmente, foram realizados exames laboratoriais, que não apresentaram alterações, e uma ressonância magnética da coluna torácica foi solicitada, revelando uma massa intrarraquidiana extramedular de 2,25 × 3 × 1,5 cm, localizada em T2. Diagnosticou-se mielopatia compressiva. Após avaliação pela equipe de neurocirurgia, recomendou-se abordagem cirúrgica de urgência para descompressão medular. Com 35 semanas de idade gestacional (IG), a paciente foi submetida a uma laminectomia descompressiva em T2, com ressecção parcial do tumor, sob anestesia geral. A cirurgia foi realizada com a paciente em decúbito lateral esquerdo. A paciente teve uma evolução adequada no pós-operatório e permaneceu internada para tratamento fisioterapêutico. Com 37 semanas de IG, a paciente apresentou trabalho de parto espontâneo, sem percepção de contrações, e o parto pélvico vaginal foi identificado após a exteriorização dos membros inferiores do feto. O parto foi realizado sem complicações, e o recém-nascido teve uma evolução adequada. A paciente teve um puerpério fisiológico. Atualmente, a puérpera está sendo acompanhada em uma maternidade de alto risco por uma equipe multidisciplinar. Comentário: A gestação de alto risco representa um desafio para o obstetra, pois ele deve ser capaz de lidar com situações que não são comuns na gestação de risco habitual. O caso relatado acima destaca a importância do acesso aos diferentes serviços disponíveis no hospital para garantir a melhor assistência à paciente. Além disso, ressalta a importância do conhecimento sobre a fisiologia da gestação e do trabalho de parto. A capacitação adequada dos profissionais e o cuidado multidisciplinar são fundamentais para alcançar desfechos positivos durante a gestação, o parto e o puerpério.