Eloá Costa Cândido Fontana, Clara dos Santos Leal Costa, Aline Portelinha Rodrigues Cunha, Guilherme Ribeiro Ramires de Jesus, Marcos Augusto Bastos Dias
{"title":"Natimortalidade por sífilis congênita em dois centros de referência no MRJ: estudo descritivo do período 2009 a 2018","authors":"Eloá Costa Cândido Fontana, Clara dos Santos Leal Costa, Aline Portelinha Rodrigues Cunha, Guilherme Ribeiro Ramires de Jesus, Marcos Augusto Bastos Dias","doi":"10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1093","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Introdução: A sífilis na gestação é uma causa frequente e evitável de natimortalidade e de desfechos perinatais adversos. A gravidade da transmissão vertical depende do estágio da infecção materna e da idade gestacional (IG) em que ocorreu a exposição fetal. A taxa de sífilis congênita no Brasil aumentou de 2,1 casos por 1.000 nascidos vivos em 2009 para 9,0 casos por 1.000 nascidos vivos em 2018. A elevada incidência da sífilis materna e seu impacto na saúde pública reforçam a necessidade de melhorar a qualidade dos serviços de saúde oferecidos. Objetivo: Este estudo tem como objetivo descrever os casos de óbitos fetais nos quais a causa básica foi sífilis congênita, em dois centros de referência para atendimento de mulheres no ciclo gravídico-puerperal no estado do Rio de Janeiro. Métodos: Foram selecionadas mulheres cujas gestações terminaram em óbito fetal (OF) com IG mínima de 20 semanas e/ou peso mínimo de 500 g e que tiveram sífilis congênita como causa básica do óbito, no período entre 01 de janeiro de 2009 e 31 de dezembro de 2018 nos dois centros de referência. Foram excluídos os casos de OF em mulheres sem diagnóstico de sífilis e aqueles nos quais a gestante apresentou sífilis, mas a causa básica do óbito fetal não foi sífilis congênita. Resultados: Durante o período do estudo, ocorreram 460 óbitos fetais nos centros de referência, sendo 30 casos (6,5%) de sífilis materna confirmada, dos quais 13 (2,82%) tiveram como causa do óbito sífilis congênita. Este grupo foi composto por mulheres com idade média de 21,9 anos (17–32 anos) e mediana de 20 anos; 61,5% eram pretas, pardas e/ou indígenas, e metade das gestantes tinham baixo nível de escolaridade (menos de 9 anos de estudo). No total, 54% tinham, pelo menos, uma gestação anterior, e 46% eram primigestas. Em relação aos antecedentes obstétricos, 15,3% tiveram, pelo menos, um aborto prévio, e 7,69% já haviam tido uma gestação que resultou em óbito fetal. Apesar de 69% das gestantes terem iniciado o acompanhamento pré-natal, apenas 23% tiveram mais de duas consultas, e 33,3% iniciaram o acompanhamento entre 21 e 28 semanas. Entre as gestantes que frequentaram o pré-natal, 61,5% realizaram testes treponêmicos e não treponêmicos, e 38,4% não realizaram nenhum exame sorológico. Em relação ao tratamento para sífilis, 23% das gestantes receberam tratamento, sendo que apenas 33,3% foram considerados tratamento adequado. O diagnóstico do óbito fetal ocorreu em todos os casos antes do nascimento. A IG ao nascer teve, em semanas, média de 28,7 (22–36) e mediana de 27. O parto foi induzido em 100% dos casos. O peso médio ao nascer foi de 1.243 g (540–2.272 g) e mediana de 1.300 g. Conclusão: Os resultados evidenciam que a sífilis congênita persiste como causa relevante de óbito fetal, sendo mais frequente em populações com piores indicadores socioeconômicos e com menos acesso à saúde, especialmente ao pré-natal. O enfoque na promoção e prevenção em saúde é essencial para detectar e tratar precocemente os casos de sífilis na gestação, a fim de reduzir os desfechos gestacionais desfavoráveis.","PeriodicalId":84971,"journal":{"name":"Jornal brasileiro de ginecologia","volume":"33 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2023-01-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Jornal brasileiro de ginecologia","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1093","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
引用次数: 0
Abstract
Introdução: A sífilis na gestação é uma causa frequente e evitável de natimortalidade e de desfechos perinatais adversos. A gravidade da transmissão vertical depende do estágio da infecção materna e da idade gestacional (IG) em que ocorreu a exposição fetal. A taxa de sífilis congênita no Brasil aumentou de 2,1 casos por 1.000 nascidos vivos em 2009 para 9,0 casos por 1.000 nascidos vivos em 2018. A elevada incidência da sífilis materna e seu impacto na saúde pública reforçam a necessidade de melhorar a qualidade dos serviços de saúde oferecidos. Objetivo: Este estudo tem como objetivo descrever os casos de óbitos fetais nos quais a causa básica foi sífilis congênita, em dois centros de referência para atendimento de mulheres no ciclo gravídico-puerperal no estado do Rio de Janeiro. Métodos: Foram selecionadas mulheres cujas gestações terminaram em óbito fetal (OF) com IG mínima de 20 semanas e/ou peso mínimo de 500 g e que tiveram sífilis congênita como causa básica do óbito, no período entre 01 de janeiro de 2009 e 31 de dezembro de 2018 nos dois centros de referência. Foram excluídos os casos de OF em mulheres sem diagnóstico de sífilis e aqueles nos quais a gestante apresentou sífilis, mas a causa básica do óbito fetal não foi sífilis congênita. Resultados: Durante o período do estudo, ocorreram 460 óbitos fetais nos centros de referência, sendo 30 casos (6,5%) de sífilis materna confirmada, dos quais 13 (2,82%) tiveram como causa do óbito sífilis congênita. Este grupo foi composto por mulheres com idade média de 21,9 anos (17–32 anos) e mediana de 20 anos; 61,5% eram pretas, pardas e/ou indígenas, e metade das gestantes tinham baixo nível de escolaridade (menos de 9 anos de estudo). No total, 54% tinham, pelo menos, uma gestação anterior, e 46% eram primigestas. Em relação aos antecedentes obstétricos, 15,3% tiveram, pelo menos, um aborto prévio, e 7,69% já haviam tido uma gestação que resultou em óbito fetal. Apesar de 69% das gestantes terem iniciado o acompanhamento pré-natal, apenas 23% tiveram mais de duas consultas, e 33,3% iniciaram o acompanhamento entre 21 e 28 semanas. Entre as gestantes que frequentaram o pré-natal, 61,5% realizaram testes treponêmicos e não treponêmicos, e 38,4% não realizaram nenhum exame sorológico. Em relação ao tratamento para sífilis, 23% das gestantes receberam tratamento, sendo que apenas 33,3% foram considerados tratamento adequado. O diagnóstico do óbito fetal ocorreu em todos os casos antes do nascimento. A IG ao nascer teve, em semanas, média de 28,7 (22–36) e mediana de 27. O parto foi induzido em 100% dos casos. O peso médio ao nascer foi de 1.243 g (540–2.272 g) e mediana de 1.300 g. Conclusão: Os resultados evidenciam que a sífilis congênita persiste como causa relevante de óbito fetal, sendo mais frequente em populações com piores indicadores socioeconômicos e com menos acesso à saúde, especialmente ao pré-natal. O enfoque na promoção e prevenção em saúde é essencial para detectar e tratar precocemente os casos de sífilis na gestação, a fim de reduzir os desfechos gestacionais desfavoráveis.