{"title":"Longevidade e maternidade: análise da mortalidade materna por causas indiretas segundo faixa etária no estado do Rio de Janeiro","authors":"Mariana Ponciano Oliveira Martins, Raquel Luiz Queres, Vitoria Azevedo Costa, Edna Massae Yokoo, Hélia Kawa","doi":"10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1081","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Introdução: O envelhecimento populacional e a tendência das mulheres em ter filhos mais tarde no Brasil são realidades que trazem desafios para a saúde materna. A idade avançada está associada a um maior risco de doenças crônicas, que podem levar a mortes maternas por causas indiretas (MMI), definidas como óbitos causados por doenças preexistentes à gestação ou que se desenvolveram durante esse período. As metas estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) por meio dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) sugeriram que a razão de mortalidade materna (RMM) fosse inferior a 35 por 100.000 nascidos vivos até 2015. No entanto, os dados atuais mostram que a RMM no Brasil em 2021 foi de 107, indicando que ainda há um longo caminho a percorrer. Objetivo: O objetivo deste estudo foi analisar a mortalidade materna por causas indiretas (MMI) no estado do Rio de Janeiro (RJ) no período de 2005 a 2021. Metodologia: A análise foi realizada com base nos dados de nascidos vivos e óbitos maternos disponíveis na base de dados da Secretaria de Saúde do RJ, acessíveis pela internet. Foi calculada a razão de mortalidade materna por causas indiretas por 100.000 nascidos vivos (RMMI). As mulheres foram agrupadas em dois grupos: aquelas com idade igual ou superior a 35 anos (≥35) e as das demais faixas etárias (DFE). A RMMI foi calculada dividindo o número de MMI pelo número de nascidos vivos e multiplicando por 100.000. Também foram analisadas as causas mais frequentes de MMI de acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID-X), do capítulo XV, em mulheres com idade ≥35 anos, além do número de consultas pré-natal realizadas nos dois grupos etários. Resultados: Durante todo o período analisado, a RMMI foi maior nas mulheres com idade ≥35 anos, variando de 12,6 a 166,1, enquanto nas DFE variou de 9,5 a 106,4. Houve uma diferença significativa na RMMI entre os dois grupos de 2006 a 2010, sendo até três vezes maior nas mulheres com idade ≥35 anos, exceto em 2008. Em 2009, ano da epidemia de influenza no Brasil, a RMMI no grupo ≥35 anos foi de 87,7 e nas DFE foi de 36. Esse ano foi responsável pelas maiores razões de mortalidade materna, excluindo-se os anos de 2020 e 2021. Em 2020 e 2021, houve um aumento expressivo das razões de MMI (2021: DFE=106,4 e ≥35 anos=166,1), que coincidiu com a pandemia de COVID-19, uma vez que as gestantes e puérperas são mais vulneráveis à infecção. As principais causas de MMI no período de 2005 a 2019 foram classificadas como CID O99 (doenças que não se enquadram em outras categorias), com pico em 2009 (RMMI=51,8). Nos anos de 2020 e 2021, houve destaque para o CID O98 (doenças infecciosas e parasitárias), com RMMI de 65,8 e 154,3, respectivamente. O CID O99 engloba as complicações decorrentes do vírus Influenza, enquanto o CID O98 refere-se às complicações da infecção pelo SARS-CoV-2. Os CID O10 (hipertensão) e O24 (diabetes mellitus) apresentaram uma grande variação na RMMI, com um máximo de 20,5, sendo causas relevantes de mortalidade. As mulheres com idade ≥35 anos apresentaram uma frequência maior de consultas pré-natal, com 7 consultas ou mais (o mínimo preconizado pelo Ministério da Saúde é de 6), cerca de 10% a mais do que as DFE no período analisado. O percentual de mulheres com idade ≥35 anos e com ≥7 consultas aumentou 9% ao longo do período, atingindo 81% em 2019. Conclusão: Mulheres com idade ≥35 anos apresentaram uma RMMI maior durante todo o período analisado, mesmo com uma maior frequência de consultas pré-natal. Os valores da RMMI têm influência direta na RMM, que ainda está distante das metas propostas pela ONU, constituindo relevante problema de saúde pública. É necessário buscar estratégias de prevenção, diagnóstico e manejo adequados das doenças crônicas em mulheres mais velhas, a fim de reduzir a mortalidade materna por causas indiretas e alcançar melhores resultados de saúde materna no Brasil.","PeriodicalId":84971,"journal":{"name":"Jornal brasileiro de ginecologia","volume":"85 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2023-01-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Jornal brasileiro de ginecologia","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1081","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
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Abstract
Introdução: O envelhecimento populacional e a tendência das mulheres em ter filhos mais tarde no Brasil são realidades que trazem desafios para a saúde materna. A idade avançada está associada a um maior risco de doenças crônicas, que podem levar a mortes maternas por causas indiretas (MMI), definidas como óbitos causados por doenças preexistentes à gestação ou que se desenvolveram durante esse período. As metas estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) por meio dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) sugeriram que a razão de mortalidade materna (RMM) fosse inferior a 35 por 100.000 nascidos vivos até 2015. No entanto, os dados atuais mostram que a RMM no Brasil em 2021 foi de 107, indicando que ainda há um longo caminho a percorrer. Objetivo: O objetivo deste estudo foi analisar a mortalidade materna por causas indiretas (MMI) no estado do Rio de Janeiro (RJ) no período de 2005 a 2021. Metodologia: A análise foi realizada com base nos dados de nascidos vivos e óbitos maternos disponíveis na base de dados da Secretaria de Saúde do RJ, acessíveis pela internet. Foi calculada a razão de mortalidade materna por causas indiretas por 100.000 nascidos vivos (RMMI). As mulheres foram agrupadas em dois grupos: aquelas com idade igual ou superior a 35 anos (≥35) e as das demais faixas etárias (DFE). A RMMI foi calculada dividindo o número de MMI pelo número de nascidos vivos e multiplicando por 100.000. Também foram analisadas as causas mais frequentes de MMI de acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID-X), do capítulo XV, em mulheres com idade ≥35 anos, além do número de consultas pré-natal realizadas nos dois grupos etários. Resultados: Durante todo o período analisado, a RMMI foi maior nas mulheres com idade ≥35 anos, variando de 12,6 a 166,1, enquanto nas DFE variou de 9,5 a 106,4. Houve uma diferença significativa na RMMI entre os dois grupos de 2006 a 2010, sendo até três vezes maior nas mulheres com idade ≥35 anos, exceto em 2008. Em 2009, ano da epidemia de influenza no Brasil, a RMMI no grupo ≥35 anos foi de 87,7 e nas DFE foi de 36. Esse ano foi responsável pelas maiores razões de mortalidade materna, excluindo-se os anos de 2020 e 2021. Em 2020 e 2021, houve um aumento expressivo das razões de MMI (2021: DFE=106,4 e ≥35 anos=166,1), que coincidiu com a pandemia de COVID-19, uma vez que as gestantes e puérperas são mais vulneráveis à infecção. As principais causas de MMI no período de 2005 a 2019 foram classificadas como CID O99 (doenças que não se enquadram em outras categorias), com pico em 2009 (RMMI=51,8). Nos anos de 2020 e 2021, houve destaque para o CID O98 (doenças infecciosas e parasitárias), com RMMI de 65,8 e 154,3, respectivamente. O CID O99 engloba as complicações decorrentes do vírus Influenza, enquanto o CID O98 refere-se às complicações da infecção pelo SARS-CoV-2. Os CID O10 (hipertensão) e O24 (diabetes mellitus) apresentaram uma grande variação na RMMI, com um máximo de 20,5, sendo causas relevantes de mortalidade. As mulheres com idade ≥35 anos apresentaram uma frequência maior de consultas pré-natal, com 7 consultas ou mais (o mínimo preconizado pelo Ministério da Saúde é de 6), cerca de 10% a mais do que as DFE no período analisado. O percentual de mulheres com idade ≥35 anos e com ≥7 consultas aumentou 9% ao longo do período, atingindo 81% em 2019. Conclusão: Mulheres com idade ≥35 anos apresentaram uma RMMI maior durante todo o período analisado, mesmo com uma maior frequência de consultas pré-natal. Os valores da RMMI têm influência direta na RMM, que ainda está distante das metas propostas pela ONU, constituindo relevante problema de saúde pública. É necessário buscar estratégias de prevenção, diagnóstico e manejo adequados das doenças crônicas em mulheres mais velhas, a fim de reduzir a mortalidade materna por causas indiretas e alcançar melhores resultados de saúde materna no Brasil.