Ana Júlia Saldanha Lehnen, M. Rabello, G. Barros, Fernanda Freitas Oliveira Cardoso
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Abstract
Resumo: Este estudo objetivou analisar as percepções de obstetras e residentes de ginecologia-obstetrícia, atuantes numa maternidade escola federal, sobre o aborto legal em casos de gravidez decorrente de violência sexual, desvelando suas motivações, resistências e sentimentos, e identificando suas experiências com o tema. A primeira etapa correspondeu ao preenchimento de um questionário autoaplicável. Os critérios de seleção foram: obstetras vinculados ao centro obstétrico; diretor da divisão médica; e residentes do programa de ginecologia-obstetrícia da instituição. Obtiveram-se 36 questionários respondidos. A segunda etapa correspondeu à realização de uma entrevista, tendo sido utilizado o critério de amostragem por saturação e foram entrevistados seis médicos. As entrevistas foram analisadas pelo método de análise de conteúdo, na modalidade temática. Os questionários retrataram que todos os participantes já haviam prestado assistência a mulheres em situação de violência sexual e que a maioria já havia participado da realização de um aborto legal. As entrevistas evidenciaram os dilemas enfrentados pelos profissionais na assistência a esses casos e a escassez da formação profissional em relação à temática. A palavra da mulher foi tida ora como objeto de suspeição em relação à veracidade do estupro, ora como capaz de suscitar afetação das profissionais em suas escutas, o que possibilitou que essas se aproximassem das vítimas e ofertassem uma assistência mais humanizada. Os resultados apontaram para a importância da temática ser abordada nos campos da saúde e da formação para além do enfoque técnico-científico, visando produzir novas estratégias de cuidado.