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Abstract
Neste trabalho me ocupo com o funcionamento dos espaços de contradição na tessitura da memória discursiva sobre a presença negra no Sul embranquecido do Brasil. Presença que se marca como ausência pela negação, de parte de algumas posições, de que houve regime de escravidão. Marca-se como ausência também pelo modo como sujeitos negros e negras foram destituídos de seus arquivos. E, ainda, pelo silêncio que não dá voz a esses sujeitos para que coloquem em cena suas narrativas. Como é próprio de trabalhos em Análise do Discurso (AD), a língua, como lugar em que se manifesta o funcionamento da ideologia, é o observatório dos discursos. Língua embebida da materialidade histórica, espaço de lacunas e polêmicas. O gesto de análise recorta, do interior de um arquivo de falas pretas, o depoimento de um ex-escravizado e o verbete de uma Enciclopédia, no qual é registrada, em terceira pessoa, a tragicidade de uma vida negra. Entre o dizer e o ser-dito pela voz do outro, emergem as suturas, o impossível da cicatrização de uma memória sempre lacunar e contraditória. Cicatriz histórica que não cessa de se mostrar e produzir seus efeitos ante o esforço de superação da condição de não-pertencimento e de invisibilidade dos sujeitos negros.