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Abstract
Os medicamentos estão presentes no cotidiano de pessoas e sociedades de uma maneira inédita no âmbito da cultura. Do ponto de vista da economia, produção, circulação e consumo cresceram massivamente e integram de maneira decisiva os fluxos financeiros produtivos e rentistas que atravessam o planeta. Do ponto de vista das subjetividades, e enquanto objetos tecnológicos, eles atendem às demandas dos processos saúde doença, contribuem para a melhoria de diferentes performatividades humanas e ainda alimentam o sonho do melhoramento e da felicidade. Com o objetivo de problematizar o lugar cultural e tecnocientífico dos medicamentos, este artigo percorre trabalhos de Madeleine Akrisch, François Dagognet, Philippe Pignare e Ronald W. Dworkin, que os abordam em diferentes perspectivas. Na sequência, discute os processos de medicalização e biomedicalização em curso nos dias atuais, destacando as questões do sujeito cerebral (Alain Ehrenberg), do self neuroquímico (Nikolas Rose), e do lugar atual da psicologia cognitiva. Em contraponto, retoma a figura do monstro, tal como abordada por Michel Foucault, para ativá-la como categoria da imaginação, da anomalia e da singularização, multiplicando os horizontes éticos que se colocam para a pesquisa conjunta entre tecnociências e subjetividades.