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Abstract
O artigo propõe reflexão sobre o modo como a tragédia grega inscreveu em seus textos a presença daquilo que chamamos de “voz enlutada”. Trata-se da materialização, em uma emissão vocal genérica, da dor de uma perda fundamental que rege a vida do sujeito. Para nós, tal perda está associada àquela que a psicanálise descreve como primeira vivência de satisfação experimentada no laço com o Outro. Para sempre perdida, tal vivência é expressada na tragédia sob a forma da interjeição aîaî. Apresentando-se como um desdobramento do advérbio aeí (sempre) derivado de aion (força vital), o grito aîaî parece expressar a dor de um "para sempre" perdido que aos poucos se constitui como o próprio ato de perder. A tentativa de reencontro do objeto, a partir desta perda fundamental, será para sempre representado por Outra coisa.