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Abstract
Este artigo pretende contribuir para o estudo da escritora portuguesa Ana Teresa Pereira, procurando acrescentar às análises já conhecidas da sua obra um estudo sobre alguns procedimentos narrativos que ajudam a esclarecer a produção do efeito enigmático que emana de cada um dos seus livros. Com este objetivo, o artigo começa por discutir a pertinência desta obra no contexto da literatura portuguesa, contrastando-a com a evidente falta de atenção mediática e até académica que mesmo tem sofrido. Neste âmbito, procura-se recolher o essencial da crítica especializada de forma a relacionar as dificuldades intrínsecas da leitura desta obra com a sua recepção, convocando as reflexões de Rui Magalhães, Fernando Guerreiro, Duarte Pinheiro e Amândio Reis. Num segundo momento, tenta-se destacar algumas ideias fundamentais herdadas de géneros literários relativamente pouco frequentados na literatura portuguesa: a narrativa policial e fantástica, utilizando, para o efeito, as reflexões de Jorge Luis Borges e Tzvetan Todorov, respectivamente. Num terceiro momento, realiza-se uma análise de As personagens (1990), segundo livro da autora, pensando-o a partir da perspectiva pigliana sobre conto e novela. Por último, demonstra-se que a poética de Ana Teresa Pereira pode ser compreendida, na sua obsessão labiríntica, como programática no sentido em que, além dos seus temas mais assinalados – a (im)possibilidade representação, o fantasma da identidade, a angústia do confronto – é possível compreender uma preocupação e reflexão profundas sobre a composição de um texto e de um livro.