{"title":"Desinformação, negacionismo e a pandemia","authors":"Ernesto Perini-Santos","doi":"10.4013/fsu.2022.231.03","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"\n\n\nPara qualquer tema sobre o qual não se é especialista, deve-se deferir a quem sabe mais. A deferência aos outros entra em conflito com expectativas de autonomia epistêmica e de divisão democrática do saber. Uma solução para esta tensão é ceder a estas expectativas, o que é equivalente a abandonar o conhecimento. Uma outra solução consiste em restringir seus efeitos a temas sobre os quais temos algum interesse prático. Esta proposta é instável, porque o interesse prático pode se estender a qualquer tipo de tema, em virtude do papel identitário de teorias. As pressões pela divisão simétrica do saber se opõem a um traço central da cultura humana: a produção cooperativa do saber. Um grupo humano sempre sabe mais do que cada um de seus membros e, para todo mundo, parte do que sabe o grupo permanece opaco. A recusa da divisão do trabalho cognitivo é uma das fontes do negacionismo. Três elementos que reforçam este efeito: o modo de circulação da informação na internet, o crescimento da desigualdade e o ataque da extrema-direita às instituições que produzem o conhecimento. A pandemia pede mais confiança em conteúdos opacos, ao mesmo tempo em que cria uma atmosfera de profunda desconfiança.\nPalavras-chave: Epistemologia, divisão do trabalho cognitivo, negacionismo, pandemia.\n\n\n","PeriodicalId":41989,"journal":{"name":"Filosofia Unisinos","volume":" ","pages":""},"PeriodicalIF":0.1000,"publicationDate":"2022-04-05","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"1","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Filosofia Unisinos","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.4013/fsu.2022.231.03","RegionNum":4,"RegionCategory":"哲学","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"0","JCRName":"PHILOSOPHY","Score":null,"Total":0}
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Abstract
Para qualquer tema sobre o qual não se é especialista, deve-se deferir a quem sabe mais. A deferência aos outros entra em conflito com expectativas de autonomia epistêmica e de divisão democrática do saber. Uma solução para esta tensão é ceder a estas expectativas, o que é equivalente a abandonar o conhecimento. Uma outra solução consiste em restringir seus efeitos a temas sobre os quais temos algum interesse prático. Esta proposta é instável, porque o interesse prático pode se estender a qualquer tipo de tema, em virtude do papel identitário de teorias. As pressões pela divisão simétrica do saber se opõem a um traço central da cultura humana: a produção cooperativa do saber. Um grupo humano sempre sabe mais do que cada um de seus membros e, para todo mundo, parte do que sabe o grupo permanece opaco. A recusa da divisão do trabalho cognitivo é uma das fontes do negacionismo. Três elementos que reforçam este efeito: o modo de circulação da informação na internet, o crescimento da desigualdade e o ataque da extrema-direita às instituições que produzem o conhecimento. A pandemia pede mais confiança em conteúdos opacos, ao mesmo tempo em que cria uma atmosfera de profunda desconfiança.
Palavras-chave: Epistemologia, divisão do trabalho cognitivo, negacionismo, pandemia.