{"title":"Uma proposta formal para a reanálise do verbo ir no português brasileiro: de lexical a funcional","authors":"Paulo Ângelo de Araújo-Adriano","doi":"10.5007/1984-8420.2021.e76112","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Muitos linguistas já mostraram que a expressão de futuridade das línguas românicas sofre um processo cíclico, alternando-se ora em uma forma sintética ora em uma forma perifrástica. Isso se deve pela reanálise de algum item que se torna (mais) funcional, substituindo a forma sintética. Nesse sentido, o presente trabalho investiga o fenômeno de reanálise do verbo ir com o objetivo de capturar as mudanças sintáticas que esse item sofreu na história do PB. Para tanto, analiso peças teatrais brasileiras do século XVI ao século XXI. Mostro que o verbo ir, inicialmente, comportava-se como verbo lexical, disparando uma leitura de movimento. Mais tarde, sofreu reanálise e passou a ser funcional, apresentando propriedades de auxiliar. A inovação deste trabalho é mostrar que o verbo ir não sofreu reanálise diretamente para veicular futuridade, um evento em potência. Ao contrário, parece ter havido um estágio anterior nesse processo, em que ir veicula prospecção, isto é, uma ação que ocorre imediatamente após a fala. Assumindo Roberts e Roussou (2003) e Roberts (2007), proponho que de lexical a funcional, duas consequências sintáticas emergiram: perda de traços formais e lexicalização ascendente das projeções funcionais. Assim, este estudo apresenta uma proposta formal explicativa para a reanálise do verbo ir no PB.","PeriodicalId":31410,"journal":{"name":"Working Papers em Linguistica","volume":null,"pages":null},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2022-04-14","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"1","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Working Papers em Linguistica","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.5007/1984-8420.2021.e76112","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
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Abstract
Muitos linguistas já mostraram que a expressão de futuridade das línguas românicas sofre um processo cíclico, alternando-se ora em uma forma sintética ora em uma forma perifrástica. Isso se deve pela reanálise de algum item que se torna (mais) funcional, substituindo a forma sintética. Nesse sentido, o presente trabalho investiga o fenômeno de reanálise do verbo ir com o objetivo de capturar as mudanças sintáticas que esse item sofreu na história do PB. Para tanto, analiso peças teatrais brasileiras do século XVI ao século XXI. Mostro que o verbo ir, inicialmente, comportava-se como verbo lexical, disparando uma leitura de movimento. Mais tarde, sofreu reanálise e passou a ser funcional, apresentando propriedades de auxiliar. A inovação deste trabalho é mostrar que o verbo ir não sofreu reanálise diretamente para veicular futuridade, um evento em potência. Ao contrário, parece ter havido um estágio anterior nesse processo, em que ir veicula prospecção, isto é, uma ação que ocorre imediatamente após a fala. Assumindo Roberts e Roussou (2003) e Roberts (2007), proponho que de lexical a funcional, duas consequências sintáticas emergiram: perda de traços formais e lexicalização ascendente das projeções funcionais. Assim, este estudo apresenta uma proposta formal explicativa para a reanálise do verbo ir no PB.