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Abstract
As relações humanas estão no centro de cada escolha moral ou ética. Nicolau Maquiavel (1469-1527) traz em seu teatro representações complexas, significativas e emocionais da experiência humana. Esta diversidade de temas, ações e emoções contribui na reflexão sobre as escolhas pessoais, a sociedade e o tempo em que vivia. Porque então Mandragola (1518), obra prima dramática do teatro italiano foi censurada por tantos séculos? Quando há censura, esta visa a imposição de uma moral privada no espaço de todos, evidenciando a vontade de parte da sociedade em se afirmar como legítimos representantes da “verdade” que se identifica com suas crenças e estilo de vida. A ética, ao contrário, é uma pesquisa da verdade através da reflexão e do confronto. A ética demanda liberdade de escolha pelo indivíduo em seu modo de agir, conforme seu conceito. Se não existe confronto, não existe vontade possível. O questionamento ético começa desconstruindo os lugares sagrados da literatura e da crítica canônica. Trata-se de colocar sob suspeita os processos de semiotização da realidade, que reduzem o outro a uma representação homogeneizante. A partir disso, o artigo apresentará uma reflexão sobre a censura aplicada pela Igreja aos textos teatrais de Maquiavel, sob a alegação de que sua obra se oporia às ideias e conceitos difundidos pela instituição. Pretende-se demonstrar que, mais que discordar do conteúdo das obras, o objetivo era impedir a propagação da visão crítica de Maquiavel, ainda que isso não tivesse efeito prático sobre a sociedade e as relações humanas.