Editorial: Comuns urbanos em disputa

IF 0.4 Q4 ENVIRONMENTAL SCIENCES Revista de Gestao Ambiental e Sustentabilidade-GeAS Pub Date : 2021-04-22 DOI:10.5585/GEAS.V10I1.19831
Cintia Elisa de Castro Marino, Maria Carolina Maziviero
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É também um princípio político, não a ser atribuído, mas à ser instituído. Isso significa que algo é posto em comum, e isso depende de um ato político constante de apropriação, de autogestão e de um agir comum. Além disso, o movimento dos comuns não enxerga o Estado como instrumento de defesa e regulação de mercado. É uma luta permanente que enxerga a coatividade como instrumento fundamental de ação política contra o capital, em oposição inclusive ao Estado, que age como parceiro do mercado no capitalismo.Uma das maiores preocupações atuais é que bens naturais essenciais para a vida humana – como água, costas, rios e florestas – estão correndo o risco de cercamentos e privatizações. Essa preocupação não é diferente no espaço das cidades. Os comuns urbanos incluem os chamados bens e serviços públicos: parques, transporte, sistemas de saneamento, coleta de lixo, universidades e escolas públicas etc. A questão dos comuns é bastante ampla, não se limitando aos espaços ou bens públicos, igualmente abrange aspectos imateriais. Métodos de produção cultural e do conhecimento são bens comuns.Elinor Ostrom (2015) foi pioneira ao publicar sobre o comum na década de 1990. A economista política americana, que ganhou o prêmio Nobel em 2009 com esse trabalho, buscou uma análise empírica de estudos de caso voltada principalmente à gestão econômica, jurídica e administrativa do comum. O estudo foi o primeiro que vislumbrou pontos positivos sobre a gestão dos bens comuns, antes vistos como recursos não renováveis em constante processo de degradação. Voltado para comunidades locais e grupos pequenos que se organizavam colaborativamente para autogestão, o trabalho mostrou que era possível uma composição institucional de arranjos autônomos para a gestão de recursos e trabalhos em escala local. A autora, considerada uma neo-institucionalista, apontava modos de governança nas quais as práticas comunitárias pudessem ganhar centralidade dentro do aparato institucional. Neste sentido, não buscava substituir o mecanismo institucional, mas ampliá-lo através do protagonismo de formas de autogestão e auto-organização.      O mais recente trabalho de Dardot e Laval (2017) sobre o comum procura teorizar sobre o conceito, a fim de recolocá-lo na contemporaneidade como instrumento de luta para superação da racionalidade neoliberal. A etimologia do termo em grego (koinón) e em latim (munus) implicou sempre certa reciprocidade, significando ao mesmo tempo obrigação e atividade. Sobre as origens da questão, no surgimento da cidade grega, o homem ganhou uma espécie de segunda vida, pertencendo a duas esferas de existência: a sua vida privada, ou da família, e a vida em comum, ou política. No entanto, posteriormente, a doutrina política romana estatizou o comum, o direito à res publica ou à “coisa pública”, entendida esta, de forma restrita, como controlada pelo Estado. Assim, a instituição da propriedade privada advém do direito romano, o dominium, que permite total poder e usufruto exclusivo sobre uma coisa. A ideia de propriedade excluiu as coisas do uso comum e passou a negar a atividade de cooperação.Ainda sobre a trajetória do conceito, segundo os autores, entre os séculos XII e XV, a Igreja tentou estabelecer sua própria visão do comum como algo universal e divino. O homem deveria abdicar de qualquer propriedade ou posse, adotando um modo de vida dedicado ao “comum” ou à “coisa pública” a serviço da comunidade e de Deus. No entanto, no século XVII o termo encontrou ambiguidade na linguagem filosófica, com uma conotação longe do divino. Passou a ter sentido de vulgar, ordinário e do povo. O que se encontra por toda parte e que não é posse de ninguém. Com o tempo, a Igreja alinhou-se ao Estado feudal, mas também manteve uma corrente que hoje é identificada pela visão comunista que apoia e acompanha a luta de movimentos sociais.No curso da ideologia comunista, o termo comum teve três significados distintos. No primeiro, o comum era algo compartilhado que nunca deveria adquirir um valor unitário ou a ser repartido. O segundo, defendido por Marx, tinha o comum como a associação de produtores ou de homens livres. A forma de propriedade também estava associada ao trabalho coletivo. E o terceiro foi o comunismo de Estado, de propriedade estatal, visto como uma etapa para atingir uma forma desprovida de propriedade privada. A partir dos anos 1980, as experiências de comunismo atestaram que o comum realizado pelo Estado foi a destruição do comum pelo Estado, mostrou-se burocrático, autoritário e corrupto. As experiências históricas de tentativas de implementação do socialismo não dissociaram a gestão burocrática da economia do Estado, mas sim acentuaram sua tendência estatizante.Os autores (DARDOT; LAVAL, 2017) ainda contribuem com reflexões sobre a atual luta pelo comum. O desafio seria construir um novo tipo de cidade a partir do empenho de todos os habitantes, ou seja, a partir do interesse comum. Nem sempre depende de resgatar bens da propriedade do Estado ou da propriedade privada, mas sim tirá-los de uma gestão burocrática e submetê-los a uma gestão popular. Trata-se do poder político comunitário. Com a guinada neoliberal a partir dos anos 80 e a crescente privatização de propriedades e serviços estatais, o conceito parece ganhar uma nova ênfase. Já que quando nos referimos ao termo “público”, muitas vezes nos referimos a algo de propriedade pública, ou seja, de propriedade do Estado, que corre o risco de ter seu domínio modificado, de ser privatizado ou ter seu acesso restrito.Já a análise de Hardt e Negri (2016) sobre o comum tem seu enfoque  na construção de um horizonte revolucionário. Segundo os autores, após 1970, a produção capitalista deixou de ter como base a produção material e passou seu enfoque para as relações sociais e formas de vida: “uma operação predatória que funciona através da desapropriação, transformando em propriedade privada tanto a riqueza pública quando a riqueza produzida socialmente em comum” (HARDT, NEGRI, 2016, p.153). De tal modo, a acumulação capitalista é cada vez mais externa ao processo de produção industrial, e a luta de classe perde sua força, pois tinha como apoio o movimento sindical.Como contribuição à reflexão dos movimentos sociais e políticos anticapitalistas que surgiram nas últimas décadas, os autores defendem que a resistência só é possível com base na luta pelo comum, contra a privatização de todos os aspectos da vida social. Seria uma fuga coletiva da relação com o capital. Para os autores, a luta deve ser constante, pois a produção coletiva é captada pelo capitalismo e vendida como produto: o comum construído coletivamente hoje ganha valor de mercado amanhã.Para Harvey (2012, 2014), os cidadãos devem exercer  seu  direito coletivo de moldar a cidade, por meio de maior regulação e controles democráticos sobre o capital excedente empregado na urbanização. Defende um modelo de coprodução territorial. Na contramão da constatação que as cidades se convertem em mercadoria, o autor aponta para uma agenda transformadora presente na coletividade cidadã: o agir coletivo.Não obstante, Harvey apresenta algumas contradições na lógica dos comuns. Um grupo de commoners constantemente deve renegociar sua identidade e rearticular os interesses do coletivo, visto que com o tempo os indivíduos desenvolvem desejos em diversas direções. Porém a respeito da desejada horizontalidade de gestão: a tomada de decisões de maneira puramente horizontal muitas vezes pode ser uma estratégia demorada e ineficaz (HARVEY, 2014, p. 138).Outra ambiguidade aparece no uso do termo “cercamento”, Harvey ilustra como a questão pode ser utilizada tanto positivamente quanto negativamente dentro do sistema capitalista. Cercamento foi um termo adotado para despossessão das terras produtivas comunais na Inglaterra durante os séculos XVIII e XIX. Durante esse período, antigas terras de uso comum foram cercadas, restringido seu uso. Desde então, o termo cercamento vem sendo utilizado para a despossessão do comum, ou seja, a apropriação pelo privado daquilo que antes era de domínio público. Para o autor, a contradição no termo aparece quando o cercamento é utilizado em defesa de tudo aquilo que ainda não foi submetido ao capital. Por exemplo, ao restringir uma floresta no sentido de protegê-la, pode-se, por consequência, limitar usos tradicionais e sustentáveis, produtivos mas não ofensivos, de uma determinada comunidade local.Bollier (2016) reforça que a questão não é nova. Atualmente a discussão parte da compreensão das limitações da economia de mercado, no entanto, inúmeras comunidades tradicionais e povos indígenas logram uma familiaridade íntima com os bens comuns. É um modo de vida construído ao longo de centenas ou mesmo milhares de anos. Sobre práticas de cercamento do conhecimento e da cultura, o autor expõe antagonismos de aspectos legais e instrumentos como direitos autorais e marca registrada. Na produção científica, denuncia graves conflitos éticos da mercantilização universitária por meio de financiamento e parcerias com as grandes empresas que, com frequência, restringe o recorte das pesquisas e a ampla divulgação dos resultados.A discussão dos comuns urbanos coloca uma séri","PeriodicalId":42069,"journal":{"name":"Revista de Gestao Ambiental e Sustentabilidade-GeAS","volume":"10 1","pages":""},"PeriodicalIF":0.4000,"publicationDate":"2021-04-22","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Revista de Gestao Ambiental e Sustentabilidade-GeAS","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.5585/GEAS.V10I1.19831","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"Q4","JCRName":"ENVIRONMENTAL SCIENCES","Score":null,"Total":0}
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Abstract

Há um interesse crescente no campo dos estudos urbanos sobre o tema dos comuns, tanto em abordagens teóricas quanto em estudos que descrevem experiências que se aproximam de sua aplicação. A ideia do comum como bandeira de luta e reivindicação do mundo contra as privatizações e cercamentos – ou seja, para além da lógica da mercadoria e da propriedade – é retomada no imaginário político de movimentos e ativistas a partir dos movimentos altermundialistas dos anos 1990 e se consolida com o novo ciclo de protestos globais que ocorreram durante a segunda década do século XXI.O comum corresponde àquilo que deve ser protegido da apropriação capitalista e da lógica de propriedade (do Estado ou do mercado): recursos, espaços, formas de vida, conhecimento, entre outros. É também um princípio político, não a ser atribuído, mas à ser instituído. Isso significa que algo é posto em comum, e isso depende de um ato político constante de apropriação, de autogestão e de um agir comum. Além disso, o movimento dos comuns não enxerga o Estado como instrumento de defesa e regulação de mercado. É uma luta permanente que enxerga a coatividade como instrumento fundamental de ação política contra o capital, em oposição inclusive ao Estado, que age como parceiro do mercado no capitalismo.Uma das maiores preocupações atuais é que bens naturais essenciais para a vida humana – como água, costas, rios e florestas – estão correndo o risco de cercamentos e privatizações. Essa preocupação não é diferente no espaço das cidades. Os comuns urbanos incluem os chamados bens e serviços públicos: parques, transporte, sistemas de saneamento, coleta de lixo, universidades e escolas públicas etc. A questão dos comuns é bastante ampla, não se limitando aos espaços ou bens públicos, igualmente abrange aspectos imateriais. Métodos de produção cultural e do conhecimento são bens comuns.Elinor Ostrom (2015) foi pioneira ao publicar sobre o comum na década de 1990. A economista política americana, que ganhou o prêmio Nobel em 2009 com esse trabalho, buscou uma análise empírica de estudos de caso voltada principalmente à gestão econômica, jurídica e administrativa do comum. O estudo foi o primeiro que vislumbrou pontos positivos sobre a gestão dos bens comuns, antes vistos como recursos não renováveis em constante processo de degradação. Voltado para comunidades locais e grupos pequenos que se organizavam colaborativamente para autogestão, o trabalho mostrou que era possível uma composição institucional de arranjos autônomos para a gestão de recursos e trabalhos em escala local. A autora, considerada uma neo-institucionalista, apontava modos de governança nas quais as práticas comunitárias pudessem ganhar centralidade dentro do aparato institucional. Neste sentido, não buscava substituir o mecanismo institucional, mas ampliá-lo através do protagonismo de formas de autogestão e auto-organização.      O mais recente trabalho de Dardot e Laval (2017) sobre o comum procura teorizar sobre o conceito, a fim de recolocá-lo na contemporaneidade como instrumento de luta para superação da racionalidade neoliberal. A etimologia do termo em grego (koinón) e em latim (munus) implicou sempre certa reciprocidade, significando ao mesmo tempo obrigação e atividade. Sobre as origens da questão, no surgimento da cidade grega, o homem ganhou uma espécie de segunda vida, pertencendo a duas esferas de existência: a sua vida privada, ou da família, e a vida em comum, ou política. No entanto, posteriormente, a doutrina política romana estatizou o comum, o direito à res publica ou à “coisa pública”, entendida esta, de forma restrita, como controlada pelo Estado. Assim, a instituição da propriedade privada advém do direito romano, o dominium, que permite total poder e usufruto exclusivo sobre uma coisa. A ideia de propriedade excluiu as coisas do uso comum e passou a negar a atividade de cooperação.Ainda sobre a trajetória do conceito, segundo os autores, entre os séculos XII e XV, a Igreja tentou estabelecer sua própria visão do comum como algo universal e divino. O homem deveria abdicar de qualquer propriedade ou posse, adotando um modo de vida dedicado ao “comum” ou à “coisa pública” a serviço da comunidade e de Deus. No entanto, no século XVII o termo encontrou ambiguidade na linguagem filosófica, com uma conotação longe do divino. Passou a ter sentido de vulgar, ordinário e do povo. O que se encontra por toda parte e que não é posse de ninguém. Com o tempo, a Igreja alinhou-se ao Estado feudal, mas também manteve uma corrente que hoje é identificada pela visão comunista que apoia e acompanha a luta de movimentos sociais.No curso da ideologia comunista, o termo comum teve três significados distintos. No primeiro, o comum era algo compartilhado que nunca deveria adquirir um valor unitário ou a ser repartido. O segundo, defendido por Marx, tinha o comum como a associação de produtores ou de homens livres. A forma de propriedade também estava associada ao trabalho coletivo. E o terceiro foi o comunismo de Estado, de propriedade estatal, visto como uma etapa para atingir uma forma desprovida de propriedade privada. A partir dos anos 1980, as experiências de comunismo atestaram que o comum realizado pelo Estado foi a destruição do comum pelo Estado, mostrou-se burocrático, autoritário e corrupto. As experiências históricas de tentativas de implementação do socialismo não dissociaram a gestão burocrática da economia do Estado, mas sim acentuaram sua tendência estatizante.Os autores (DARDOT; LAVAL, 2017) ainda contribuem com reflexões sobre a atual luta pelo comum. O desafio seria construir um novo tipo de cidade a partir do empenho de todos os habitantes, ou seja, a partir do interesse comum. Nem sempre depende de resgatar bens da propriedade do Estado ou da propriedade privada, mas sim tirá-los de uma gestão burocrática e submetê-los a uma gestão popular. Trata-se do poder político comunitário. Com a guinada neoliberal a partir dos anos 80 e a crescente privatização de propriedades e serviços estatais, o conceito parece ganhar uma nova ênfase. Já que quando nos referimos ao termo “público”, muitas vezes nos referimos a algo de propriedade pública, ou seja, de propriedade do Estado, que corre o risco de ter seu domínio modificado, de ser privatizado ou ter seu acesso restrito.Já a análise de Hardt e Negri (2016) sobre o comum tem seu enfoque  na construção de um horizonte revolucionário. Segundo os autores, após 1970, a produção capitalista deixou de ter como base a produção material e passou seu enfoque para as relações sociais e formas de vida: “uma operação predatória que funciona através da desapropriação, transformando em propriedade privada tanto a riqueza pública quando a riqueza produzida socialmente em comum” (HARDT, NEGRI, 2016, p.153). De tal modo, a acumulação capitalista é cada vez mais externa ao processo de produção industrial, e a luta de classe perde sua força, pois tinha como apoio o movimento sindical.Como contribuição à reflexão dos movimentos sociais e políticos anticapitalistas que surgiram nas últimas décadas, os autores defendem que a resistência só é possível com base na luta pelo comum, contra a privatização de todos os aspectos da vida social. Seria uma fuga coletiva da relação com o capital. Para os autores, a luta deve ser constante, pois a produção coletiva é captada pelo capitalismo e vendida como produto: o comum construído coletivamente hoje ganha valor de mercado amanhã.Para Harvey (2012, 2014), os cidadãos devem exercer  seu  direito coletivo de moldar a cidade, por meio de maior regulação e controles democráticos sobre o capital excedente empregado na urbanização. Defende um modelo de coprodução territorial. Na contramão da constatação que as cidades se convertem em mercadoria, o autor aponta para uma agenda transformadora presente na coletividade cidadã: o agir coletivo.Não obstante, Harvey apresenta algumas contradições na lógica dos comuns. Um grupo de commoners constantemente deve renegociar sua identidade e rearticular os interesses do coletivo, visto que com o tempo os indivíduos desenvolvem desejos em diversas direções. Porém a respeito da desejada horizontalidade de gestão: a tomada de decisões de maneira puramente horizontal muitas vezes pode ser uma estratégia demorada e ineficaz (HARVEY, 2014, p. 138).Outra ambiguidade aparece no uso do termo “cercamento”, Harvey ilustra como a questão pode ser utilizada tanto positivamente quanto negativamente dentro do sistema capitalista. Cercamento foi um termo adotado para despossessão das terras produtivas comunais na Inglaterra durante os séculos XVIII e XIX. Durante esse período, antigas terras de uso comum foram cercadas, restringido seu uso. Desde então, o termo cercamento vem sendo utilizado para a despossessão do comum, ou seja, a apropriação pelo privado daquilo que antes era de domínio público. Para o autor, a contradição no termo aparece quando o cercamento é utilizado em defesa de tudo aquilo que ainda não foi submetido ao capital. Por exemplo, ao restringir uma floresta no sentido de protegê-la, pode-se, por consequência, limitar usos tradicionais e sustentáveis, produtivos mas não ofensivos, de uma determinada comunidade local.Bollier (2016) reforça que a questão não é nova. Atualmente a discussão parte da compreensão das limitações da economia de mercado, no entanto, inúmeras comunidades tradicionais e povos indígenas logram uma familiaridade íntima com os bens comuns. É um modo de vida construído ao longo de centenas ou mesmo milhares de anos. Sobre práticas de cercamento do conhecimento e da cultura, o autor expõe antagonismos de aspectos legais e instrumentos como direitos autorais e marca registrada. Na produção científica, denuncia graves conflitos éticos da mercantilização universitária por meio de financiamento e parcerias com as grandes empresas que, com frequência, restringe o recorte das pesquisas e a ampla divulgação dos resultados.A discussão dos comuns urbanos coloca uma séri
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社论:有争议的城市公地
在城市研究领域,人们对公地的主题越来越感兴趣,无论是在理论方法上,还是在描述接近公地应用的经验的研究上。的想法像世界上挣扎的旗帜,并要求对私有化和cercamentos—即,超越逻辑的意象的商品和财产—是其运动的政治活动家从1990年代altermundialistas运动和整合的新一轮全球示威发生在21世纪的第二个十年。公地对应的是必须保护的东西,不受资本主义占有和所有权逻辑(国家或市场)的影响:资源、空间、生活方式、知识等等。这也是一项政治原则,不是要分配,而是要确立。这意味着有一些共同之处,而这取决于不断的所有权、自我管理和共同行动的政治行为。此外,公地运动并不认为国家是市场防卫和监管的工具。这是一场持续的斗争,它将团结视为反对资本的政治行动的基本工具,甚至反对作为资本主义市场伙伴的国家。目前最大的担忧之一是,对人类生命至关重要的自然资源,如水、海岸、河流和森林,正面临被包围和私有化的风险。这种担忧在城市空间中也不例外。城市公地包括所谓的公共产品和服务:公园、交通、卫生系统、垃圾收集、大学和公立学校等。公地的问题是相当广泛的,它不局限于公共空间或物品,也包括非物质方面。文化生产方法和知识是共同商品。埃莉诺·奥斯特罗姆(2015)在20世纪90年代率先发表了关于公地的文章。2009年获得诺贝尔奖的美国政治经济学家寻求对案例研究的实证分析,主要集中在公共的经济、法律和行政管理。这项研究是第一次看到关于公地管理的积极观点,公地以前被视为不断退化的不可再生资源。这项工作以合作组织自我管理的地方社区和小团体为目标,表明在地方一级管理资源和工作的自治安排的体制组成是可能的。作者被认为是一个新制度主义者,指出了社区实践可以在制度机构中获得中心地位的治理模式。从这个意义上说,它并没有寻求取代制度机制,而是通过自我管理和自组织的形式来扩大制度机制。达多和拉瓦尔(2017)关于公地的最新著作试图将公地的概念理论化,以便将其作为克服新自由主义理性的斗争工具重新置于当代。这个词在希腊语(koinon)和拉丁语(munus)中的词源总是暗示着某种互惠,同时意味着义务和活动。关于这个问题的起源,在希腊城市的出现中,人类获得了一种第二生命,属于两个存在领域:他的私人生活,或家庭生活,和共同生活,或政治生活。然而,后来罗马的政治学说将共同的东西,即公共财产或“公共事物”的权利,严格地理解为由国家控制。因此,私有财产制度源于罗马法,即自治法,它允许对某物拥有完全的权力和专有权。所有权的概念排除了共同使用的东西,并开始否定合作活动。根据作者的说法,在12世纪到15世纪之间,教会试图建立自己的共同愿景,即普遍和神圣的东西。人应该放弃任何财产或占有,采用一种献身于“公共”或“公共事务”的生活方式,为社区和上帝服务。然而,到了17世纪,这个词在哲学语言中变得模糊,其内内力与神圣相去遥远。他开始觉得自己很庸俗,很普通,很普通。到处都能找到的东西,而不是别人拥有的。随着时间的推移,教会与封建国家结盟,但它也保持了一种潮流,这种潮流今天被共产主义观点所认同,这种观点支持并伴随社会运动的斗争。在共产主义意识形态的过程中,“普通”一词有三种不同的含义。在第一种情况下,公地是共享的东西,永远不应该获得单位价值或分配。第二种是马克思所捍卫的,其共同之处在于生产者或自由人的联合。财产的形式也与集体劳动有关。 第三种是国家共产主义,国家所有制,被视为迈向无私有财产形式的一步。从20世纪80年代开始,共产主义的经验证明,国家实现的公地就是国家对公地的破坏,它被证明是官僚主义、独裁主义和腐败的。实施社会主义的历史经验并没有使官僚主义管理与国家经济分离,而是加剧了它的中央集权倾向。作者(DARDOT;LAVAL, 2017)也对当前为公地而战的反思做出了贡献。我们面临的挑战是在所有居民的承诺基础上,即在共同利益的基础上,建设一种新型的城市。它并不总是依赖于从国家或私人财产中拯救财产,而是依赖于将它们从官僚管理中移除,并将它们置于基层管理之下。这是共同体的政治权力。随着20世纪80年代新自由主义的转变,以及国家财产和服务的日益私有化,这一概念似乎得到了新的重视。因为当我们提到“公共”这个词时,我们通常指的是公共财产,即国家财产,它面临着域名被修改、私有化或访问受限的风险。哈特和内格里(2016)对共同的分析集中在革命视野的构建上。第二作者,1970年之后,资本主义生产不再生产材料为基础,集中了社会关系和生活方式:“手术不相上下。如何通过土地征用权,在私有财产的公共财富的财富的时候,产生共同的社会”(p.153哈特,阿尼,2016)。因此,资本积累越来越脱离工业生产过程,阶级斗争失去了力量,因为它得到了工会运动的支持。作为对近几十年来出现的反资本主义社会和政治运动的反思的贡献,作者认为,抵抗只有在共同斗争的基础上才有可能,反对社会生活各个方面的私有化。这将是一种集体逃离与资本关系的方式。对于作者来说,斗争必须是持续的,因为集体生产被资本主义捕获,并作为产品出售:今天集体构建的公共明天获得市场价值。对于Harvey(2012, 2014)来说,公民应该行使他们的集体权利,通过加强对城市化中使用的剩余资本的监管和民主控制来塑造城市。它提倡领土合作的模式。与城市成为商品的事实相反,作者指出了公民集体中存在的变革议程:集体行动。然而,哈维在公地逻辑中提出了一些矛盾。一群平民必须不断地重新协商他们的身份,重新阐明集体的利益,因为随着时间的推移,个人会在不同的方向发展欲望。但是关于期望的水平管理:纯粹的水平决策往往是一种耗时和无效的策略(HARVEY, 2014,第138页)。另一个歧义出现在“包围”一词的使用上,哈维说明了在资本主义制度中如何积极和消极地使用这个问题。包围是18世纪和19世纪英国对公共生产土地的剥夺。在此期间,旧的公共土地被围起来,限制了它们的使用。从那时起,“围栏”一词就被用来剥夺公共财产,即私人对以前属于公共领域的东西的占有。对作者来说,当围栏被用来保护所有尚未提交给资本的东西时,这个词的矛盾就出现了。例如,为了保护森林而限制森林,因此可以限制特定当地社区传统的、可持续的、生产性的但无害的用途。Bollier(2016)强调,这个问题并不新鲜。目前,讨论的出发点是理解市场经济的局限性,然而,许多传统社区和土著人民实现了对公地的亲密熟悉。这是一种建立了数百年甚至数千年的生活方式。在知识和文化的包围实践方面,作者揭示了法律方面和文书的对立,如版权和商标。在科学生产方面,它谴责了大学通过资助和与大公司合作而商品化的严重伦理冲突,这往往限制了研究的重点和成果的广泛传播。 对城市公地的讨论提出了一系列的问题
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