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Abstract
Entre os bens culturais identificados no Inventário Nacional de Referências Culturais dos Quilombos de Oriximiná, as histórias contadas sobre visagens, bichos e encantados se destacam em função de sua riqueza linguística, eloquência performática e carga simbólica, constituindo um elemento identitário peculiar das 37 comunidades quilombolas desse município paraense. Por meio de conversas informais e entrevistas abertas realizadas com 130 indivíduos em cerca de dois meses de trabalho de campo, foram registradas aproximadamente 70 narrativas dessa natureza, que deram vazão a uma recorrente forma de expressão da cosmovisão local. Do acervo constituído, integralmente transpassado para o suporte textual, o relato sobre “a corrente que arrastava” é tomado, em sua forma escrita, como objeto deste trabalho. Registrado na Cachoeira Porteira, ele traduz – em poucas palavras dotadas de alto valor simbólico – múltiplos aspectos do histórico de ocupação negra na região. Aponta, portanto, incontestes referências do patrimônio cultural das comunidades quilombolas de Oriximiná.