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Abstract
Este ensaio busca pensar de que modo parte da dramaturgia beckettiana pode ser lida como uma espectropoética, isto é, concebida como modo de trabalhar o elemento espectral em suas composições via procedimentos sonoros e imagéticos específicos. Pautadas pela fragmentação sonora, pela polifonia, pela duplicação vocal e figural, as peças televisivas de Beckett teriam como traço comum a ênfase na dimensão auditiva e no universo acústico das operações características de meios sonoros, o que resultaria na criação de zonas de tensão entre temporalidade e espacialidade, matéria sonora das palavras e imagem. Essas espectropoéticas se configurariam então como exercícios de experimentação vocal e de escuta marcados por traço lacunar, por reduplicações, ressonâncias e espelhamentos que caracterizariam a indeterminação da ausência-presença como procedimento formal privilegiado dessa dramaturgia.