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Abstract
À medida que a pandemia do COVID-19 atingiu o mundo, muitos atores globais da saúde conceberam o lar como um espaço de proteção por excelência e interpretaram as vidas humanas como corpos biológicos abstratos sob o cerco do vírus. Diante das ordens de ficar em casa, uma menina de dez anos que enfrentava uma intensificação da violência sexual doméstica emergiu de sua existência anônima para buscar um aborto, quebrando essa imposição biológica ao exigir outro tipo de corpo habitável. Este ensaio aborda etnograficamente sua jornada para fora do confinamento pandêmico, a travessia de seu corpo para novas zonas de inteligibilidade e a interface entre sua história, o público e a lei na determinação de sua “cidadania biológica”. Na interseção desses atores, novas definições de pertencimento e sobrevivência foram colocadas e contestadas no contexto da política pandêmica.