Nagila Kelli Prado Sana Utinói, Aparecida Negri Isquerdo
{"title":"A toponímia de comunidades quilombolas do Centro-Oeste: relações entre língua, cultura e história nas formas de nomeação","authors":"Nagila Kelli Prado Sana Utinói, Aparecida Negri Isquerdo","doi":"10.20435/tellus.vi44.752","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Este artigo tem como propósito discutir questões históricas, sociais e ideológicas relacionadas às nomeações de comunidades quilombolas, situadas na região Centro-Oeste, devidamente certificadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) até 2016. O estudo pauta-se na análise toponímica das denominações das 131 comunidades quilombolas que compõem o corpus deste estudo que, por sua vez, reuniu 131 topônimos, assim distribuídos: Mato Grosso (78); Goiás (32); Mato Grosso do Sul (21). Busca-se examinar em que proporção os topônimos que nomeiam essas comunidades refletem aspectos linguísticos, históricos, culturais relacionados aos povos africanos no Brasil. Para tanto, toma-se como parâmetro o referencial teórico Dick (1990; 1992; 1998; 2008) para a análise dos topônimos; as contribuições de Castro (2001; 2003); de Petter (2004) e de Petter e Cunha2015) para a análise da questão da presença de línguas africanas no léxico do português do Brasil. Em termos linguísticos, dos topônimos analisados, 2,96 % são de base africana; 6,10% são de origem indígena e 90,94% provêm da língua portuguesa e/ou de outras línguas europeias. Dentre as línguas africanas representadas no recorte de topônimos estudados, destacam-se as línguas kwa (Exu), kikongo Kimbundu (Monjolo; Kalunga). No que se refere à natureza dos nomes, predominam topônimos de natureza antropocultural com destaque para os sociotopônimos (Família Bispo; Família Jarcem) e os hagiotopônimos (Santo Antônio; São João Batista). Os de natureza física predominam os geomorfotopônimos seguido dos fitotopônimos. A predominância de nomes de santos do hagiológico romano que têm seus correspondentes nos cultos africanos apontam para a história do afro-brasileiro e seu ideário. Em síntese, o estudo demonstra a importância dos topônimos como marcadores ideológicos, pois por meio da toponímia pode-se recuperar aspectos culturais, no caso, indícios do modus vivendi do povo africano em território brasileiro e a questão da valorização das línguas africanas no léxico e por extensão, na toponímia.","PeriodicalId":54433,"journal":{"name":"Tellus Series A-Dynamic Meteorology and Oceanography","volume":"45 1","pages":""},"PeriodicalIF":2.0000,"publicationDate":"2021-08-16","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Tellus Series A-Dynamic Meteorology and Oceanography","FirstCategoryId":"89","ListUrlMain":"https://doi.org/10.20435/tellus.vi44.752","RegionNum":4,"RegionCategory":"地球科学","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
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Abstract
Este artigo tem como propósito discutir questões históricas, sociais e ideológicas relacionadas às nomeações de comunidades quilombolas, situadas na região Centro-Oeste, devidamente certificadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) até 2016. O estudo pauta-se na análise toponímica das denominações das 131 comunidades quilombolas que compõem o corpus deste estudo que, por sua vez, reuniu 131 topônimos, assim distribuídos: Mato Grosso (78); Goiás (32); Mato Grosso do Sul (21). Busca-se examinar em que proporção os topônimos que nomeiam essas comunidades refletem aspectos linguísticos, históricos, culturais relacionados aos povos africanos no Brasil. Para tanto, toma-se como parâmetro o referencial teórico Dick (1990; 1992; 1998; 2008) para a análise dos topônimos; as contribuições de Castro (2001; 2003); de Petter (2004) e de Petter e Cunha2015) para a análise da questão da presença de línguas africanas no léxico do português do Brasil. Em termos linguísticos, dos topônimos analisados, 2,96 % são de base africana; 6,10% são de origem indígena e 90,94% provêm da língua portuguesa e/ou de outras línguas europeias. Dentre as línguas africanas representadas no recorte de topônimos estudados, destacam-se as línguas kwa (Exu), kikongo Kimbundu (Monjolo; Kalunga). No que se refere à natureza dos nomes, predominam topônimos de natureza antropocultural com destaque para os sociotopônimos (Família Bispo; Família Jarcem) e os hagiotopônimos (Santo Antônio; São João Batista). Os de natureza física predominam os geomorfotopônimos seguido dos fitotopônimos. A predominância de nomes de santos do hagiológico romano que têm seus correspondentes nos cultos africanos apontam para a história do afro-brasileiro e seu ideário. Em síntese, o estudo demonstra a importância dos topônimos como marcadores ideológicos, pois por meio da toponímia pode-se recuperar aspectos culturais, no caso, indícios do modus vivendi do povo africano em território brasileiro e a questão da valorização das línguas africanas no léxico e por extensão, na toponímia.
期刊介绍:
Tellus A: Dynamic Meteorology and Oceanography along with its sister journal Tellus B: Chemical and Physical Meteorology, are the international, peer-reviewed journals of the International Meteorological Institute in Stockholm, an independent non-for-profit body integrated into the Department of Meteorology at the Faculty of Sciences of Stockholm University, Sweden. Aiming to promote the exchange of knowledge about meteorology from across a range of scientific sub-disciplines, the two journals serve an international community of researchers, policy makers, managers, media and the general public.
Original research papers comprise the mainstay of Tellus A. Review articles, brief research notes, and letters to the editor are also welcome. Special issues and conference proceedings are published from time to time.
The scope of Tellus A spans dynamic meteorology, physical oceanography, data assimilation techniques, numerical weather prediction, climate dynamics and climate modelling.