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Abstract
Uma variável que perpassa a maioria das variedades do português brasileiro é a alternância entre os pronomes ‘tu’ e ‘você’ para referir-se ao interlocutor, fenômeno que vem sendo abordado por diferentes pesquisadores variacionistas, entre os quais se destacam Menon (2000), Corrêa (2002), Lorengian-Penkal (2004), Lucca (2005), Dias (2007), Lopes (2007) e Franceschini (2011). O objetivo deste trabalho é enfocar essa alternância na variedade rio-branquense, com a finalidade específica de examinar se o fenômeno investigado é um caso real de variação em que a seleção de uma das variantes pode representar uma marca de identidade social em virtude da possível atribuição de prestígio ou estigma ou se, alternativamente, trata-se de um caso real de escolha funcional em que as duas formas se alternam para produzir diferentes efeitos discursivos em termos de determinação da referência à segunda pessoa. A investigação das formas ‘tu’ e ‘você’ tem por base o Banco de Dados do Projeto Estudo da Fala Urbana de Rio Branco, composto por relatos de experiência pessoal, coletados e transcritos pelo Grupo de Pesquisa Ecossistema Linguístico do Acre. Os resultados apontam para uma expressiva predominância de ‘você’ na referência indeterminada. Quando se consideram os dados da referência determinada, a preferência por ‘você’ está reservada predominantemente ao uso de informantes com escolarização superior, e a preferência por ‘tu’, ao uso de informantes com ensino fundamental e médio. Essa distribuição sinaliza claramente a atribuição de um valor de prestígio ao uso do pronome ‘você’. Identificaram-se alguns casos de enunciados contendo discursos reportados, um contexto potencialmente acessível a diferentes relações de papel entre os interlocutores envolvidos. Nesse contexto, escolher ‘tu’ ou ‘você’ é motivado pela situação de interação mediante o uso de ‘você’ para indicar valores de distância e formalidade e o uso de tu para indicar valores de familiaridade e informalidade.