{"title":"健忘症患者","authors":"Roberta Puccini Gontijo","doi":"10.35699/2525-8036.2022.41121","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Neste trabalho, focalizam-se duas amnésias tipicamente brasileiras – a primeira apegada a uma postura cética quanto à possibilidade de quaisquer progressos sociais e a segunda, à crença desarrazoada em um passado quase idílico. Entrelaçando-as à vulgarização do texto constitucional, busca-se compreender a maneira pela qual o espectro dos primeiros amnésicos favorece o comportamento dos segundos, bem como a maneira pela qual ambos relacionam-se à aparição, no plano concreto, do risco à desnaturação constitucional-democrática. Para tanto, este trabalho observa como se dá o salto da descrença na efetividade normativa à indiferença política, terreno do qual falsários da história – mistificadores do passado e complotistas – irão se aproveitar e também perscruta as artimanhas utilizadas pelos segundos amnésicos para colocar em prática seus anseios. Ao fim deste projeto, vê-se que, embora permanente, a crise brasileira ganha novas feições quando a disputa pelo poder alcança o campo digital, espaço amplificador de fanatismos, de retóricas inverossímeis e de polarizações. Se se pretende compreender a democracia brasileira em seu estágio atual, pensa-se ser necessário, antes de tudo, analisar as mentalidades que a favoreceram; daí o desejo de investigar a potência das vozes amnésicas no cenário político brasileiro. É nesse sentido que se concebe a metáfora da nau dos amnésicos, com a qual o presente trabalho se inicia. Adentrando-a, verifica-se que é a partir do silêncio, da inércia, que a democracia se desnatura.","PeriodicalId":256878,"journal":{"name":"Revista de Ciências do Estado","volume":"76 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2022-12-31","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":"{\"title\":\"amnésicos\",\"authors\":\"Roberta Puccini Gontijo\",\"doi\":\"10.35699/2525-8036.2022.41121\",\"DOIUrl\":null,\"url\":null,\"abstract\":\"Neste trabalho, focalizam-se duas amnésias tipicamente brasileiras – a primeira apegada a uma postura cética quanto à possibilidade de quaisquer progressos sociais e a segunda, à crença desarrazoada em um passado quase idílico. Entrelaçando-as à vulgarização do texto constitucional, busca-se compreender a maneira pela qual o espectro dos primeiros amnésicos favorece o comportamento dos segundos, bem como a maneira pela qual ambos relacionam-se à aparição, no plano concreto, do risco à desnaturação constitucional-democrática. Para tanto, este trabalho observa como se dá o salto da descrença na efetividade normativa à indiferença política, terreno do qual falsários da história – mistificadores do passado e complotistas – irão se aproveitar e também perscruta as artimanhas utilizadas pelos segundos amnésicos para colocar em prática seus anseios. Ao fim deste projeto, vê-se que, embora permanente, a crise brasileira ganha novas feições quando a disputa pelo poder alcança o campo digital, espaço amplificador de fanatismos, de retóricas inverossímeis e de polarizações. Se se pretende compreender a democracia brasileira em seu estágio atual, pensa-se ser necessário, antes de tudo, analisar as mentalidades que a favoreceram; daí o desejo de investigar a potência das vozes amnésicas no cenário político brasileiro. É nesse sentido que se concebe a metáfora da nau dos amnésicos, com a qual o presente trabalho se inicia. Adentrando-a, verifica-se que é a partir do silêncio, da inércia, que a democracia se desnatura.\",\"PeriodicalId\":256878,\"journal\":{\"name\":\"Revista de Ciências do Estado\",\"volume\":\"76 1\",\"pages\":\"0\"},\"PeriodicalIF\":0.0000,\"publicationDate\":\"2022-12-31\",\"publicationTypes\":\"Journal Article\",\"fieldsOfStudy\":null,\"isOpenAccess\":false,\"openAccessPdf\":\"\",\"citationCount\":\"0\",\"resultStr\":null,\"platform\":\"Semanticscholar\",\"paperid\":null,\"PeriodicalName\":\"Revista de Ciências do Estado\",\"FirstCategoryId\":\"1085\",\"ListUrlMain\":\"https://doi.org/10.35699/2525-8036.2022.41121\",\"RegionNum\":0,\"RegionCategory\":null,\"ArticlePicture\":[],\"TitleCN\":null,\"AbstractTextCN\":null,\"PMCID\":null,\"EPubDate\":\"\",\"PubModel\":\"\",\"JCR\":\"\",\"JCRName\":\"\",\"Score\":null,\"Total\":0}","platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Revista de Ciências do Estado","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.35699/2525-8036.2022.41121","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
Neste trabalho, focalizam-se duas amnésias tipicamente brasileiras – a primeira apegada a uma postura cética quanto à possibilidade de quaisquer progressos sociais e a segunda, à crença desarrazoada em um passado quase idílico. Entrelaçando-as à vulgarização do texto constitucional, busca-se compreender a maneira pela qual o espectro dos primeiros amnésicos favorece o comportamento dos segundos, bem como a maneira pela qual ambos relacionam-se à aparição, no plano concreto, do risco à desnaturação constitucional-democrática. Para tanto, este trabalho observa como se dá o salto da descrença na efetividade normativa à indiferença política, terreno do qual falsários da história – mistificadores do passado e complotistas – irão se aproveitar e também perscruta as artimanhas utilizadas pelos segundos amnésicos para colocar em prática seus anseios. Ao fim deste projeto, vê-se que, embora permanente, a crise brasileira ganha novas feições quando a disputa pelo poder alcança o campo digital, espaço amplificador de fanatismos, de retóricas inverossímeis e de polarizações. Se se pretende compreender a democracia brasileira em seu estágio atual, pensa-se ser necessário, antes de tudo, analisar as mentalidades que a favoreceram; daí o desejo de investigar a potência das vozes amnésicas no cenário político brasileiro. É nesse sentido que se concebe a metáfora da nau dos amnésicos, com a qual o presente trabalho se inicia. Adentrando-a, verifica-se que é a partir do silêncio, da inércia, que a democracia se desnatura.