Patrick De Almeida Trindade Braga, Marco Antonio Costa da Silva
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Desde a consolidação do dimorfismo sexual como uma verdade ontológica acerca do binarismo de gênero no discurso biomédico, corpos que, no momento de seu nascimento não se encaixem no padrão consolidado como normal – que enuncia corpos femininos ou masculinos com uma série de especificidades – são tratados como doentes e encaixados na categoria diagnóstica de anomalia de desenvolvimento sexual, termo popularmente conhecido como intersexualidade. Embora para o tratamento de tal “anomalia” seja recomendada, diversas intervenções de ordem hormonal, cirúrgica ou prostética, os genitais ou outros órgãos sexualizados não são doentes em si, não oferecendo qualquer risco à vida do paciente intersexo, que não o de ser estigmatizado como anormal e ter sua existência impossibilitada. Assim, as intervenções para readequação destes corpos a uma inteligibilidade de gênero binária não são levadas a cabo pela necessidade de tratar uma patologia, mas para impedir a existência de corpos que não se encaixem naquilo que é enunciado como normal. Desta feita, o presente trabalho tem como escopo a análise dos enunciados biomédicos que tratam a intersexualidade como patologia, de modo a enfatizar seu caráter tecno-necrobiopolítico e fazendo apontamentos prescritivos para uma hospitalidade biomédica incondicional. Para tal, utiliza-se a revisão bibliográfica do discurso biomédico sobre as questões de intersexualidade, de produções acerca da história da sexualidade e do binarismo sexual na sociedade ocidental e de produções contradiscursivas dentro do campo da biomedicina, articulando tais noções à teoria queer.