{"title":"我与弗兰肯斯坦的清晨:对自动机的简要反思和经典的翻译","authors":"C. Schwartz","doi":"10.5935/1679-5520.20190028","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Alguns anos atrás, passei três meses mergulhado numa das mais célebres histórias de terror de todos os tempos, Frankenstein. A tradução – publicada com grande esmero editorial na coleção de clássicos PenguinCompanhia das Letras – foi, como era meu hábito àquela época, toda feita de madrugada, ignorando o bom senso e conselhos de amigos e familiares. Mas medo, posso garantir, não senti em momento nenhum, noites adentro debruçado sobre livros e o teclado do computador. Não digo isso por bravata: é que sempre me faltou afinidade com histórias de terror – elas não me comovem. Nunca comoveram. E, portanto, não me assustam. O que não me impede de reconhecer, sem hesitar, que Frankenstein, escrito por uma jovem Mary Shelley, então com menos de 20 anos, no início do século XIX, é um clássico total. Ao menos na minha definição particular do que seja um clássico: aquele livro que, não importa em que versão – ou tradução – e a que distância de sua publicação original, continue dizendo coisas importantes, universalmente. Mas ser capaz de elaborar sobre o que é um clássico, e com uma definição de minha própria lavra, não leva automaticamente a saber como se faz para, também de próprio punho, reescrever um clássico – e, para todos os efeitos, trata-se de outro texto – um ou dois séculos depois, em outra língua, para leitores futuros e contemporâneos. (E agora que penso nisso: esses leitores de hoje, com seus e-books e tablets, são eles próprios leitores futuros – de um futuro muito longínquo daquele 1818, ano em que o livro","PeriodicalId":197371,"journal":{"name":"REVISTA Scripta Uniandrade","volume":"98 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"1900-01-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":"{\"title\":\"Minhas madrugadas com Frankenstein: breve reflexão sobre autômatos e a tradução de um clássico\",\"authors\":\"C. Schwartz\",\"doi\":\"10.5935/1679-5520.20190028\",\"DOIUrl\":null,\"url\":null,\"abstract\":\"Alguns anos atrás, passei três meses mergulhado numa das mais célebres histórias de terror de todos os tempos, Frankenstein. A tradução – publicada com grande esmero editorial na coleção de clássicos PenguinCompanhia das Letras – foi, como era meu hábito àquela época, toda feita de madrugada, ignorando o bom senso e conselhos de amigos e familiares. Mas medo, posso garantir, não senti em momento nenhum, noites adentro debruçado sobre livros e o teclado do computador. Não digo isso por bravata: é que sempre me faltou afinidade com histórias de terror – elas não me comovem. Nunca comoveram. E, portanto, não me assustam. O que não me impede de reconhecer, sem hesitar, que Frankenstein, escrito por uma jovem Mary Shelley, então com menos de 20 anos, no início do século XIX, é um clássico total. Ao menos na minha definição particular do que seja um clássico: aquele livro que, não importa em que versão – ou tradução – e a que distância de sua publicação original, continue dizendo coisas importantes, universalmente. Mas ser capaz de elaborar sobre o que é um clássico, e com uma definição de minha própria lavra, não leva automaticamente a saber como se faz para, também de próprio punho, reescrever um clássico – e, para todos os efeitos, trata-se de outro texto – um ou dois séculos depois, em outra língua, para leitores futuros e contemporâneos. (E agora que penso nisso: esses leitores de hoje, com seus e-books e tablets, são eles próprios leitores futuros – de um futuro muito longínquo daquele 1818, ano em que o livro\",\"PeriodicalId\":197371,\"journal\":{\"name\":\"REVISTA Scripta Uniandrade\",\"volume\":\"98 1\",\"pages\":\"0\"},\"PeriodicalIF\":0.0000,\"publicationDate\":\"1900-01-01\",\"publicationTypes\":\"Journal Article\",\"fieldsOfStudy\":null,\"isOpenAccess\":false,\"openAccessPdf\":\"\",\"citationCount\":\"0\",\"resultStr\":null,\"platform\":\"Semanticscholar\",\"paperid\":null,\"PeriodicalName\":\"REVISTA Scripta Uniandrade\",\"FirstCategoryId\":\"1085\",\"ListUrlMain\":\"https://doi.org/10.5935/1679-5520.20190028\",\"RegionNum\":0,\"RegionCategory\":null,\"ArticlePicture\":[],\"TitleCN\":null,\"AbstractTextCN\":null,\"PMCID\":null,\"EPubDate\":\"\",\"PubModel\":\"\",\"JCR\":\"\",\"JCRName\":\"\",\"Score\":null,\"Total\":0}","platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"REVISTA Scripta Uniandrade","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.5935/1679-5520.20190028","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
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摘要
几年前,我花了三个月的时间沉浸在史上最著名的恐怖故事之一《弗兰肯斯坦》中。这篇翻译——在PenguinCompanhia das Letras的经典作品集中以编辑的方式出版——和我当时的习惯一样,完全是在黎明时分完成的,不顾朋友和家人的常识和建议。但是恐惧,我可以向你保证,我从来没有感觉到过,晚上躺在书和电脑键盘上。我这么说不是为了虚张声势:我一直对恐怖故事缺乏亲和力——它们并没有打动我。没了。所以他们不会吓到我。但我毫不犹豫地承认,19世纪初,年轻的玛丽·雪莱(Mary Shelley)在20岁以下写的《弗兰肯斯坦》(Frankenstein)绝对是经典之作。至少在我对经典的特殊定义中:这本书,无论它的版本或翻译是什么,无论它与最初的出版有多远,都在普遍地讲述着重要的事情。但能够制定的很经典,和我自己定义自己的,不知道怎么让它自动打开,还亲手,改写经典—在任何情况下,这是另一个文本—一个或两个世纪后,在另一种语言,为未来的读者和同时代的人。(现在我想:今天的读者,带着他们的电子书和平板电脑,他们自己就是未来的读者——来自一个遥远的未来,1818年,这本书出版的那一年
Minhas madrugadas com Frankenstein: breve reflexão sobre autômatos e a tradução de um clássico
Alguns anos atrás, passei três meses mergulhado numa das mais célebres histórias de terror de todos os tempos, Frankenstein. A tradução – publicada com grande esmero editorial na coleção de clássicos PenguinCompanhia das Letras – foi, como era meu hábito àquela época, toda feita de madrugada, ignorando o bom senso e conselhos de amigos e familiares. Mas medo, posso garantir, não senti em momento nenhum, noites adentro debruçado sobre livros e o teclado do computador. Não digo isso por bravata: é que sempre me faltou afinidade com histórias de terror – elas não me comovem. Nunca comoveram. E, portanto, não me assustam. O que não me impede de reconhecer, sem hesitar, que Frankenstein, escrito por uma jovem Mary Shelley, então com menos de 20 anos, no início do século XIX, é um clássico total. Ao menos na minha definição particular do que seja um clássico: aquele livro que, não importa em que versão – ou tradução – e a que distância de sua publicação original, continue dizendo coisas importantes, universalmente. Mas ser capaz de elaborar sobre o que é um clássico, e com uma definição de minha própria lavra, não leva automaticamente a saber como se faz para, também de próprio punho, reescrever um clássico – e, para todos os efeitos, trata-se de outro texto – um ou dois séculos depois, em outra língua, para leitores futuros e contemporâneos. (E agora que penso nisso: esses leitores de hoje, com seus e-books e tablets, são eles próprios leitores futuros – de um futuro muito longínquo daquele 1818, ano em que o livro