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A impossibilidade de narrar em "Não falei" de Beatriz Bracher
A romancista brasileira Beatriz Bracher em seu livro Não falei, publicado em 2004, traz um protagonista inserido no âmbito da experiência pós-68, apresentando o agravante de sendo ele o narrador da obra, ver-se impossibilitado de fazê-lo. É por meio desse narrador, que se encontra traumatizado para exercer seu ofício, que Bracher pretende dar voz a uma geração que, a espelho de Gustavo, não consegue exprimir-se. Décadas adiante, procurado por uma jovem universitária que escreve um livro sobre essa geração, Gustavo é colocado diante de seu passado. A narrativa centra-se, portanto, no drama desse personagem que possui dificuldade para realizar um processo de retranscrição destas memórias, o que reconstrói literariamente o sofrimento de toda uma geração. Para viabilizar a compreensão deste narrador-personagem lacunar, nos pautaremos nas contribuições de Walter Benjamin (1994). Para o trato de questões relativas à construção da memória, utilizaremos, entre outros pressupostos, os de Burke (2000), Gagnebin (2006), Halbwachs (2006), Huyssen (2000) e Seligmann-Silva (2003).