ASPECTOS CONTROVERSOS DOS ENSAIOS CIRÚRGICOS CONTROLADOS POR PLACEBO: UMA VISÃO GERAL

Introdução: Ensaios cirúrgicos controlados por placebo são escassos, no entanto, esse braço da pesquisa vem se tornando mais frequente no mundo, preocupando bioeticistas e cirurgiões acerca de como equilibrar riscos e benefícios. Objetivos: Nesse contexto, o estudo objetivou analisar aspectos éticos e metodológicos controversos do uso do controle placebo. Métodos: Para tanto, realizou-se uma overview de revisões sistemáticas, por meio da busca de artigos nos bancos de dados indexados do MEDLINE/PubMed, Biblioteca Cochrane e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Utilizou-se os descritores em inglês: “sham surgery”, “placebo surgery”, “placebo effect”. Os critérios de inclusão abrangeram revisões sistemáticas com texto completo, e sem restrição de idioma ou data de publicação. Resultados: A busca resultou em 608 publicações. Destas, foram excluídas 570 (93,75%). Dos 38 artigos elegíveis restantes, 10 foram selecionados. Na pesquisa cirúrgica em ortopedia, verificou-se a ausência de benefícios clinicamente importantes na cirurgia artroscópica do joelho, na descompressão subacromial artroscópica do ombro, e na vertebroplastia para fraturas vertebrais osteoporóticas, quando desfechos subjetivos como dor, função ou qualidade de vida foram comparados ao procedimento placebo. Nas demais áreas cirúrgicas, os estudos primários em sua maioria, apresentaram baixa qualidade metodológica e vieses tais como heterogeneidade amostral, ausência do perfil psicológico e psiquiátrico dos pacientes, ausência de duplo cego pós-operatório, uso não justificado do braço placebo, baixa fidelidade do placebo cirúrgico em relação a cirurgia completa e ausência de métodos de mitigação de riscos, os quais rebaixaram o nível de evidência encontrado. Conclusões: Dado o grau de incerteza da eficácia em diversos desfechos cirúrgicos, recomenda-se um número maior de pesquisas que utilizem as diretrizes éticas e metodológicas atualmente disponíveis.