{"title":"COVID-19引发的惊厥前综合征--病例报告","authors":"Simone Raimondi de Souza, Rafaela Carvalho Rodrigues, Lilian Cristina Caldeira Thomé","doi":"10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1103","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Introdução: Há pouco mais de três anos, a população mundial passou a conviver com o SARS-CoV-2, agente etiológico da COVID-19, uma síndrome gripal com diferentes graus de gravidade e amplas repercussões clínicas. Estudos têm descrito que a infecção por SARS-CoV-2 durante a gestação pode causar manifestações clínicas que se assemelham à pré-eclâmpsia (PE), sendo denominada síndrome de pré-eclâmpsia-like (PE-like). Essa síndrome é caracterizada por alterações que incluem suprimento sanguíneo inadequado ao útero, estresse oxidativo do tecido placentário, intensa resposta inflamatória, lesão endotelial, agregação plaquetária, ativação do sistema de coagulação com eventos tromboembólicos e aumento da resistência vascular generalizada, resultando em importantes repercussões hemodinâmicas. Relato de caso: A.F.L., 26 anos, com duas gestações prévias e um aborto, encontrava-se na idade gestacional de 40 semanas e 4 dias quando foi encaminhada pela Clínica da Família à maternidade devido à perda de líquido há 2 dias e pico hipertensivo (170 × 110 mmHg). A paciente não apresentava comorbidades prévias e manteve pressão arterial adequada, conforme verificado em todas as consultas de pré-natal. Na admissão hospitalar, a paciente apresentava sintomas compatíveis com síndrome gripal, iniciados há 2 dias (coriza, cefaleia e mialgia). O teste rápido (antígeno) para COVID-19 realizado na paciente foi positivo. Foi observada proteinúria em traços. A paciente foi tratada com hidralazina, sulfato de magnésio e ampicilina, e foi decidida a interrupção da gestação por via alta devido à rotura prematura de membranas ovulares (RPMO) prolongada. O recém-nascido apresentou Apgar de 8/9 e não teve intercorrências. Durante o pós-operatório, foi observada vasculite, e a paciente recebeu profilaxia de trombose venosa profunda com enoxaparina de baixo peso molecular. Comentários: Na pesquisa clínica, existem métodos para o diagnóstico diferencial entre síndrome de PE-like e PE, como fatores angiogênicos altamente específicos para insuficiência placentária, como o fator de crescimento placentário (PLGF) e o fator semelhante à tirosina quinase 1 (sFlt-1). Esses métodos podem ser úteis para apoiar a decisão médica em relação à interrupção da gestação. Embora seja difícil distinguir entre as duas síndromes devido às suas características semelhantes de grave disfunção endotelial, a síndrome PE-like isolada não indica necessariamente a interrupção da gestação (em gestações com menos de 37 semanas de idade gestacional), pois não é uma complicação de desordem placentária, mas sim uma manifestação clínica da infecção pelo SARS-CoV-2, que pode se resolver espontaneamente após a remissão da doença. No entanto, no contexto do mundo real, como no caso apresentado, tais recursos de apoio diagnóstico podem não estar disponíveis, e cabe ao médico obstetra estar atento a mais esse gatilho para a descompensação da pressão arterial durante o período gestacional, especialmente em um cenário de emergência obstétrica.","PeriodicalId":84971,"journal":{"name":"Jornal brasileiro de ginecologia","volume":"18 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2023-01-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":"{\"title\":\"Síndrome de pré-eclâmpsia-like desencadeada por COVID-19 — relato de caso\",\"authors\":\"Simone Raimondi de Souza, Rafaela Carvalho Rodrigues, Lilian Cristina Caldeira Thomé\",\"doi\":\"10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1103\",\"DOIUrl\":null,\"url\":null,\"abstract\":\"Introdução: Há pouco mais de três anos, a população mundial passou a conviver com o SARS-CoV-2, agente etiológico da COVID-19, uma síndrome gripal com diferentes graus de gravidade e amplas repercussões clínicas. 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Síndrome de pré-eclâmpsia-like desencadeada por COVID-19 — relato de caso
Introdução: Há pouco mais de três anos, a população mundial passou a conviver com o SARS-CoV-2, agente etiológico da COVID-19, uma síndrome gripal com diferentes graus de gravidade e amplas repercussões clínicas. Estudos têm descrito que a infecção por SARS-CoV-2 durante a gestação pode causar manifestações clínicas que se assemelham à pré-eclâmpsia (PE), sendo denominada síndrome de pré-eclâmpsia-like (PE-like). Essa síndrome é caracterizada por alterações que incluem suprimento sanguíneo inadequado ao útero, estresse oxidativo do tecido placentário, intensa resposta inflamatória, lesão endotelial, agregação plaquetária, ativação do sistema de coagulação com eventos tromboembólicos e aumento da resistência vascular generalizada, resultando em importantes repercussões hemodinâmicas. Relato de caso: A.F.L., 26 anos, com duas gestações prévias e um aborto, encontrava-se na idade gestacional de 40 semanas e 4 dias quando foi encaminhada pela Clínica da Família à maternidade devido à perda de líquido há 2 dias e pico hipertensivo (170 × 110 mmHg). A paciente não apresentava comorbidades prévias e manteve pressão arterial adequada, conforme verificado em todas as consultas de pré-natal. Na admissão hospitalar, a paciente apresentava sintomas compatíveis com síndrome gripal, iniciados há 2 dias (coriza, cefaleia e mialgia). O teste rápido (antígeno) para COVID-19 realizado na paciente foi positivo. Foi observada proteinúria em traços. A paciente foi tratada com hidralazina, sulfato de magnésio e ampicilina, e foi decidida a interrupção da gestação por via alta devido à rotura prematura de membranas ovulares (RPMO) prolongada. O recém-nascido apresentou Apgar de 8/9 e não teve intercorrências. Durante o pós-operatório, foi observada vasculite, e a paciente recebeu profilaxia de trombose venosa profunda com enoxaparina de baixo peso molecular. Comentários: Na pesquisa clínica, existem métodos para o diagnóstico diferencial entre síndrome de PE-like e PE, como fatores angiogênicos altamente específicos para insuficiência placentária, como o fator de crescimento placentário (PLGF) e o fator semelhante à tirosina quinase 1 (sFlt-1). Esses métodos podem ser úteis para apoiar a decisão médica em relação à interrupção da gestação. Embora seja difícil distinguir entre as duas síndromes devido às suas características semelhantes de grave disfunção endotelial, a síndrome PE-like isolada não indica necessariamente a interrupção da gestação (em gestações com menos de 37 semanas de idade gestacional), pois não é uma complicação de desordem placentária, mas sim uma manifestação clínica da infecção pelo SARS-CoV-2, que pode se resolver espontaneamente após a remissão da doença. No entanto, no contexto do mundo real, como no caso apresentado, tais recursos de apoio diagnóstico podem não estar disponíveis, e cabe ao médico obstetra estar atento a mais esse gatilho para a descompensação da pressão arterial durante o período gestacional, especialmente em um cenário de emergência obstétrica.