{"title":"化疗引起心脏毒性的霍奇金淋巴瘤和射血分数降低的心力衰竭孕妇的产科管理:病例报告","authors":"Isabela Carmona Castro Rodriguez, Gabriela Oliveira de Menezes, Aline Silva Izzo","doi":"10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1086","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Introdução: O linfoma de Hodgkin (LH) clássico é um dos principais tipos de linfoma diagnosticados durante a gestação, especialmente devido ao seu pico de incidência na faixa etária em que as mulheres estão em idade reprodutiva. No entanto, os sintomas decorrentes dessa doença muitas vezes se confundem com as alterações fisiológicas normais da gestação, o que torna o diagnóstico e o acompanhamento um desafio. O manejo do LH durante a gestação requer um equilíbrio delicado entre maximizar as chances de cura da mãe e minimizar os riscos potenciais para o desenvolvimento fetal. O tratamento de primeira linha consiste na quimioterapia (QT) com o protocolo ABVD (doxorrubicina, bleomicina, vimblastina e dacarbazina), considerado seguro durante a gestação, especialmente quando administrado nos segundo e terceiro trimestres. No entanto, as pacientes ainda podem enfrentar possíveis desfechos desfavoráveis. A doxorrubicina, uma antraciclina utilizada nesse protocolo, pode causar cardiotoxicidade como um efeito adverso. O dano miocárdico inclui a possibilidade de insuficiência cardíaca aguda, com comprometimento do ventrículo esquerdo. O risco de desenvolvimento de cardiomiopatia está relacionado à exposição cumulativa ao medicamento, portanto, as pacientes submetidas a esse tratamento devem ter sua função cardíaca avaliada periodicamente. Relato de caso: Foi atendida uma primigesta de 18 anos, com 36 semanas e 5 dias de gestação, portadora de pré-eclâmpsia (PE) sem sinais de gravidade, diagnosticada com LH do subtipo esclerose nodular (estágio IIB) e com histórico de 5 ciclos de QT utilizando-se o protocolo ABVD. A paciente não apresentava sinais de cardiomiopatia no início do tratamento. Ela procurou uma unidade hospitalar com relato de dispneia aos mínimos esforços, que se iniciou de forma súbita. Foi realizado um ecocardiograma transtorácico (ECOTT) que revelou disfunção sistólica grave do ventrículo esquerdo, com fração de ejeção (FE) de 28%. Em avaliação conjunta com um cardiologista, foi decidido que seria realizada uma cesariana. A cirurgia ocorreu sem intercorrências e resultou no nascimento de um recém-nascido com índice de Apgar de 9/9, sem necessidade de manobras de reanimação. A paciente foi mantida em observação em uma unidade fechada, evoluindo com um puerpério fisiológico. Ela recebeu alta hospitalar com medicações para o manejo da insuficiência cardíaca, e foram agendados retornos ambulatoriais para acompanhamento. O tratamento de quimioterapia foi ajustado pelo hematologista responsável. Comentário: A gestação de alto risco representa um desafio para o obstetra, especialmente devido à sua natureza imprevisível. É essencial garantir que a gestante tenha fácil acesso a serviços de saúde e receber suporte multiprofissional para lidar com as adversidades que possam surgir. 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Manejo obstétrico de gestante portadora de linfoma de Hodgkin e insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida secundária à cardiotoxicidade por quimioterapia: relato de caso
Introdução: O linfoma de Hodgkin (LH) clássico é um dos principais tipos de linfoma diagnosticados durante a gestação, especialmente devido ao seu pico de incidência na faixa etária em que as mulheres estão em idade reprodutiva. No entanto, os sintomas decorrentes dessa doença muitas vezes se confundem com as alterações fisiológicas normais da gestação, o que torna o diagnóstico e o acompanhamento um desafio. O manejo do LH durante a gestação requer um equilíbrio delicado entre maximizar as chances de cura da mãe e minimizar os riscos potenciais para o desenvolvimento fetal. O tratamento de primeira linha consiste na quimioterapia (QT) com o protocolo ABVD (doxorrubicina, bleomicina, vimblastina e dacarbazina), considerado seguro durante a gestação, especialmente quando administrado nos segundo e terceiro trimestres. No entanto, as pacientes ainda podem enfrentar possíveis desfechos desfavoráveis. A doxorrubicina, uma antraciclina utilizada nesse protocolo, pode causar cardiotoxicidade como um efeito adverso. O dano miocárdico inclui a possibilidade de insuficiência cardíaca aguda, com comprometimento do ventrículo esquerdo. O risco de desenvolvimento de cardiomiopatia está relacionado à exposição cumulativa ao medicamento, portanto, as pacientes submetidas a esse tratamento devem ter sua função cardíaca avaliada periodicamente. Relato de caso: Foi atendida uma primigesta de 18 anos, com 36 semanas e 5 dias de gestação, portadora de pré-eclâmpsia (PE) sem sinais de gravidade, diagnosticada com LH do subtipo esclerose nodular (estágio IIB) e com histórico de 5 ciclos de QT utilizando-se o protocolo ABVD. A paciente não apresentava sinais de cardiomiopatia no início do tratamento. Ela procurou uma unidade hospitalar com relato de dispneia aos mínimos esforços, que se iniciou de forma súbita. Foi realizado um ecocardiograma transtorácico (ECOTT) que revelou disfunção sistólica grave do ventrículo esquerdo, com fração de ejeção (FE) de 28%. Em avaliação conjunta com um cardiologista, foi decidido que seria realizada uma cesariana. A cirurgia ocorreu sem intercorrências e resultou no nascimento de um recém-nascido com índice de Apgar de 9/9, sem necessidade de manobras de reanimação. A paciente foi mantida em observação em uma unidade fechada, evoluindo com um puerpério fisiológico. Ela recebeu alta hospitalar com medicações para o manejo da insuficiência cardíaca, e foram agendados retornos ambulatoriais para acompanhamento. O tratamento de quimioterapia foi ajustado pelo hematologista responsável. Comentário: A gestação de alto risco representa um desafio para o obstetra, especialmente devido à sua natureza imprevisível. É essencial garantir que a gestante tenha fácil acesso a serviços de saúde e receber suporte multiprofissional para lidar com as adversidades que possam surgir. O caso relatado acima ressalta a importância do treinamento clínico do obstetra para identificar alterações patológicas durante a gestação e intervir com segurança para garantir o bem-estar da mãe e do feto.