Adriana Camara Colombo, Claudia Cristina de Oliveira, Cecília Turque dos Santos, Carolina Varella Leal Passos, Paula Varella Leal Passos, Christina Thereza Machado Bittar, Mauro Romero Leal Passos
{"title":"2023年里约热内卢里约热内卢市因先天性梅毒死亡:病例报告","authors":"Adriana Camara Colombo, Claudia Cristina de Oliveira, Cecília Turque dos Santos, Carolina Varella Leal Passos, Paula Varella Leal Passos, Christina Thereza Machado Bittar, Mauro Romero Leal Passos","doi":"10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1095","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Introdução: A sífilis congênita (SC) continua sendo um problema frequente no Brasil, e o estado do Rio de Janeiro apresenta o maior número de óbitos relacionados à SC em comparação com outros estados, registrando 188 óbitos em 2021. Relato de caso: Uma primigesta com idade entre 25 e 29 anos iniciou o pré-natal em agosto de 2022, e o teste rápido (TR) inicial para sífilis foi não reagente. No entanto, em janeiro de 2023, um novo TR foi realizado e apresentou resultado reagente. O tratamento foi administrado somente no dia seguinte, com uma única dose de 2,4 milhões de penicilina benzatina (PB). O exame VDRL foi coletado apenas em fevereiro de 2023, dias após o tratamento com a dose única de PB, e o resultado foi de 1:512. Em março de 2023, a gestante foi admitida em uma maternidade da Região Metropolitana do Rio de Janeiro após ter sido recusada em dois hospitais de outros municípios, com diagnóstico de óbito fetal. Foi iniciada a vigilância epidemiológica durante a internação, e a paciente negou ter apresentado manifestações clínicas de lesões recentes de sífilis em si mesma ou em seus parceiros sexuais. Quando questionada sobre o que pensava sobre o quadro que estava vivenciando, a gestante respondeu imediatamente: \"me sinto culpada\". Dez dias após a internação, foi realizada uma visita à unidade de saúde onde o pré-natal foi realizado, a fim de conversar com o profissional responsável pelo atendimento da gestante. O profissional relatou que \"classificou como sífilis primária, pois era a primeira vez que a mulher apresentava teste positivo\", justificando assim a administração de apenas uma dose de PB para o tratamento. Além disso, na unidade de saúde não há médico para acompanhar o pré-natal, e os exames são solicitados, agendados e coletados em dias diferentes, o que resulta em frequentes atrasos na obtenção dos resultados, como demonstrado na caderneta de pré-natal. O tratamento não é realizado no dia do diagnóstico, pois somente após a notificação do caso para a secretaria de saúde, mesmo no caso de gestantes, o posto recebe o antibiótico. Após a chegada da medicação, a gestante é convocada para receber a administração da penicilina. Fragmentos da placenta foram encaminhados para análise histopatológica, que revelou vilite crônica associada a alterações vasculares fetais, compatíveis com SC. Comentários: A SC e o óbito decorrente da SC refletem, na maioria dos casos, a inadequação do pré-natal, seja na forma como a gestante é atendida, seja na gestão dos fluxos de atendimento na rede básica de saúde. O caso descrito é mais um exemplo infeliz dessa situação.","PeriodicalId":84971,"journal":{"name":"Jornal brasileiro de ginecologia","volume":"83 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2023-01-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":"{\"title\":\"Óbito por sífilis congênita em município de Região Metropolitana do Rio de Janeiro em 2023: relato de caso\",\"authors\":\"Adriana Camara Colombo, Claudia Cristina de Oliveira, Cecília Turque dos Santos, Carolina Varella Leal Passos, Paula Varella Leal Passos, Christina Thereza Machado Bittar, Mauro Romero Leal Passos\",\"doi\":\"10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1095\",\"DOIUrl\":null,\"url\":null,\"abstract\":\"Introdução: A sífilis congênita (SC) continua sendo um problema frequente no Brasil, e o estado do Rio de Janeiro apresenta o maior número de óbitos relacionados à SC em comparação com outros estados, registrando 188 óbitos em 2021. 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Óbito por sífilis congênita em município de Região Metropolitana do Rio de Janeiro em 2023: relato de caso
Introdução: A sífilis congênita (SC) continua sendo um problema frequente no Brasil, e o estado do Rio de Janeiro apresenta o maior número de óbitos relacionados à SC em comparação com outros estados, registrando 188 óbitos em 2021. Relato de caso: Uma primigesta com idade entre 25 e 29 anos iniciou o pré-natal em agosto de 2022, e o teste rápido (TR) inicial para sífilis foi não reagente. No entanto, em janeiro de 2023, um novo TR foi realizado e apresentou resultado reagente. O tratamento foi administrado somente no dia seguinte, com uma única dose de 2,4 milhões de penicilina benzatina (PB). O exame VDRL foi coletado apenas em fevereiro de 2023, dias após o tratamento com a dose única de PB, e o resultado foi de 1:512. Em março de 2023, a gestante foi admitida em uma maternidade da Região Metropolitana do Rio de Janeiro após ter sido recusada em dois hospitais de outros municípios, com diagnóstico de óbito fetal. Foi iniciada a vigilância epidemiológica durante a internação, e a paciente negou ter apresentado manifestações clínicas de lesões recentes de sífilis em si mesma ou em seus parceiros sexuais. Quando questionada sobre o que pensava sobre o quadro que estava vivenciando, a gestante respondeu imediatamente: "me sinto culpada". Dez dias após a internação, foi realizada uma visita à unidade de saúde onde o pré-natal foi realizado, a fim de conversar com o profissional responsável pelo atendimento da gestante. O profissional relatou que "classificou como sífilis primária, pois era a primeira vez que a mulher apresentava teste positivo", justificando assim a administração de apenas uma dose de PB para o tratamento. Além disso, na unidade de saúde não há médico para acompanhar o pré-natal, e os exames são solicitados, agendados e coletados em dias diferentes, o que resulta em frequentes atrasos na obtenção dos resultados, como demonstrado na caderneta de pré-natal. O tratamento não é realizado no dia do diagnóstico, pois somente após a notificação do caso para a secretaria de saúde, mesmo no caso de gestantes, o posto recebe o antibiótico. Após a chegada da medicação, a gestante é convocada para receber a administração da penicilina. Fragmentos da placenta foram encaminhados para análise histopatológica, que revelou vilite crônica associada a alterações vasculares fetais, compatíveis com SC. Comentários: A SC e o óbito decorrente da SC refletem, na maioria dos casos, a inadequação do pré-natal, seja na forma como a gestante é atendida, seja na gestão dos fluxos de atendimento na rede básica de saúde. O caso descrito é mais um exemplo infeliz dessa situação.