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O tema do fragmento e do que é fragmentário perpassa a obra de Freud: pedaços de memórias, vestígios do passado, retalhos de textos são alguns dos elementos que figuram em sua prática empírica e em seu afazer teórico. Não somente o passado reaparece, no presente, por meio de fragmentos, mas também a verdade ou o significado (de um sonho, de um sintoma) pode emergir, na atividade interpretativa e terapêutica, em estado fragmentário. Neste texto, buscamos compreender o papel do fragmento dentro da teoria freudiana; para tanto, focamos nossa atenção no caso do Homem dos Lobos, no qual os fragmentos marcam presença de forma maciça. Nota-se que eles atuam em três dimensões distintas e complementares: a) no próprio conteúdo da neurose analisada; b) no decorrer do tratamento analítico, ou melhor, no método freudiano; c) na redação do caso clínico, isto é, na passagem do tratamento para o campo das palavras escritas. Estudando as relações entre esses três campos, vê-se emergir uma ética do fragmento freudiana, na qual nós, enquanto leitores, estamos sempre implicados.