TUBERCULOSE COMO CONDIÇÃO DE MORBIMORTALIDADE EM PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA INTERNADAS EM DEPARTAMENTO DE INFECTOLOGIA DE HOSPITAL PÚBLICO TERCIÁRIO DA CIDADE DE SÃO PAULO

A tuberculose continua representando um problema de saúde pública mundial, afetando de maneira desigual grupos altamente vulneráveis, como a população em situação de rua (PSR). Estima-se que a PSR tem 56 vezes maior risco de adoecer por tuberculose, maior risco de abandono e de óbito, tornando-se fundamental a obtenção e a análise de dados referentes a este grupo para melhores desfechos. Estudo descritivo retrospectivo de pacientes pertencentes à PSR com tuberculose internados no Departamento de Infectologia do Hospital Heliópolis, em São Paulo - SP, no período de janeiro de 2017 a abril de 2023, a partir de registros de prontuários médicos e do Serviço Social do departamento. Foram identificadas 88 admissões de pessoas em situação de rua, sendo 55 (62,5%) delas por tuberculose de 40 pacientes diferentes. 39 (70,9%) dessas admissões foram de tuberculose pulmonar confirmada, 12 (21,8%) foram de tuberculose disseminada confirmada, 3 (5,4%) foram de tuberculose pulmonar suspeita e 1 (1,8%) caso de tuberculose pulmonar confirmada com investigação de disseminação não finalizada antes do óbito. Predominaram pessoas que se autodeclararam negras, somando 20 (50%) pacientes pardos e 7 (17,5%) pacientes pretos. Outros 9 (22,5%) pacientes eram brancos e 4 (10%) não tinham registro sobre essa variável. 36 (90%) eram do sexo masculino. Todos os 40 (100%) pacientes tinham registro no sistema TBWeb, sendo que 23 (57,5%) deles tinham, em algum momento da vida, registro de abandono de tratamento. 17 (42,5%) pacientes diagnosticados com tuberculose eram coinfectados com HIV. 37 pacientes (92,5%) faziam uso de alguma substância psicoativa, sendo que 24 (60%) faziam uso de tabaco, 25 (62,5%) faziam uso de álcool, 7 (17,5%) faziam uso de cocaína e 25 (62,5%) faziam uso de crack. Quanto ao destino pós-internação, 8 (14,5%) admissões resultaram em encaminhamento para albergues, 2 (3,6%) retornos ao serviço de origem, 9 (16,4%) casos de transferência para hospitais de retaguarda, 2 (3,6%) casos sem registro, 18 (32,7%) casos de evasão e 8 (14,5%) pacientes evoluíram para óbito, sendo 6 (75,0%) deles registrados como relacionados à tuberculose. Desfechos desfavoráveis como abandono, óbito e evasão da internação, o uso de substâncias psicoativas e a coinfecção com HIV demonstram a alta vulnerabilidade da PSR em relação à tuberculose. Os dados evidenciam a necessidade urgente de políticas públicas de saúde visando essa população.