RELATO DE CASO: APRESENTAÇÃO SIMULTÂNEA DE MENINGITE BACTERIANA, CRIPTOCOCOSE E INTUSSUSCEPÇÃO ILEAL EM PESSOA VIVENDO COM HIV

Introdução

O HIV pode estar associado a diversas complicações, incluindo doenças neoplásicas. Infecções oportunistas (IOs) são a principal causa de morbimortalidade entre adultos vivendo com o vírus. Nesse sentido, a presença de condições infecciosas e neoplásicas do intestino podem favorecer a ocorrência de intussuscepção intestinal nesses indivíduos. Esse processo pode ser desencadeado por diversos fatores, como linfadenopatia mesentérica, hiperplasia linfoide benigna, diferentes tipos de linfoma, infecções micobacterianas ou sarcoma de Kaposi.

Relato de caso

Paciente masculino (CD4: 210 | CV: indetectável), 28 anos, em tratamento regular para HIV com 3TC+DTG e em uso de Fluconazol como profilaxia secundária para meningite criptocócica. É admitido devido a quadro de cefaleia intensa, acompanhada de visão turva, fotofobia, febre, náuseas e vômitos em jato. Foi coletado LCR, cuja bacterioscopia evidenciou cocos gram-positivos, sendo instituído tratamento para meningite bacteriana com Ceftriaxona e Vancomicina, resultando em melhora dos sintomas. No nono dia de internação, evoluiu com dor abdominal intensa, associada a febre e sinais de irritação peritoneal. TC de abdome constatou pneumoperitônio e intussuscepção intestinal em região de FID, associados a linfonodomegalias retroperitoneais e mesentéricas, além de sinais inflamatórios. Foi submetido a laparotomia exploradora, que revelou peritonite purulenta devido à perfuração ileal em segmento de intussuscepção, juntamente com múltiplas linfonodomegalias mesentéricas. Foi realizada enterectomia com ileostomia e biópsias de linfonodos e de segmento de intestino delgado. O estudo anatomopatológico dos linfonodos revelou criptococose, enquanto o segmento ileal demonstrou lesão linfoproliferativa com necessidade de estudo imuno-histoquímico para melhor elucidação. Está atualmente em tratamento com Anfotericina B Lipossomal e Flucitosina, enquanto segue em investigação para neoplasia hematológica.

Conclusão

A evolução do paciente destaca os desafios diagnósticos e terapêuticos enfrentados ao lidar com manifestações decorrentes de complicações e IOs em pessoas vivendo com HIV. O diagnóstico histopatológico de lesão linfoproliferativa em amostra ileal adiciona uma camada de complexidade, exigindo uma análise investigativa meticulosa. É ressaltada a importância de uma abordagem abrangente e multidisciplinar para otimizar o manejo clínico e reduzir a morbimortalidade relacionada às IOs e condições associadas.