从全景营销到神经营销

Camila Jorge, Débora De Jesus Rezende Barcelos, Maria Cecília Máximo Teodoro
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O modelo de panóptico Benthamiano é então aperfeiçoado e essa nova vigilância passa a ser exercida pelo panóptico digital, com a internet e o smartphone substituindo os espaços de confinamento sob a aparência de uma liberdade e uma comunicação ilimitadas. Nesse contexto, com a evolução do capitalismo diversas empresas têm migrado para plataformas e instituído negócios altamente lucrativos a partir do simples desenvolvimento de aplicativos. Uma dessas empresas é a Uber Technologies Inc. No discurso da Uber, os trabalhadores envolvidos já não são chamados de empregados, mas de “parceiros” que apenas se utilizam do aplicativo da empresa para intermediar seus serviços. Mas será que esse discurso procede? O presente ensaio tem enquanto problema averiguar se a empresa Uber não se utiliza do mecanismo do panóptico digital como forma de exercer controle, influência e vigilância sobre seus trabalhadores, porém, de uma forma mais discreta, mascarando o poder diretivo a medida em que transfere a vigilância física para a vigilância algorítmica. Em outras palavras, busca-se analisar se o elemento fático jurídico da subordinação na relação de emprego não estaria presente no modelo de organização da Uber a partir de uma vigilância panóptica. Para além, partindo da hipótese pela existência de um controle digital e, portanto, pela existência de vínculo, objetiva-se, em um segundo plano, averiguar se, e como, a empresa Uber consegue manipular esses trabalhadores e convencê-los a submeter-se e a manter-se em uma relação de trabalho completamente precarizante, partindo de uma análise do neuromarketing como instrumento de manipulação e captura da subjetividade. 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摘要

仍然在18世纪,杰里米·边沁将全景人物理想化为对个人的高度控制和说服机制。全景法通常应用于监狱、收容所、学校甚至工厂,它包括建造一个周边形状的场地,中心有一座监视塔,这样作为控制和检查对象的受试者就可以一直在检查员的视线范围内。然而,在以激烈的技术革命和禁闭危机为标志的后现代性中,有可能进行更深入的监视,能够克服监视的严格空间限制,进入个人的心理和日常生活,让他们能够全职控制。然后,Benthamian全景模型得到了完善,这种新的监控由数字全景进行,互联网和智能手机取代了无限自由和通信的限制空间。在这种背景下,随着资本主义的发展,一些公司已经迁移到平台上,并通过简单的应用程序开发建立了高利润的业务。优步科技股份有限公司就是这样一家公司。在优步的演讲中,相关员工不再被称为员工,而是只使用公司应用程序调解服务的“合作伙伴”。但这次演讲继续吗?然而,本文的一个问题是,优步是否没有使用数字全景机制来对其员工进行控制、影响和监视,而是以一种更谨慎的方式,在将物理监视转移到算法监视时掩盖指令权力。换言之,我们试图从全景式的监督来分析雇佣关系中从属关系的事实法律要素是否不会出现在优步的组织模式中。此外,基于存在数字控制以及因此存在联系的假设,目标是在背景下确定优步公司是否以及如何操纵这些员工,说服他们服从并保持完全不稳定的工作关系,从分析神经营销作为操纵和获取主体性的工具开始。人们认为,需要谨慎地分析和讨论这些问题,赋予它们更大的社会和法律相关性,以避免在自由的表象下受到剥削。
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DO PANÓPTICO AO NEUROMARKETING
Ainda no século XVIII Jeremy Bentham idealizou a figura do panóptico como um mecanismo de alto controle e persuasão sobre os indivíduos. Geralmente aplicado em prisões, manicômios, escolas e, até mesmo nas fábricas, o panóptico consistia na construção de um local em forma de circunferência com uma torre de vigilância no centro para que os sujeitos enquanto objeto de controle e inspeção permanecessem constantemente sob as vistas do inspetor. Porém, na pós-modernidade, marcada por uma intensa revolução tecnológica e pela crise dos confinamentos, torna-se possível uma vigilância ainda mais profunda, capaz de ultrapassar os estritos limites espaciais de monitoramento e adentrar na própria psiquê e no cotidiano dos indivíduos, permitindo o seu controle em tempo integral. O modelo de panóptico Benthamiano é então aperfeiçoado e essa nova vigilância passa a ser exercida pelo panóptico digital, com a internet e o smartphone substituindo os espaços de confinamento sob a aparência de uma liberdade e uma comunicação ilimitadas. Nesse contexto, com a evolução do capitalismo diversas empresas têm migrado para plataformas e instituído negócios altamente lucrativos a partir do simples desenvolvimento de aplicativos. Uma dessas empresas é a Uber Technologies Inc. No discurso da Uber, os trabalhadores envolvidos já não são chamados de empregados, mas de “parceiros” que apenas se utilizam do aplicativo da empresa para intermediar seus serviços. Mas será que esse discurso procede? O presente ensaio tem enquanto problema averiguar se a empresa Uber não se utiliza do mecanismo do panóptico digital como forma de exercer controle, influência e vigilância sobre seus trabalhadores, porém, de uma forma mais discreta, mascarando o poder diretivo a medida em que transfere a vigilância física para a vigilância algorítmica. Em outras palavras, busca-se analisar se o elemento fático jurídico da subordinação na relação de emprego não estaria presente no modelo de organização da Uber a partir de uma vigilância panóptica. Para além, partindo da hipótese pela existência de um controle digital e, portanto, pela existência de vínculo, objetiva-se, em um segundo plano, averiguar se, e como, a empresa Uber consegue manipular esses trabalhadores e convencê-los a submeter-se e a manter-se em uma relação de trabalho completamente precarizante, partindo de uma análise do neuromarketing como instrumento de manipulação e captura da subjetividade. Acredita-se, que estas questões precisam ser analisadas e discutidas com cautela, sendo dotadas da maior relevância social e jurídica, a fim de que se evite a exploração sob a aparência de liberdade.
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