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Mostra-se de que maneira, a despeito da visão de senso-comum acerca das rivalidades inter-torcidas, as lideranças dos agrupamentos reunidos na Associação cultivavam uma proximidade, um diálogo e até relações de amizade que tornaram possível a sua conformação. Neste sentido, destaca-se a vivência social que extrapolava os domínios futebolísticos e se irrigava na participação dos líderes e de seus grupos na sociabilidade dos blocos e das escolas de samba do carnaval paulistano. Em seguida, descreve-se e analisa-se a pauta reivindicativa que, na segunda metade dos anos 1970, ensejou a convocação pela ATOESP de boicotes e de atos contra medidas adotadas pela Federação Paulista de Futebol, no tocante ao calendário esportivo e ao aumento do preço dos ingressos. Por fim, na parte principal do artigo, focam-se tanto as rixas crescentes que acontecem na base dos torcedores organizados, a partir de 1976 – o que inclui o uso de armas brancas nas dependências dos estádios –, quanto a interação conflituosa das torcidas com a Polícia Militar (PM). Se há necessidade de articulação dos representantes dessas agremiações com a PM na logística e na organização das partidas, a escalada de incidentes entre torcedores e policiais no final daquele decênio, tais como reportados pelos meios de comunicação e rememorados por entrevistados, deu a tônica unificadora para as ações coletivas da ATOESP até o início dos anos 1980, quando a redemocratização da vida civil se coloca no horizonte político nacional.\nPalavras-chave: história do futebol no Brasil; torcidas organizadas; jornalismo esportivo; associativismo torcedor; São Paulo; anos 1970.","PeriodicalId":21251,"journal":{"name":"Revista Tempo e Argumento","volume":"21 1","pages":""},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2021-12-09","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":"{\"title\":\"Por uma história do associativismo torcedor nos anos 1970: dinâmicas de rivalidade, amizade e emulação na formação da ATOESP – Associação das Torcidas Organizadas do Estado de São Paulo\",\"authors\":\"Bernardo Buarque de Hollanda, V. 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Por uma história do associativismo torcedor nos anos 1970: dinâmicas de rivalidade, amizade e emulação na formação da ATOESP – Associação das Torcidas Organizadas do Estado de São Paulo
O artigo debruça-se sobre o surgimento e os primeiros anos de uma inédita associação de torcidas organizadas do estado de São Paulo, a ATOESP, cuja vigência se deu no decorrer da década de 1970. Com base em entrevistas, em fontes hauridas da imprensa da época e no referencial da historiografia marxista inglesa, notadamente da obra de E. P. Thompson, examinam-se as condições de existência para a criação dessa entidade que emergiu no conjunto do futebol profissional paulista naquele período histórico, em plena ditadura civil-militar brasileira. Mostra-se de que maneira, a despeito da visão de senso-comum acerca das rivalidades inter-torcidas, as lideranças dos agrupamentos reunidos na Associação cultivavam uma proximidade, um diálogo e até relações de amizade que tornaram possível a sua conformação. Neste sentido, destaca-se a vivência social que extrapolava os domínios futebolísticos e se irrigava na participação dos líderes e de seus grupos na sociabilidade dos blocos e das escolas de samba do carnaval paulistano. Em seguida, descreve-se e analisa-se a pauta reivindicativa que, na segunda metade dos anos 1970, ensejou a convocação pela ATOESP de boicotes e de atos contra medidas adotadas pela Federação Paulista de Futebol, no tocante ao calendário esportivo e ao aumento do preço dos ingressos. Por fim, na parte principal do artigo, focam-se tanto as rixas crescentes que acontecem na base dos torcedores organizados, a partir de 1976 – o que inclui o uso de armas brancas nas dependências dos estádios –, quanto a interação conflituosa das torcidas com a Polícia Militar (PM). Se há necessidade de articulação dos representantes dessas agremiações com a PM na logística e na organização das partidas, a escalada de incidentes entre torcedores e policiais no final daquele decênio, tais como reportados pelos meios de comunicação e rememorados por entrevistados, deu a tônica unificadora para as ações coletivas da ATOESP até o início dos anos 1980, quando a redemocratização da vida civil se coloca no horizonte político nacional.
Palavras-chave: história do futebol no Brasil; torcidas organizadas; jornalismo esportivo; associativismo torcedor; São Paulo; anos 1970.