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Um mundo sem mediações: descolonização africana como teoria política da modernização periférica
Utilizaremos o conceito de sociedade sem mediações, calcada no racismo estrutural, tal como pro-posto por Frantz Fanon, para explicar a tendência regressiva própria às sociedades de moderni-zação periférica, mormente o Brasil. A partir de uma crítica a Gilberto Freyre e a Florestan Fer-nandes, os quais assumem uma noção de objetivismo sociológico necessitarista com caráter apolí-tico-despolitizado para explicar o desenvolvimento e as contradições da sociedade brasileira hodi-erna (o sadismo-masoquismo de Freyre; a incapacidade negra para a ética protestante do traba-lho, por causa do escravismo), recusando, ambos, seja o racismo estrutural, seja o branqueamen-to racial, apontaremos exatamente para (a) a evolução sistêmica como um projeto político inten-cionado e planificado do branco/colonizador sobre o negro/colonizado enquanto o efetivo mote e dinâmica práticos da formação e do desenvolvimento da sociedade colonial; (b) a inexistência ou a fragilidade das mediações jurídicas, institucionais e normativas entre essas realidades comparti-mentadas e estanques da raça (branco sobre o – e contra o – negro); (c) a violência direta e a re-gressão permanente como as tendências estruturais da constituição e do desenvolvimento de uma sociedade de modernização periférica e racializada, inclusive com o apagamento e a falsificação da história colonial; e, finalmente, (d) a correlação intrínseca, mais uma vez negada por Freyre e Fernandes e, ao contrário, afirmada por Fanon, de raça e classe, raça como classe, classe como raça.