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Abstract
É pacificamente aceite que o discurso dos media se carateriza por uma marcada heterogeneidade enunciativa, a vários níveis: na medida em que estes se constituem como espaço de confluência de múltiplas vozes; e na medida em que, em cada enunciação, outras enunciações são convocadas, de modos diversos. Cruzam-se, assim, nos media, múltiplos estatutos, competências e interesses, agendando a vida social e moldando a perceção pública das coisas e dos seus estados. Em tempos de pandemia, os media ganham relevo ampliado e o conflito de vozes a que dão espaço ganha, ele também, novas amplitudes. Nesse cenário agónico, a evocação da ciência e a criação das redes de influência entre os discursos científico, político, económico e social tornam-se sistemáticas. Revela-se portanto pertinente analisar como o discurso mediático gera e gere o conflito entre estas diversas esferas discursivas, dando corpo à sua retórica própria. O presente estudo, desenvolvido no quadro dos estudos do discurso de tradição francófona, e numa perspetiva enunciativo-pragmática, analisa um breve corpus de artigos da imprensa generalista contemporânea que abordam a gestão pública da pandemia Covid19, evocando argumentos de índole científica e decisões de índole política. Confirmam-se a expectativa do apagamento enunciativo do locutor, mas a sua presença é bem identificável; confirma-se a heterogeneidade enunciativa, e a criação de binarismos e situações extremadas; contudo, os textos em análise são mais conciliadores do que agónicos e o discurso da ciência é recontextualizado de modo a ser apreendido pelo leitor previsto.