saúde suplementar e sua atuação na complementação da atenção integral à saúde junto ao Sistema Único de Saúde

Sergio Henrique do Amaral, B. Gondinho
{"title":"saúde suplementar e sua atuação na complementação da atenção integral à saúde junto ao Sistema Único de Saúde","authors":"Sergio Henrique do Amaral, B. Gondinho","doi":"10.14295/jmphc.v15.1350","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"A Constituição Federal de 1988 estabelece a saúde como um direito de todos e dever do Estado, garantindo acesso universal e igualitário aos serviços de saúde. O sistema de saúde brasileiro é composto pelo setor público, representado pelo Sistema Único de Saúde – SUS, e pelo setor privado, representado pela Saúde Suplementar. O SUS é regido por leis que definem seus princípios básicos, como universalidade, integralidade, equidade, descentralização e participação social. Já a Saúde Suplementar é um setor em expansão no Brasil, atuando como complemento ao SUS, mas sob a fiscalização e controle do Estado. A regulação da Saúde Suplementar é realizada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS, que define normas relacionadas ao controle de preços, garantia de cobertura e direitos dos consumidores, entre outros aspectos. A integração entre os setores público e privado é importante, e o ressarcimento das operadoras de planos privados ao SUS é um aspecto relevante nessa relação. No entanto, a análise da agenda regulatória da ANS revela que a integração da saúde suplementar com o SUS não é mais um eixo de atuação da agência, o que levanta dúvidas sobre o cumprimento do papel complementar do setor privado. Além disso, o presente texto também busca analisar os objetivos estratégicos das empresas da saúde suplementar para verificar se estão alinhados com as diretrizes do Estado e a atenção integral à saúde.  Uma ressalva importante é que a Saúde Suplementar não oferece saúde em seu conceito pleno, mas sim procedimentos de saúde, o que a torna uma mercadoria. Isso evidencia a redução do papel do Estado e a ideologia neoliberal por trás desse setor. Se a saúde suplementar não cumprir seu papel de complementação ao SUS, haverá enfraquecimento do sistema de saúde brasileiro. Portanto, é necessário investigar a atuação da saúde suplementar e sua contribuição para a atenção integral à saúde no país. O presente estudo teve como objetivo analisar a atuação da saúde suplementar na complementação da atenção integral à saúde no Brasil. Os objetivos específicos da pesquisa incluíram caracterizar a responsabilidade financeira da saúde suplementar em relação ao SUS, avaliar a presença de modelos de gestão privada na esfera pública da saúde e verificar a contribuição da Saúde Suplementar na otimização da rede de atenção à saúde. Além disso, o estudo buscou analisar o papel da saúde suplementar na complementação da atenção integral à saúde no SUS, definindo responsabilidades e identificando oportunidades de sinergia. A análise proposta foi realizada através de uma revisão integrativa da literatura, que é uma metodologia que visa reunir e sintetizar os resultados de pesquisas sobre um determinado assunto, proporcionando uma visão abrangente e sistematizada do conhecimento existente. Assim, com o intuito de investigar a atuação da Saúde Suplementar na complementação da atenção integral à saúde junto ao SUS, foram definidos o fenômeno de interesse (atuação na atenção integral à saúde), a população de estudo (saúde suplementar) e o contexto (Sistema Único de Saúde). Para a busca dos estudos, foram utilizados descritores da base de dados Descritores em Ciências da Saúde – DeCS da Biblioteca Virtual em Saúde – BVS. A estratégia de busca resultou em 109 publicações, que foram analisadas quanto à relevância por meio da leitura dos títulos e resumos, excluindo duplicatas e aplicando critérios de inclusão e exclusão. Após essa análise, 12 artigos foram selecionados para compor esta revisão. A partir desses estudos, foi realizada a interpretação dos resultados e a síntese do conhecimento. O estudo foi desenvolvido em cinco etapas: formulação da pergunta norteadora, definição de critérios de seleção da amostra, avaliação crítica dos artigos selecionados, organização dos estudos em um banco de dados e interpretação dos resultados. A síntese gerada através da análise dos estudos selecionados, permitirá verificar se as empresas que compõem a saúde suplementar estão alinhadas com as diretrizes do Estado para complementação do SUS e se a integração entre os dois sistemas ocorre de forma efetiva. Os resultados deste estudo evidenciaram como a saúde suplementar atende aos objetivos do estudo. Dos 12 textos selecionados, sete deles abordaram a questão da acessibilidade ao sistema de saúde, cinco deles abordaram aspectos relacionados à gestão e quatro deles versaram sobre questões relacionadas ao financiamento do SUS e sua relação com o setor privado. Ao tratar sobre acessibilidade, aspectos relacionados ao atendimento ambulatorial e hospitalar de média complexidade foram observados, especialmente nas consequências da municipalização e lógica de contratação de serviços do setor privado pelo público. Abordando o tema gestão, os estudos criticaram as parcerias entre público e privado na gestão direta do SUS, através das organizações sociais de saúde (OSS). Já ao tratarem do financiamento, dois aspectos foram abordados: o ressarcimento ao SUS e a isenção fiscal que subsidia o sistema privado e diminui o orçamento do setor público. A regulação efetiva do setor privado, utilizada como verdadeira ferramenta de gestão, é a melhor forma de garantir a integração entre os setores. Concluiu-se que a atuação da saúde suplementar na complementação da atenção integral à saúde junto ao SUS ainda é um desafio no Brasil. É necessário um maior alinhamento entre os objetivos estratégicos das empresas desse setor e as diretrizes do Estado para o fortalecimento da atenção integral à saúde. A integração entre o setor público e o setor privado é fundamental para garantir uma atuação complementar e efetiva no sistema de saúde brasileiro e deve ser melhor regulada.","PeriodicalId":299004,"journal":{"name":"JMPHC | Journal of Management & Primary Health Care | ISSN 2179-6750","volume":"1 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2023-08-28","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"JMPHC | Journal of Management & Primary Health Care | ISSN 2179-6750","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.14295/jmphc.v15.1350","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
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Abstract

A Constituição Federal de 1988 estabelece a saúde como um direito de todos e dever do Estado, garantindo acesso universal e igualitário aos serviços de saúde. O sistema de saúde brasileiro é composto pelo setor público, representado pelo Sistema Único de Saúde – SUS, e pelo setor privado, representado pela Saúde Suplementar. O SUS é regido por leis que definem seus princípios básicos, como universalidade, integralidade, equidade, descentralização e participação social. Já a Saúde Suplementar é um setor em expansão no Brasil, atuando como complemento ao SUS, mas sob a fiscalização e controle do Estado. A regulação da Saúde Suplementar é realizada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS, que define normas relacionadas ao controle de preços, garantia de cobertura e direitos dos consumidores, entre outros aspectos. A integração entre os setores público e privado é importante, e o ressarcimento das operadoras de planos privados ao SUS é um aspecto relevante nessa relação. No entanto, a análise da agenda regulatória da ANS revela que a integração da saúde suplementar com o SUS não é mais um eixo de atuação da agência, o que levanta dúvidas sobre o cumprimento do papel complementar do setor privado. Além disso, o presente texto também busca analisar os objetivos estratégicos das empresas da saúde suplementar para verificar se estão alinhados com as diretrizes do Estado e a atenção integral à saúde.  Uma ressalva importante é que a Saúde Suplementar não oferece saúde em seu conceito pleno, mas sim procedimentos de saúde, o que a torna uma mercadoria. Isso evidencia a redução do papel do Estado e a ideologia neoliberal por trás desse setor. Se a saúde suplementar não cumprir seu papel de complementação ao SUS, haverá enfraquecimento do sistema de saúde brasileiro. Portanto, é necessário investigar a atuação da saúde suplementar e sua contribuição para a atenção integral à saúde no país. O presente estudo teve como objetivo analisar a atuação da saúde suplementar na complementação da atenção integral à saúde no Brasil. Os objetivos específicos da pesquisa incluíram caracterizar a responsabilidade financeira da saúde suplementar em relação ao SUS, avaliar a presença de modelos de gestão privada na esfera pública da saúde e verificar a contribuição da Saúde Suplementar na otimização da rede de atenção à saúde. Além disso, o estudo buscou analisar o papel da saúde suplementar na complementação da atenção integral à saúde no SUS, definindo responsabilidades e identificando oportunidades de sinergia. A análise proposta foi realizada através de uma revisão integrativa da literatura, que é uma metodologia que visa reunir e sintetizar os resultados de pesquisas sobre um determinado assunto, proporcionando uma visão abrangente e sistematizada do conhecimento existente. Assim, com o intuito de investigar a atuação da Saúde Suplementar na complementação da atenção integral à saúde junto ao SUS, foram definidos o fenômeno de interesse (atuação na atenção integral à saúde), a população de estudo (saúde suplementar) e o contexto (Sistema Único de Saúde). Para a busca dos estudos, foram utilizados descritores da base de dados Descritores em Ciências da Saúde – DeCS da Biblioteca Virtual em Saúde – BVS. A estratégia de busca resultou em 109 publicações, que foram analisadas quanto à relevância por meio da leitura dos títulos e resumos, excluindo duplicatas e aplicando critérios de inclusão e exclusão. Após essa análise, 12 artigos foram selecionados para compor esta revisão. A partir desses estudos, foi realizada a interpretação dos resultados e a síntese do conhecimento. O estudo foi desenvolvido em cinco etapas: formulação da pergunta norteadora, definição de critérios de seleção da amostra, avaliação crítica dos artigos selecionados, organização dos estudos em um banco de dados e interpretação dos resultados. A síntese gerada através da análise dos estudos selecionados, permitirá verificar se as empresas que compõem a saúde suplementar estão alinhadas com as diretrizes do Estado para complementação do SUS e se a integração entre os dois sistemas ocorre de forma efetiva. Os resultados deste estudo evidenciaram como a saúde suplementar atende aos objetivos do estudo. Dos 12 textos selecionados, sete deles abordaram a questão da acessibilidade ao sistema de saúde, cinco deles abordaram aspectos relacionados à gestão e quatro deles versaram sobre questões relacionadas ao financiamento do SUS e sua relação com o setor privado. Ao tratar sobre acessibilidade, aspectos relacionados ao atendimento ambulatorial e hospitalar de média complexidade foram observados, especialmente nas consequências da municipalização e lógica de contratação de serviços do setor privado pelo público. Abordando o tema gestão, os estudos criticaram as parcerias entre público e privado na gestão direta do SUS, através das organizações sociais de saúde (OSS). Já ao tratarem do financiamento, dois aspectos foram abordados: o ressarcimento ao SUS e a isenção fiscal que subsidia o sistema privado e diminui o orçamento do setor público. A regulação efetiva do setor privado, utilizada como verdadeira ferramenta de gestão, é a melhor forma de garantir a integração entre os setores. Concluiu-se que a atuação da saúde suplementar na complementação da atenção integral à saúde junto ao SUS ainda é um desafio no Brasil. É necessário um maior alinhamento entre os objetivos estratégicos das empresas desse setor e as diretrizes do Estado para o fortalecimento da atenção integral à saúde. A integração entre o setor público e o setor privado é fundamental para garantir uma atuação complementar e efetiva no sistema de saúde brasileiro e deve ser melhor regulada.
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补充卫生及其在补充统一卫生系统综合卫生保健方面的作用
1988年《联邦宪法》规定,健康是所有人的权利和国家的义务,确保普遍和平等地获得保健服务。巴西卫生系统由以统一卫生系统(SUS)为代表的公共部门和以补充卫生为代表的私营部门组成。单一卫生系统由确定其普遍性、完整性、公平、权力下放和社会参与等基本原则的法律管理。另一方面,补充保健是巴西一个不断扩大的部门,作为单一卫生系统的补充,但受国家监督和控制。补充保健条例由国家补充保健机构(ANS)执行,该机构规定了与价格控制、保险保障和消费者权利等方面有关的标准。公共和私营部门之间的整合是重要的,私营计划运营商对单一卫生系统的补偿是这种关系的一个相关方面。然而,对ANS监管议程的分析表明,将补充保健纳入单一卫生系统不再是该机构的行动轴心,这引起了对私营部门履行补充作用的怀疑。此外,本文还试图分析补充保健公司的战略目标,以验证它们是否符合国家指导方针和全面保健。一个重要的警告是,补充健康并不提供完整的健康概念,而是提供健康程序,这使它成为一种商品。这突出了国家角色的减少和这一部门背后的新自由主义意识形态。如果补充卫生不履行其对单一卫生系统的补充作用,巴西卫生系统就会被削弱。因此,有必要调查补充保健的作用及其对该国综合保健的贡献。本研究旨在分析补充保健在巴西综合保健补充中的作用。研究的具体目标包括描述与单一卫生系统相关的补充卫生保健的财务责任,评估公共卫生领域中存在的私人管理模式,并验证补充卫生保健对优化卫生保健网络的贡献。此外,该研究试图分析补充保健在补充单一卫生系统综合保健方面的作用,确定责任并确定协同作用的机会。提出的分析是通过综合文献综述进行的,这是一种旨在收集和综合给定主题的研究结果的方法,提供一个全面和系统的现有知识的观点。因此,为了调查补充保健在补充单一卫生系统综合保健中的作用,定义了感兴趣的现象(综合保健的作用)、研究人群(补充保健)和背景(统一卫生系统)。为了搜索研究,使用了健康科学描述符数据库- DeCS虚拟健康图书馆- vhl的描述符。搜索策略产生了109篇出版物,通过阅读标题和摘要对其相关性进行分析,排除重复,并应用纳入和排除标准。在此分析后,选取12篇文章组成本综述。在这些研究的基础上,对结果进行了解释和知识综合。本研究分五个阶段进行:制定指导问题、定义样本选择标准、对所选文章进行批判性评价、在数据库中组织研究和解释结果。通过对选定研究的分析所产生的综合将使我们能够验证组成补充医疗保健的公司是否符合国家补充单一卫生系统的指导方针,以及这两个系统之间的整合是否有效。本研究的结果显示了补充健康如何满足研究目标。在选定的12份文本中,7份涉及卫生系统的可及性问题,5份涉及与管理有关的方面,4份涉及与单一卫生系统的筹资及其与私营部门的关系有关的问题。在处理可及性问题时,观察到与中等复杂的门诊和医院护理有关的方面,特别是在市政化和公共承包私营部门服务的逻辑的后果方面。关于管理问题,这些研究批评了公共和私营部门通过社会卫生组织直接管理单一卫生系统的伙伴关系。 在融资方面,讨论了两个方面:对单一卫生系统的补偿和补贴私人系统和减少公共部门预算的免税。将私营部门的有效管制作为一种真正的管理工具,是确保各部门之间一体化的最佳途径。结论是,在巴西,补充保健作为单一卫生系统综合保健的补充仍然是一项挑战。有必要在这一部门公司的战略目标和国家加强综合保健的指导方针之间建立更大的一致性。公共部门和私营部门之间的整合对于确保巴西卫生系统的互补和有效运作至关重要,应该得到更好的监管。
本文章由计算机程序翻译,如有差异,请以英文原文为准。
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