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Abstract
O presente artigo é um exercício especulativo que parte do seguinte pressuposto: a fundamentação epistemológica da modernidade propiciou a emergência do evento Antropoceno. Embora o termo adquira ares de neutralidade, tendo sido primeiramente utilizado no âmbito das ciências ditas duras para designar a entrada em uma nova era geológica, o conceito escamoteia a cadeia de relações que ele próprio coloca em cena. Afinal, quem são os humanos que estão no cerne do Antropoceno? Ademais, tendo sido fruto, acidental ou não, do processo de modernização global, faz parte de um fenômeno maior de homogeneização de padrões e culturas. O estabelecimento de um padrão único – o homem branco ocidental – está por trás dos genocídios, epistemicídios e ecocídios que caracterizam a modernidade. Pretende-se, assim, analisar a forma como tais fenômenos (genocídios, epistemicídios e ecocídios) se entrelaçam e se amplificam com o advento do Antropoceno. Para tal, um diálogo será travado com diferentes saberes, a fim de garantir a imaginação especulativa necessária para se vislumbrar perspectivas para além do já estabelecido. Dessa maneira, o romance Solar, de Ian McEwan, será trazido para a discussão, uma vez que não somente traz como pano de fundo os efeitos da ação humana no planeta, como também tem como protagonista um cientista. A visão do homem da ciência, branco, heterossexual, europeu será o ponto de partida de nossa discussão. Afinal, pode a ciência se manter neutra em tempos de catástrofes planetárias? O presente texto, então, inscreve-se no seio de entrelaçamentos, junturas, emaranhamentos tão caros ao pensamento contemporâneo preocupado com formas menos antropocêntricas de estar no mundo.