{"title":"uberização do psicanalista e os perigos para a Psicanálise e a Escola: do amor pelo saber à paixão da ignorância","authors":"Raul Albino Pacheco Filho","doi":"10.31683/stylus.v1i45.1010","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Discutem-se os perigos, para a Psicanálise, seu discurso e a Escola: a) das constantes ameaças de regulamentação da profissão de psicanalista; b) da multiplicação de ofertas precárias pretensamente relacionadas à formação de psicanalista; c) das contratações de psicanalistas como trabalhadores prestadores de serviço por clínicas privadas, em regime de trabalho informalizado e remunerado por número de atendimentos realizados. Propõe-se que essas ameaças derivam-se do discurso capitalista, que funciona como um buraco negro exercendo força gravitacional imensa sobre qualquer formação discursiva distinta em seu raio de alcance: sugando e submetendo tudo à dominância hegemônica de sua estrutura de ordenamento de gozo. O capitalismo caracteriza-se pela aversão ao amor e ao saber, ao produzir um sujeito que: a) não se interroga sobre a fantasia de que a mercadoria dá conta do seu desejo e gozo; b) não questiona a origem da 'programação' que articula mercadorias ao objeto causa do desejo; c) desinteressa-se pelo inconsciente. \"Não quero saber nada disso\" é o norte da sua vida, guiado pela \"paixão da ignorância\". Ainda que o ofício do psicanalista seja orientado pelo amor, pelo saber e pela ética do desejo, o discurso capitalista constitui uma ameaça sempre presente de cooptação e destruição de sua ética e discurso. Regulamentar a prática psicanalítica e padronizar sua formação nos moldes de uma profissão é a via para a sua mercadorização (ou pior: para sua uberização) e para a eliminação da subversão que ela sustenta como furo: a fissura que indica que, ao capitalismo, falta um coração.","PeriodicalId":509451,"journal":{"name":"Revista de Psicanálise Stylus","volume":"18 16","pages":""},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2024-06-14","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Revista de Psicanálise Stylus","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.31683/stylus.v1i45.1010","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
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Abstract
Discutem-se os perigos, para a Psicanálise, seu discurso e a Escola: a) das constantes ameaças de regulamentação da profissão de psicanalista; b) da multiplicação de ofertas precárias pretensamente relacionadas à formação de psicanalista; c) das contratações de psicanalistas como trabalhadores prestadores de serviço por clínicas privadas, em regime de trabalho informalizado e remunerado por número de atendimentos realizados. Propõe-se que essas ameaças derivam-se do discurso capitalista, que funciona como um buraco negro exercendo força gravitacional imensa sobre qualquer formação discursiva distinta em seu raio de alcance: sugando e submetendo tudo à dominância hegemônica de sua estrutura de ordenamento de gozo. O capitalismo caracteriza-se pela aversão ao amor e ao saber, ao produzir um sujeito que: a) não se interroga sobre a fantasia de que a mercadoria dá conta do seu desejo e gozo; b) não questiona a origem da 'programação' que articula mercadorias ao objeto causa do desejo; c) desinteressa-se pelo inconsciente. "Não quero saber nada disso" é o norte da sua vida, guiado pela "paixão da ignorância". Ainda que o ofício do psicanalista seja orientado pelo amor, pelo saber e pela ética do desejo, o discurso capitalista constitui uma ameaça sempre presente de cooptação e destruição de sua ética e discurso. Regulamentar a prática psicanalítica e padronizar sua formação nos moldes de uma profissão é a via para a sua mercadorização (ou pior: para sua uberização) e para a eliminação da subversão que ela sustenta como furo: a fissura que indica que, ao capitalismo, falta um coração.