Pub Date : 2024-06-14DOI: 10.31683/stylus.v1i45.1010
Raul Albino Pacheco Filho
Discutem-se os perigos, para a Psicanálise, seu discurso e a Escola: a) das constantes ameaças de regulamentação da profissão de psicanalista; b) da multiplicação de ofertas precárias pretensamente relacionadas à formação de psicanalista; c) das contratações de psicanalistas como trabalhadores prestadores de serviço por clínicas privadas, em regime de trabalho informalizado e remunerado por número de atendimentos realizados. Propõe-se que essas ameaças derivam-se do discurso capitalista, que funciona como um buraco negro exercendo força gravitacional imensa sobre qualquer formação discursiva distinta em seu raio de alcance: sugando e submetendo tudo à dominância hegemônica de sua estrutura de ordenamento de gozo. O capitalismo caracteriza-se pela aversão ao amor e ao saber, ao produzir um sujeito que: a) não se interroga sobre a fantasia de que a mercadoria dá conta do seu desejo e gozo; b) não questiona a origem da 'programação' que articula mercadorias ao objeto causa do desejo; c) desinteressa-se pelo inconsciente. "Não quero saber nada disso" é o norte da sua vida, guiado pela "paixão da ignorância". Ainda que o ofício do psicanalista seja orientado pelo amor, pelo saber e pela ética do desejo, o discurso capitalista constitui uma ameaça sempre presente de cooptação e destruição de sua ética e discurso. Regulamentar a prática psicanalítica e padronizar sua formação nos moldes de uma profissão é a via para a sua mercadorização (ou pior: para sua uberização) e para a eliminação da subversão que ela sustenta como furo: a fissura que indica que, ao capitalismo, falta um coração.
{"title":"uberização do psicanalista e os perigos para a Psicanálise e a Escola: do amor pelo saber à paixão da ignorância","authors":"Raul Albino Pacheco Filho","doi":"10.31683/stylus.v1i45.1010","DOIUrl":"https://doi.org/10.31683/stylus.v1i45.1010","url":null,"abstract":"Discutem-se os perigos, para a Psicanálise, seu discurso e a Escola: a) das constantes ameaças de regulamentação da profissão de psicanalista; b) da multiplicação de ofertas precárias pretensamente relacionadas à formação de psicanalista; c) das contratações de psicanalistas como trabalhadores prestadores de serviço por clínicas privadas, em regime de trabalho informalizado e remunerado por número de atendimentos realizados. Propõe-se que essas ameaças derivam-se do discurso capitalista, que funciona como um buraco negro exercendo força gravitacional imensa sobre qualquer formação discursiva distinta em seu raio de alcance: sugando e submetendo tudo à dominância hegemônica de sua estrutura de ordenamento de gozo. O capitalismo caracteriza-se pela aversão ao amor e ao saber, ao produzir um sujeito que: a) não se interroga sobre a fantasia de que a mercadoria dá conta do seu desejo e gozo; b) não questiona a origem da 'programação' que articula mercadorias ao objeto causa do desejo; c) desinteressa-se pelo inconsciente. \"Não quero saber nada disso\" é o norte da sua vida, guiado pela \"paixão da ignorância\". Ainda que o ofício do psicanalista seja orientado pelo amor, pelo saber e pela ética do desejo, o discurso capitalista constitui uma ameaça sempre presente de cooptação e destruição de sua ética e discurso. Regulamentar a prática psicanalítica e padronizar sua formação nos moldes de uma profissão é a via para a sua mercadorização (ou pior: para sua uberização) e para a eliminação da subversão que ela sustenta como furo: a fissura que indica que, ao capitalismo, falta um coração.","PeriodicalId":509451,"journal":{"name":"Revista de Psicanálise Stylus","volume":"18 16","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2024-06-14","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"141342746","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2024-06-14DOI: 10.31683/stylus.v1i45.1019
Maria Célia Delgado de Carvalho
Resenha de "Os Nomes-do-Pai", última aula de Jacques Lacan na Capela do Hospital de Saint-Anne em 20 de novembro de 1963, marcando sua saída da Sociedade Francesa de Psicanálise após polêmicas e restrições desde 1959. Nesse seminário Lacan explora a relação entre angústia, desejo e o conceito de objeto a (causa de desejo). Lacan também aborda a função do Nome-do-pai e sua relação com o desejo de Deus. Ele explora como o Nome-do-Pai é crucial para lidar com a angústia primordial e conecta essa função com a estruturação do sujeito. O texto destaca a importância da angústia como um indicador de hiância essencial no ser e examina a ligação entre angústia, objeto a e desejo. Lacan também aborda o papel da transferência na psicanálise, onde a prática analítica é alcançada através do engano. Em resumo, o artigo discute a aula final de Lacan sobre "Os Nomes-do-Pai", explorando seus enlaçamentos com a angústia, o desejo e o objeto a, causa de desejo.
{"title":"Resenha de Os Nomes-do-Pai","authors":"Maria Célia Delgado de Carvalho","doi":"10.31683/stylus.v1i45.1019","DOIUrl":"https://doi.org/10.31683/stylus.v1i45.1019","url":null,"abstract":"Resenha de \"Os Nomes-do-Pai\", última aula de Jacques Lacan na Capela do Hospital de Saint-Anne em 20 de novembro de 1963, marcando sua saída da Sociedade Francesa de Psicanálise após polêmicas e restrições desde 1959. \u0000Nesse seminário Lacan explora a relação entre angústia, desejo e o conceito de objeto a (causa de desejo). \u0000Lacan também aborda a função do Nome-do-pai e sua relação com o desejo de Deus. Ele explora como o Nome-do-Pai é crucial para lidar com a angústia primordial e conecta essa função com a estruturação do sujeito. \u0000O texto destaca a importância da angústia como um indicador de hiância essencial no ser e examina a ligação entre angústia, objeto a e desejo. Lacan também aborda o papel da transferência na psicanálise, onde a prática analítica é alcançada através do engano. \u0000Em resumo, o artigo discute a aula final de Lacan sobre \"Os Nomes-do-Pai\", explorando seus enlaçamentos com a angústia, o desejo e o objeto a, causa de desejo.","PeriodicalId":509451,"journal":{"name":"Revista de Psicanálise Stylus","volume":"53 21","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2024-06-14","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"141339428","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2024-06-14DOI: 10.31683/stylus.v1i45.1020
Vera Pollo
O presente texto discorre sobre o amor na teoria e prática analíticas. Primeiramente justifica a importância do tema na atualidade. Em seguida, traz alguns desdobramentos à expressão “o demônio transferencial”. Argumenta as razões de Lacan para distinguir entre a transferência e a repetição e prossegue na elaboração da tríade amor-ódio-ignorância. Comenta algumas conotações lacanianas do amor e conclui na articulação entre amor, castração e inconsciente.
{"title":"amor e demônio transferencial","authors":"Vera Pollo","doi":"10.31683/stylus.v1i45.1020","DOIUrl":"https://doi.org/10.31683/stylus.v1i45.1020","url":null,"abstract":"\u0000 \u0000 \u0000O presente texto discorre sobre o amor na teoria e prática analíticas. Primeiramente justifica a importância do tema na atualidade. Em seguida, traz alguns desdobramentos à expressão “o demônio transferencial”. Argumenta as razões de Lacan para distinguir entre a transferência e a repetição e prossegue na elaboração da tríade amor-ódio-ignorância. Comenta algumas conotações lacanianas do amor e conclui na articulação entre amor, castração e inconsciente. \u0000 \u0000 \u0000","PeriodicalId":509451,"journal":{"name":"Revista de Psicanálise Stylus","volume":"55 48","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2024-06-14","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"141344881","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2024-06-14DOI: 10.31683/stylus.v1i45.1009
Vanusa Do Rego Barra
Uma questão circulou a Terra: Onde estão Bruno e Dom? Quando o onde foi precisado, a facticidade real, desvelou o pior, tal como aquilo que na Proposição, Lacan nomeou: terceiro ponto de fuga, demandando a sustentação da psicanálise na sua extraterritorialidade, frente aos aniquiladores processos de segregação. Krenak considera que este conflito tem na colonização seus fundamentos. E o ódio, quando se amarra à ignorância, deflagra o que Quinet concerniu como ignoródio. Neste panorama, como a Psicanálise atualizará seu Ato em direção ao real, a fim de sustentar sua práxis à altura de seu tempo e lugar?
{"title":"Tempos de ignoródio e o trabalho com povos originários no Brasil","authors":"Vanusa Do Rego Barra","doi":"10.31683/stylus.v1i45.1009","DOIUrl":"https://doi.org/10.31683/stylus.v1i45.1009","url":null,"abstract":"Uma questão circulou a Terra: Onde estão Bruno e Dom? Quando o onde foi precisado, a facticidade real, desvelou o pior, tal como aquilo que na Proposição, Lacan nomeou: terceiro ponto de fuga, demandando a sustentação da psicanálise na sua extraterritorialidade, frente aos aniquiladores processos de segregação. Krenak considera que este conflito tem na colonização seus fundamentos. E o ódio, quando se amarra à ignorância, deflagra o que Quinet concerniu como ignoródio. Neste panorama, como a Psicanálise atualizará seu Ato em direção ao real, a fim de sustentar sua práxis à altura de seu tempo e lugar?","PeriodicalId":509451,"journal":{"name":"Revista de Psicanálise Stylus","volume":"54 43","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2024-06-14","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"141344658","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2024-06-14DOI: 10.31683/stylus.v1i45.1055
Hannah Raquel Borges Pimenta de Azevedo
É de interesse do trabalho realizar uma análise multideterminada da nomenclatura histérica – conceito psicanalítico com grande repercussão teórica, compreendendo seu significado diagnóstico, sua íntima relação com o contexto da época, como se desenvolveu no cenário social e se popularizou como adjetivo feminino e estratégia de poder intimamente ligada ao questionamento da sanidade. Partindo do viés teórico, o problema de pesquisa está centrado no controle dos corpos femininos, diretamente ou sublimado pela cultura social e nas suas estratégias, que são capazes de forjar em nome dos seus interesses termos, diagnósticos médicos e o que quer que desejem. Foi possível evidenciar através da revisão de literatura a imperativa necessidade da promoção de debates sociais e científicos que questionem o local destinado e ocupado pela mulher, e a promoção de políticas públicas e ações sociais capazes de garantir direitos e proteção. Palavras-chave: histeria, feminino, estratégias de poder, sociedade.
{"title":"histéricas de hoje","authors":"Hannah Raquel Borges Pimenta de Azevedo","doi":"10.31683/stylus.v1i45.1055","DOIUrl":"https://doi.org/10.31683/stylus.v1i45.1055","url":null,"abstract":"É de interesse do trabalho realizar uma análise multideterminada da nomenclatura histérica – conceito psicanalítico com grande repercussão teórica, compreendendo seu significado diagnóstico, sua íntima relação com o contexto da época, como se desenvolveu no cenário social e se popularizou como adjetivo feminino e estratégia de poder intimamente ligada ao questionamento da sanidade. Partindo do viés teórico, o problema de pesquisa está centrado no controle dos corpos femininos, diretamente ou sublimado pela cultura social e nas suas estratégias, que são capazes de forjar em nome dos seus interesses termos, diagnósticos médicos e o que quer que desejem. Foi possível evidenciar através da revisão de literatura a imperativa necessidade da promoção de debates sociais e científicos que questionem o local destinado e ocupado pela mulher, e a promoção de políticas públicas e ações sociais capazes de garantir direitos e proteção. \u0000Palavras-chave: histeria, feminino, estratégias de poder, sociedade. ","PeriodicalId":509451,"journal":{"name":"Revista de Psicanálise Stylus","volume":"74 19","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2024-06-14","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"141338200","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2024-06-14DOI: 10.31683/stylus.v1i45.996
I. Figueiredo
Este artigo interroga os limites do corpo na clínica psicanalítica em momentos de travessia da fantasia fundamental, a qual comporta uma significação fálica e um modo de gozo. Quais efeitos esse momento crucial pode produzir no corpo do analisando? Parto da hipótese de que o fenômeno psicossomático pode sofrer um agravamento nesse atravessamento. E a direção de tratamento possível nesses casos se mostra possível através da nomeação, pela via da lógica paraconsistente, produzindo um nome, de modo contingencial, que dê conta de amarrar a angústia. Assim parece possível seguir a análise pela via da interpretação, de modo a operar com a lógica paracompleta para desamarrar, suspender a significação e abrir para a produção de novos sentidos e para o indecidível.
{"title":"limites do corpo na travessia da fantasia","authors":"I. Figueiredo","doi":"10.31683/stylus.v1i45.996","DOIUrl":"https://doi.org/10.31683/stylus.v1i45.996","url":null,"abstract":"Este artigo interroga os limites do corpo na clínica psicanalítica em momentos de travessia da fantasia fundamental, a qual comporta uma significação fálica e um modo de gozo. Quais efeitos esse momento crucial pode produzir no corpo do analisando? Parto da hipótese de que o fenômeno psicossomático pode sofrer um agravamento nesse atravessamento. E a direção de tratamento possível nesses casos se mostra possível através da nomeação, pela via da lógica paraconsistente, produzindo um nome, de modo contingencial, que dê conta de amarrar a angústia. Assim parece possível seguir a análise pela via da interpretação, de modo a operar com a lógica paracompleta para desamarrar, suspender a significação e abrir para a produção de novos sentidos e para o indecidível. ","PeriodicalId":509451,"journal":{"name":"Revista de Psicanálise Stylus","volume":"23 15","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2024-06-14","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"141340967","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2024-06-14DOI: 10.31683/stylus.v1i45.1004
Fabiana Rodrigues Barbosa, I. Estêvão
Se “a realidade é abordada com os aparelhos de gozo” (Lacan, 1972-73/2010, p. 127), e se a linguagem é um aparelho de gozo, arriscamos inferir que a linguagem poética é aparelho de gozo nãotodo[1]. Mas o que seria linguagem poética? Qual a função de abordar a realidade com esse aparelho? Se gozar nãotodamente implica evocar o grande Outro barrado, consentir com o impossível de se dizer todo; essa experiência de falha ou perda, articulada à mulher, leva a uma lógica de linguagem poética e furada, propositalmente ou não, que se borda a partir do traquejo com o Real. Para discutir a política da leitura e da escrita em psicanálise comentamos literaturas críticas de sua própria escrita, que desdobram em ato sua arte. A literatura que transcende muros e subordinações convoca o leitor a se implicar com o que passa do Isso pelo escrito. Assim como Lacan convoca cada psicanalista a reinventar a psicanálise tendo em conta o Real, a inconsistência e a feminilidade, não sem os seus outros; evocamos uma leitura-escrita nãotoda d'Ⱥ mulher que goza do equívoco. [1] A escolha pela grafia nãotodo com as duas palavras unidas representa nosso entendimento sobre essa posição ou modalidade de gozo, em que todo fálico e nãotodo fálico são intimamente articulados.
{"title":"escrita-mulher que goza do equívoco","authors":"Fabiana Rodrigues Barbosa, I. Estêvão","doi":"10.31683/stylus.v1i45.1004","DOIUrl":"https://doi.org/10.31683/stylus.v1i45.1004","url":null,"abstract":"Se “a realidade é abordada com os aparelhos de gozo” (Lacan, 1972-73/2010, p. 127), e se a linguagem é um aparelho de gozo, arriscamos inferir que a linguagem poética é aparelho de gozo nãotodo[1]. Mas o que seria linguagem poética? Qual a função de abordar a realidade com esse aparelho? Se gozar nãotodamente implica evocar o grande Outro barrado, consentir com o impossível de se dizer todo; essa experiência de falha ou perda, articulada à mulher, leva a uma lógica de linguagem poética e furada, propositalmente ou não, que se borda a partir do traquejo com o Real. Para discutir a política da leitura e da escrita em psicanálise comentamos literaturas críticas de sua própria escrita, que desdobram em ato sua arte. A literatura que transcende muros e subordinações convoca o leitor a se implicar com o que passa do Isso pelo escrito. Assim como Lacan convoca cada psicanalista a reinventar a psicanálise tendo em conta o Real, a inconsistência e a feminilidade, não sem os seus outros; evocamos uma leitura-escrita nãotoda d'Ⱥ mulher que goza do equívoco. \u0000 \u0000[1] A escolha pela grafia nãotodo com as duas palavras unidas representa nosso entendimento sobre essa posição ou modalidade de gozo, em que todo fálico e nãotodo fálico são intimamente articulados.","PeriodicalId":509451,"journal":{"name":"Revista de Psicanálise Stylus","volume":"18 5","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2024-06-14","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"141341195","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2024-06-14DOI: 10.31683/stylus.v1i45.983
P. Costa
O trabalho se propõe a investigar as articulações possíveis do amor junto a psicanálise. Não se faz outra coisa em uma análise a não ser falar sobre amor, já dizia Lacan. Para isso, se destaca a importância do amor para o fenômeno da transferência e a atenção ética que o analista deve sustentar no manejo para a condução do tratamento, pois é sabido que a transferência não vem desacompanhada de resistências. Tais questões serão debatidas a partir de recortes de um caso clínico abordando fatores como as identificações, o amor dentro de uma perspectiva especular e imaginária, que em um primeiro momento auxiliam a conjuntura transferencial. Para contribuir a discussão, será apresentado as formulações inicias a respeito do esquema óptico, com o objetivo de nos interrogar a posição do analista na transferência.
{"title":"que o amor vira quando chega o fim?","authors":"P. Costa","doi":"10.31683/stylus.v1i45.983","DOIUrl":"https://doi.org/10.31683/stylus.v1i45.983","url":null,"abstract":"O trabalho se propõe a investigar as articulações possíveis do amor junto a psicanálise. Não se faz outra coisa em uma análise a não ser falar sobre amor, já dizia Lacan. Para isso, se destaca a importância do amor para o fenômeno da transferência e a atenção ética que o analista deve sustentar no manejo para a condução do tratamento, pois é sabido que a transferência não vem desacompanhada de resistências. Tais questões serão debatidas a partir de recortes de um caso clínico abordando fatores como as identificações, o amor dentro de uma perspectiva especular e imaginária, que em um primeiro momento auxiliam a conjuntura transferencial. Para contribuir a discussão, será apresentado as formulações inicias a respeito do esquema óptico, com o objetivo de nos interrogar a posição do analista na transferência.","PeriodicalId":509451,"journal":{"name":"Revista de Psicanálise Stylus","volume":"29 4","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2024-06-14","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"141340431","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2024-06-14DOI: 10.31683/stylus.v1i45.1011
Maria Helena Martinho
Este artigo destaca duas paixões do ser – o ódio e a ignorância – e interroga as possíveis razões que têm provocado a manifestação exacerbada dessas paixões nas massas brasileiras de nossa época. A teoria de Freud sobre a massa e a teoria de Lacan sobre o ódio e a ignorância articuladas esclarecem as causas que levam as massas brasileiras a seguirem cegas de ódio e saber. O texto verifica que as massas seguem hipnotizadas, dominadas pelo discurso de ódio e pelo discurso negacionista enunciados pelo chefe de Estado brasileiro dos últimos quatro anos. A ignorância assume a face do ódio ao saber. Através da Novillíngua, idioma pobre transmitido prioritariamente nas redes sociais como modelo de ação e propaganda política, memes, slogans e fake news, que remetem a supremacia dos discursos fascistas, são disparados, os imperativos de gozo do supereu ordenam: odeie e ignore a ciência, a cultura, a intelectualidade, os pobres, os negros, os índios, as mulheres, os homossexuais. A massa afetada se identifica aos ideais do líder que influencia, engana e manipula o povo. O artigo questiona: até quando as massas brasileiras vão seguir cegas de ódio e saber, hipnotizadas, disseminando o ódio ao saber, atacando a linguagem, atingindo a dialética, promovendo uma narrativa fascista, um discurso pestilento?
{"title":"manifestação do ódio e da ignorância nas massas de nossa época","authors":"Maria Helena Martinho","doi":"10.31683/stylus.v1i45.1011","DOIUrl":"https://doi.org/10.31683/stylus.v1i45.1011","url":null,"abstract":"Este artigo destaca duas paixões do ser – o ódio e a ignorância – e interroga as possíveis razões que têm provocado a manifestação exacerbada dessas paixões nas massas brasileiras de nossa época. A teoria de Freud sobre a massa e a teoria de Lacan sobre o ódio e a ignorância articuladas esclarecem as causas que levam as massas brasileiras a seguirem cegas de ódio e saber. O texto verifica que as massas seguem hipnotizadas, dominadas pelo discurso de ódio e pelo discurso negacionista enunciados pelo chefe de Estado brasileiro dos últimos quatro anos. A ignorância assume a face do ódio ao saber. Através da Novillíngua, idioma pobre transmitido prioritariamente nas redes sociais como modelo de ação e propaganda política, memes, slogans e fake news, que remetem a supremacia dos discursos fascistas, são disparados, os imperativos de gozo do supereu ordenam: odeie e ignore a ciência, a cultura, a intelectualidade, os pobres, os negros, os índios, as mulheres, os homossexuais. A massa afetada se identifica aos ideais do líder que influencia, engana e manipula o povo. O artigo questiona: até quando as massas brasileiras vão seguir cegas de ódio e saber, hipnotizadas, disseminando o ódio ao saber, atacando a linguagem, atingindo a dialética, promovendo uma narrativa fascista, um discurso pestilento?","PeriodicalId":509451,"journal":{"name":"Revista de Psicanálise Stylus","volume":"58 38","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2024-06-14","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"141344498","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Pub Date : 2024-06-14DOI: 10.31683/stylus.v1i45.1060
Jéssica Pingarilho Batista
Este artigo tem como objetivo articular as dimensões da captura da arte, sua relação com as torções do sujeito e a maneira com que, na atualidade, a máxima da mercantilização e consumo desenfreados ancorada no discurso capitalista distorce e esvazia o fazer poético. Propõe-se uma oposição radical a esta tentativa de esvaziar o fazer subjetivo através de dispositivos tecnológicos e jogos de poder encarnados no poder aquisitivo, a partir de uma leitura e postura psicanalítica, buscando resgatar o sujeito do fazer poético, furado e dividido entre a dimensão significante, da palavra e a dimensão indizível do Real que o atravessa.
{"title":"arte como acrópole e a mercantilização da poiésis","authors":"Jéssica Pingarilho Batista","doi":"10.31683/stylus.v1i45.1060","DOIUrl":"https://doi.org/10.31683/stylus.v1i45.1060","url":null,"abstract":"Este artigo tem como objetivo articular as dimensões da captura da arte, sua relação com as torções do sujeito e a maneira com que, na atualidade, a máxima da mercantilização e consumo desenfreados ancorada no discurso capitalista distorce e esvazia o fazer poético. Propõe-se uma oposição radical a esta tentativa de esvaziar o fazer subjetivo através de dispositivos tecnológicos e jogos de poder encarnados no poder aquisitivo, a partir de uma leitura e postura psicanalítica, buscando resgatar o sujeito do fazer poético, furado e dividido entre a dimensão significante, da palavra e a dimensão indizível do Real que o atravessa.","PeriodicalId":509451,"journal":{"name":"Revista de Psicanálise Stylus","volume":"27 13","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2024-06-14","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"141340505","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}