{"title":"大流行时期的媒体科学","authors":"Rui Ramos","doi":"10.25189/2675-4916.2021.v2.n4.id598","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"É pacificamente aceite que o discurso dos media se carateriza por uma marcada heterogeneidade enunciativa, a vários níveis: na medida em que estes se constituem como espaço de confluência de múltiplas vozes; e na medida em que, em cada enunciação, outras enunciações são convocadas, de modos diversos. Cruzam-se, assim, nos media, múltiplos estatutos, competências e interesses, agendando a vida social e moldando a perceção pública das coisas e dos seus estados. Em tempos de pandemia, os media ganham relevo ampliado e o conflito de vozes a que dão espaço ganha, ele também, novas amplitudes. Nesse cenário agónico, a evocação da ciência e a criação das redes de influência entre os discursos científico, político, económico e social tornam-se sistemáticas. Revela-se portanto pertinente analisar como o discurso mediático gera e gere o conflito entre estas diversas esferas discursivas, dando corpo à sua retórica própria. O presente estudo, desenvolvido no quadro dos estudos do discurso de tradição francófona, e numa perspetiva enunciativo-pragmática, analisa um breve corpus de artigos da imprensa generalista contemporânea que abordam a gestão pública da pandemia Covid19, evocando argumentos de índole científica e decisões de índole política. Confirmam-se a expectativa do apagamento enunciativo do locutor, mas a sua presença é bem identificável; confirma-se a heterogeneidade enunciativa, e a criação de binarismos e situações extremadas; contudo, os textos em análise são mais conciliadores do que agónicos e o discurso da ciência é recontextualizado de modo a ser apreendido pelo leitor previsto.","PeriodicalId":137098,"journal":{"name":"Cadernos de Linguística","volume":"31 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2021-12-14","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":"{\"title\":\"Ciência nos media em tempo de pandemia\",\"authors\":\"Rui Ramos\",\"doi\":\"10.25189/2675-4916.2021.v2.n4.id598\",\"DOIUrl\":null,\"url\":null,\"abstract\":\"É pacificamente aceite que o discurso dos media se carateriza por uma marcada heterogeneidade enunciativa, a vários níveis: na medida em que estes se constituem como espaço de confluência de múltiplas vozes; e na medida em que, em cada enunciação, outras enunciações são convocadas, de modos diversos. Cruzam-se, assim, nos media, múltiplos estatutos, competências e interesses, agendando a vida social e moldando a perceção pública das coisas e dos seus estados. Em tempos de pandemia, os media ganham relevo ampliado e o conflito de vozes a que dão espaço ganha, ele também, novas amplitudes. Nesse cenário agónico, a evocação da ciência e a criação das redes de influência entre os discursos científico, político, económico e social tornam-se sistemáticas. Revela-se portanto pertinente analisar como o discurso mediático gera e gere o conflito entre estas diversas esferas discursivas, dando corpo à sua retórica própria. O presente estudo, desenvolvido no quadro dos estudos do discurso de tradição francófona, e numa perspetiva enunciativo-pragmática, analisa um breve corpus de artigos da imprensa generalista contemporânea que abordam a gestão pública da pandemia Covid19, evocando argumentos de índole científica e decisões de índole política. Confirmam-se a expectativa do apagamento enunciativo do locutor, mas a sua presença é bem identificável; confirma-se a heterogeneidade enunciativa, e a criação de binarismos e situações extremadas; contudo, os textos em análise são mais conciliadores do que agónicos e o discurso da ciência é recontextualizado de modo a ser apreendido pelo leitor previsto.\",\"PeriodicalId\":137098,\"journal\":{\"name\":\"Cadernos de Linguística\",\"volume\":\"31 1\",\"pages\":\"0\"},\"PeriodicalIF\":0.0000,\"publicationDate\":\"2021-12-14\",\"publicationTypes\":\"Journal Article\",\"fieldsOfStudy\":null,\"isOpenAccess\":false,\"openAccessPdf\":\"\",\"citationCount\":\"0\",\"resultStr\":null,\"platform\":\"Semanticscholar\",\"paperid\":null,\"PeriodicalName\":\"Cadernos de Linguística\",\"FirstCategoryId\":\"1085\",\"ListUrlMain\":\"https://doi.org/10.25189/2675-4916.2021.v2.n4.id598\",\"RegionNum\":0,\"RegionCategory\":null,\"ArticlePicture\":[],\"TitleCN\":null,\"AbstractTextCN\":null,\"PMCID\":null,\"EPubDate\":\"\",\"PubModel\":\"\",\"JCR\":\"\",\"JCRName\":\"\",\"Score\":null,\"Total\":0}","platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Cadernos de Linguística","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.25189/2675-4916.2021.v2.n4.id598","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
É pacificamente aceite que o discurso dos media se carateriza por uma marcada heterogeneidade enunciativa, a vários níveis: na medida em que estes se constituem como espaço de confluência de múltiplas vozes; e na medida em que, em cada enunciação, outras enunciações são convocadas, de modos diversos. Cruzam-se, assim, nos media, múltiplos estatutos, competências e interesses, agendando a vida social e moldando a perceção pública das coisas e dos seus estados. Em tempos de pandemia, os media ganham relevo ampliado e o conflito de vozes a que dão espaço ganha, ele também, novas amplitudes. Nesse cenário agónico, a evocação da ciência e a criação das redes de influência entre os discursos científico, político, económico e social tornam-se sistemáticas. Revela-se portanto pertinente analisar como o discurso mediático gera e gere o conflito entre estas diversas esferas discursivas, dando corpo à sua retórica própria. O presente estudo, desenvolvido no quadro dos estudos do discurso de tradição francófona, e numa perspetiva enunciativo-pragmática, analisa um breve corpus de artigos da imprensa generalista contemporânea que abordam a gestão pública da pandemia Covid19, evocando argumentos de índole científica e decisões de índole política. Confirmam-se a expectativa do apagamento enunciativo do locutor, mas a sua presença é bem identificável; confirma-se a heterogeneidade enunciativa, e a criação de binarismos e situações extremadas; contudo, os textos em análise são mais conciliadores do que agónicos e o discurso da ciência é recontextualizado de modo a ser apreendido pelo leitor previsto.