世界银行在2016年后向巴西卫生提供技术援助

Alessandra Ribeiro de Souza
{"title":"世界银行在2016年后向巴西卫生提供技术援助","authors":"Alessandra Ribeiro de Souza","doi":"10.14295/jmphc.v14.1250","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"O fim da Segunda Guerra Mundial foi marcado por uma conjuntura na qual os Estados Unidos emergiram como país hegemônico enquanto os países europeus, com seus territórios devastados pelas guerras, demandavam recursos para sua reestruturação. Foi nessa conjuntura, a partir dos esforços empreendidos pelos países vencedores, que foi estabelecido um arcabouço institucional multilateral com o objetivo de assegurar a estabilidade social e econômico-financeira e garantir um comércio internacional sem fronteiras. As propostas e negociações em torno do desenho dessa nova ordem econômica mundial, visando reconstruir o capitalismo ocorreram entre 1941 e 1944 culminando nos acordos de Bretton Woods. Tais acordos determinaram a adoção de um sistema de taxas de câmbio atrelada ao ouro, em um sistema administrado pelo Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento – BIRD e pelo Fundo Monetário Internacional – FMI. Em relação ao BIRD, criado inicialmente para fomentar a reconstrução dos territórios devastados pela Guerra e para promoção do desenvolvimento dos países capitalistas, ao longo da história esse organismo demonstrou uma alta capacidade de adaptação à dinâmica do capital e buscou expandir sua atuação para muito além daquelas que determinaram sua criação. Atualmente o Banco realiza fundamentalmente quatro tipos de atividade: empréstimos e créditos para projetos e políticas; aconselhamento e assistência técnica em favor de determinada agenda de políticas; pesquisa econômica especializada em todas as áreas do desenvolvimento; mobilização e articulação de agentes públicos e privados para iniciativas multilaterais globais. Ainda que os empréstimos e créditos para projetos constituam uma importante atividade desenvolvida pelo Banco, é reconhecido o empenho ao longo de sua história em se forjar como um “Banco do Conhecimento” que, através dos dados e pesquisas que mobiliza, apresenta uma agenda política e econômica sob uma aparente neutralidade utilizada para justificar e subsidiar as contrarreformas implementadas por diversos governos. Originada na década de 1940, as ações de assistência técnica e aconselhamento do Banco se sofisticaram e passaram a constituir a elaboração nacional mais importante para um determinado país. Os documentos que sistematizam a Estratégia de Parceria com o País – EPP estabelecem o nível indicativo e o tipo de assistência que o BM fornece aquele país. Em 2014, como parte das mudanças realizadas pela gestão do BM os EPPs passaram a ser usados em conjunto com um Diagnóstico Sistemático de País – DSP que é elaborado a cada nova EPP e tem como objetivo identificar os desafios e oportunidades mais importantes que um país enfrenta. De acordo com o Banco, o DSP é derivado de uma análise minuciosa e informado por consultas com uma série de partes interessadas. O primeiro DSP elaborado para o Brasil data de 2016. No âmbito desse artigo nos interessa discutir as orientações expressas nos documentos do Banco para a política de saúde brasileira no período pós 2016. Cabe ressaltar que esse marco temporal se deve pelo lançamento do DSP e documento posterior direcionado aos presidenciáveis, mas também porque entendemos que a partir do golpe que retirou da presidência Dilma teve início a implementação de um ajuste fiscal acelerado país. A análise dos EPPs elaborados pelo BM para o Brasil indicam que as propostas do Banco para a política social e, principalmente no caso brasileiro, para a saúde, têm se oposto a um modelo universal baseado na prestação gratuita pelas instâncias públicas para o conjunto da população. O argumento recorrentemente utilizado é de que o modelo é ineficiente e insustentável economicamente. Ademais, por vezes, através dos documentos, o Banco argumenta que o que ocorre é um falso universalismo, pois o sistema não asseguraria o acesso dos pobres e distribuiria os recursos de forma desigual. Intitulado “Retomando o Caminho para a Inclusão, o Crescimento e a Sustentabilidade” o DSP permanece na mesma direção e, ainda que o documento afirme que não objetivava indicar medidas a serem adotadas pelo país, as propostas de reformas são inscritas de forma contundente e é possível evidenciar a incorporação de suas indicações como propostas concretas pelo governo Temer e seu sucessor Bolsonaro. O DSP indica que a rigidez fiscal, principalmente com os gastos da seguridade social, seriam um grande problema para o país, entretanto o documento também reconhece que o Brasil gasta consideravelmente menos que países latino-americanos que possuem um PIB menor. Apesar das críticas à destinação de recursos obrigatória para a saúde pública, o Banco indicou que, enquanto o Brasil destinava 7,6% do orçamento público para essa área, a maioria dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE destinava entre 15% e 20%, o que poderia indicar a existência de espaço fiscal para ampliar as alocações do setor.  Ainda assim, o governo Temer aprovou a Proposta de Emenda à Constituição – PEC n. 55/2016 que limitou por 20 anos os gastos públicos primários e instituiu o mecanismo de controle de gastos federais condicionado à inflação acumulada. A PEC incidirá principalmente nas políticas de saúde e educação. Conforme sinalizamos o DSP tinha por objetivo indicar questões a serem aprofundadas em documentos subsequentes. Em 2018 o Banco elaborou as Notas de Políticas Públicas dirigidas à sociedade brasileira e especificamente aos candidatos à presidência e suas equipes econômicas. Um capítulo dessas notas é dedicado às reformas a serem implementadas na política de saúde. A reforma proposta pelo Banco não é uma novidade mas evidencia uma intensificação das  contrarreformas com propostas como a redução do número de hospitais de pequeno porte diante de uma suposta ineficiência; indicação de uma cooperação entre o público e o privado que além de desconsiderar a histórica disputa pelo fundo público, reforça o apoio às parcerias público privada e terceirizações cujos malefícios já estão amplamente difundidos; e a busca pela retomada de um modelo de financiamento baseado em produtividade principalmente na atenção primária que inclusive foi incorporada através do PREVINE Saúde em 2019. A análise dos documentos evidencia que o BM historicamente tem buscado o desmonte da política de saúde e que suas orientações têm sido rapidamente incorporadas pelos governos de caráter ultra neoliberal implementados após o golpe de 2016.","PeriodicalId":299004,"journal":{"name":"JMPHC | Journal of Management & Primary Health Care | ISSN 2179-6750","volume":"129-132 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2022-08-26","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":"{\"title\":\"assistência técnica do Banco Mundial para a saúde brasileira no período pós 2016\",\"authors\":\"Alessandra Ribeiro de Souza\",\"doi\":\"10.14295/jmphc.v14.1250\",\"DOIUrl\":null,\"url\":null,\"abstract\":\"O fim da Segunda Guerra Mundial foi marcado por uma conjuntura na qual os Estados Unidos emergiram como país hegemônico enquanto os países europeus, com seus territórios devastados pelas guerras, demandavam recursos para sua reestruturação. 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Em relação ao BIRD, criado inicialmente para fomentar a reconstrução dos territórios devastados pela Guerra e para promoção do desenvolvimento dos países capitalistas, ao longo da história esse organismo demonstrou uma alta capacidade de adaptação à dinâmica do capital e buscou expandir sua atuação para muito além daquelas que determinaram sua criação. Atualmente o Banco realiza fundamentalmente quatro tipos de atividade: empréstimos e créditos para projetos e políticas; aconselhamento e assistência técnica em favor de determinada agenda de políticas; pesquisa econômica especializada em todas as áreas do desenvolvimento; mobilização e articulação de agentes públicos e privados para iniciativas multilaterais globais. 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Em 2014, como parte das mudanças realizadas pela gestão do BM os EPPs passaram a ser usados em conjunto com um Diagnóstico Sistemático de País – DSP que é elaborado a cada nova EPP e tem como objetivo identificar os desafios e oportunidades mais importantes que um país enfrenta. De acordo com o Banco, o DSP é derivado de uma análise minuciosa e informado por consultas com uma série de partes interessadas. O primeiro DSP elaborado para o Brasil data de 2016. No âmbito desse artigo nos interessa discutir as orientações expressas nos documentos do Banco para a política de saúde brasileira no período pós 2016. Cabe ressaltar que esse marco temporal se deve pelo lançamento do DSP e documento posterior direcionado aos presidenciáveis, mas também porque entendemos que a partir do golpe que retirou da presidência Dilma teve início a implementação de um ajuste fiscal acelerado país. A análise dos EPPs elaborados pelo BM para o Brasil indicam que as propostas do Banco para a política social e, principalmente no caso brasileiro, para a saúde, têm se oposto a um modelo universal baseado na prestação gratuita pelas instâncias públicas para o conjunto da população. O argumento recorrentemente utilizado é de que o modelo é ineficiente e insustentável economicamente. Ademais, por vezes, através dos documentos, o Banco argumenta que o que ocorre é um falso universalismo, pois o sistema não asseguraria o acesso dos pobres e distribuiria os recursos de forma desigual. Intitulado “Retomando o Caminho para a Inclusão, o Crescimento e a Sustentabilidade” o DSP permanece na mesma direção e, ainda que o documento afirme que não objetivava indicar medidas a serem adotadas pelo país, as propostas de reformas são inscritas de forma contundente e é possível evidenciar a incorporação de suas indicações como propostas concretas pelo governo Temer e seu sucessor Bolsonaro. 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摘要

第二次世界大战结束时,美国成为霸权国家,而领土被战争摧毁的欧洲国家需要资源进行重组。正是在这种情况下,在胜国努力的基础上,建立了多边体制框架,以确保社会、经济和金融稳定,确保国际贸易无国界。1941年至1944年间,围绕世界经济新秩序的设计、重建资本主义的建议和谈判以布雷顿森林协议(Bretton Woods agreement)达到顶峰。这些协议决定采用一种与黄金挂钩的汇率制度,该制度由国际复兴开发银行(ibrd)和国际货币基金组织(imf)管理。国际复兴开发银行的关系,最初创建促进重建饱受战争蹂躏的地区和促进发展的资本主义国家,在历史上,展现出一个身体高动态适应能力的资本和试图扩大他的表现超出了他们那种创作。目前,世行主要开展四种活动:项目和政策贷款和信贷;为特定政策议程提供咨询和技术援助;所有发展领域的专门经济研究;动员和协调公共和私营行为者参与全球多边倡议。还的贷款和信贷项目是一个很重要的商业银行,被认可的努力在他的故事如果建立“知识银行”,通过数据和利用的研究,展现了一个明显的政治和经济议程的中立用以证明所实现的contrarreformas各级政府提供的补贴。从20世纪40年代开始,世行的技术援助和咨询活动变得更加复杂,成为一个国家最重要的国家发展。系统化国家伙伴关系战略(EPP)的文件确定了世界银行向该国提供的援助的指示性水平和类型。2014年,作为世行管理层实施的改革的一部分,EPPs开始与系统国家诊断(DSP)一起使用,该诊断为每个新的EPPs制定,旨在确定一个国家面临的最重要的挑战和机遇。据世行称,DSP是在与一系列利益攸关方磋商后进行彻底分析和提供信息的结果。第一个为巴西开发的DSP可以追溯到2016年。在本文中,我们有兴趣讨论世行2016年后巴西卫生政策文件中表达的指导方针。值得注意的是,这个时间框架是由于DSP的启动和随后针对总统候选人的文件,但也因为我们理解,从推翻总统迪尔玛的政变开始,国家开始实施加速财政调整。对世界银行为巴西编制的EPPs的分析表明,世界银行关于社会政策的建议,特别是在巴西的情况下,关于卫生的建议,反对基于公共机构向全体人口免费提供的普遍模式。人们经常使用的论点是,这种模式效率低下,在经济上不可持续。此外,有时通过文件,世行认为所发生的情况是错误的普遍主义,因为该系统不会确保穷人获得资源,而且资源分配不均。名为“恢复到包容,增长和可持续性”的DSP和同样的方向,还说没有文件旨在指出国家采取的建议的措施改革应当严厉的方式可能要挑战的清醒,害怕和他的继任者Bolsonaro政府具体建议。DSP指出,财政僵化,特别是在社会保障支出方面,将是巴西的一个主要问题,但该文件也承认,巴西的支出远低于gdp较低的拉丁美洲国家。尽管批评本身强制性的公共卫生资源,银行明确表示,尽管巴西公共预算的6%用于这个领域,大多数国家的经济合作与发展组织—经合组织于15%至20%之间,这可能表明存在的财政空间扩大行业的分配。
本文章由计算机程序翻译,如有差异,请以英文原文为准。
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assistência técnica do Banco Mundial para a saúde brasileira no período pós 2016
O fim da Segunda Guerra Mundial foi marcado por uma conjuntura na qual os Estados Unidos emergiram como país hegemônico enquanto os países europeus, com seus territórios devastados pelas guerras, demandavam recursos para sua reestruturação. Foi nessa conjuntura, a partir dos esforços empreendidos pelos países vencedores, que foi estabelecido um arcabouço institucional multilateral com o objetivo de assegurar a estabilidade social e econômico-financeira e garantir um comércio internacional sem fronteiras. As propostas e negociações em torno do desenho dessa nova ordem econômica mundial, visando reconstruir o capitalismo ocorreram entre 1941 e 1944 culminando nos acordos de Bretton Woods. Tais acordos determinaram a adoção de um sistema de taxas de câmbio atrelada ao ouro, em um sistema administrado pelo Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento – BIRD e pelo Fundo Monetário Internacional – FMI. Em relação ao BIRD, criado inicialmente para fomentar a reconstrução dos territórios devastados pela Guerra e para promoção do desenvolvimento dos países capitalistas, ao longo da história esse organismo demonstrou uma alta capacidade de adaptação à dinâmica do capital e buscou expandir sua atuação para muito além daquelas que determinaram sua criação. Atualmente o Banco realiza fundamentalmente quatro tipos de atividade: empréstimos e créditos para projetos e políticas; aconselhamento e assistência técnica em favor de determinada agenda de políticas; pesquisa econômica especializada em todas as áreas do desenvolvimento; mobilização e articulação de agentes públicos e privados para iniciativas multilaterais globais. Ainda que os empréstimos e créditos para projetos constituam uma importante atividade desenvolvida pelo Banco, é reconhecido o empenho ao longo de sua história em se forjar como um “Banco do Conhecimento” que, através dos dados e pesquisas que mobiliza, apresenta uma agenda política e econômica sob uma aparente neutralidade utilizada para justificar e subsidiar as contrarreformas implementadas por diversos governos. Originada na década de 1940, as ações de assistência técnica e aconselhamento do Banco se sofisticaram e passaram a constituir a elaboração nacional mais importante para um determinado país. Os documentos que sistematizam a Estratégia de Parceria com o País – EPP estabelecem o nível indicativo e o tipo de assistência que o BM fornece aquele país. Em 2014, como parte das mudanças realizadas pela gestão do BM os EPPs passaram a ser usados em conjunto com um Diagnóstico Sistemático de País – DSP que é elaborado a cada nova EPP e tem como objetivo identificar os desafios e oportunidades mais importantes que um país enfrenta. De acordo com o Banco, o DSP é derivado de uma análise minuciosa e informado por consultas com uma série de partes interessadas. O primeiro DSP elaborado para o Brasil data de 2016. No âmbito desse artigo nos interessa discutir as orientações expressas nos documentos do Banco para a política de saúde brasileira no período pós 2016. Cabe ressaltar que esse marco temporal se deve pelo lançamento do DSP e documento posterior direcionado aos presidenciáveis, mas também porque entendemos que a partir do golpe que retirou da presidência Dilma teve início a implementação de um ajuste fiscal acelerado país. A análise dos EPPs elaborados pelo BM para o Brasil indicam que as propostas do Banco para a política social e, principalmente no caso brasileiro, para a saúde, têm se oposto a um modelo universal baseado na prestação gratuita pelas instâncias públicas para o conjunto da população. O argumento recorrentemente utilizado é de que o modelo é ineficiente e insustentável economicamente. Ademais, por vezes, através dos documentos, o Banco argumenta que o que ocorre é um falso universalismo, pois o sistema não asseguraria o acesso dos pobres e distribuiria os recursos de forma desigual. Intitulado “Retomando o Caminho para a Inclusão, o Crescimento e a Sustentabilidade” o DSP permanece na mesma direção e, ainda que o documento afirme que não objetivava indicar medidas a serem adotadas pelo país, as propostas de reformas são inscritas de forma contundente e é possível evidenciar a incorporação de suas indicações como propostas concretas pelo governo Temer e seu sucessor Bolsonaro. O DSP indica que a rigidez fiscal, principalmente com os gastos da seguridade social, seriam um grande problema para o país, entretanto o documento também reconhece que o Brasil gasta consideravelmente menos que países latino-americanos que possuem um PIB menor. Apesar das críticas à destinação de recursos obrigatória para a saúde pública, o Banco indicou que, enquanto o Brasil destinava 7,6% do orçamento público para essa área, a maioria dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE destinava entre 15% e 20%, o que poderia indicar a existência de espaço fiscal para ampliar as alocações do setor.  Ainda assim, o governo Temer aprovou a Proposta de Emenda à Constituição – PEC n. 55/2016 que limitou por 20 anos os gastos públicos primários e instituiu o mecanismo de controle de gastos federais condicionado à inflação acumulada. A PEC incidirá principalmente nas políticas de saúde e educação. Conforme sinalizamos o DSP tinha por objetivo indicar questões a serem aprofundadas em documentos subsequentes. Em 2018 o Banco elaborou as Notas de Políticas Públicas dirigidas à sociedade brasileira e especificamente aos candidatos à presidência e suas equipes econômicas. Um capítulo dessas notas é dedicado às reformas a serem implementadas na política de saúde. A reforma proposta pelo Banco não é uma novidade mas evidencia uma intensificação das  contrarreformas com propostas como a redução do número de hospitais de pequeno porte diante de uma suposta ineficiência; indicação de uma cooperação entre o público e o privado que além de desconsiderar a histórica disputa pelo fundo público, reforça o apoio às parcerias público privada e terceirizações cujos malefícios já estão amplamente difundidos; e a busca pela retomada de um modelo de financiamento baseado em produtividade principalmente na atenção primária que inclusive foi incorporada através do PREVINE Saúde em 2019. A análise dos documentos evidencia que o BM historicamente tem buscado o desmonte da política de saúde e que suas orientações têm sido rapidamente incorporadas pelos governos de caráter ultra neoliberal implementados após o golpe de 2016.
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